ROSANA HESSEL
O Brasil tem sido o país mais lento do que a maioria dos países da América Latina em tomar medidas para conter a disseminação da Covid-19, pandemia provocada pelo novo coronavírus, na avaliação de analistas da Capital Economics. Eles criticam o comportamento do presidente Jair Bolsonaro. Eles citam os atritos com o Congresso e governadores e reforçam o alerta de que a recessão na região terá queda tão acentuada quanto a da crise financeira globa e a crise da dívida do início da década de 1980.
“Bolsonaro é um ponto fora da curva”, afirmou o relatório da equipe liderada William Jackson, economista-chefe para mercados emergentes da consultoria Capital Economics. Ele criticou a demora do governo em tomar medidas para minimizar os impactos da crise que está se formando em relação aos países vizinhos.
Mas o presidente não para de criar polêmicas, e para piorar, nesta sexta-feira (23/03), convocou em vídeo institucional divulgado nas redes sociais a quebra da quarentena nos estados, na contramão das recomendações da Organização Mundial da Saúde (OMS).
“Bolsonaro subestimou os riscos à saúde representados pelo vírus e está mais preocupado com o dano econômico que essas medidas possam causar”, escreveu o analista em relatório enviado aos clientes onde elogia as medidas anunciadas pelo Banco Central do Brasil para dar liquidez ao mercado financeiro. “O BC fez a maior parte do trabalho para combater os efeitos econômicos, mas a declaração foi surpreendentemente cautelosa”, disse ele, apostando em mais uma corte de 0,50 ponto percentual na taxa básica de juros (Selic), em maio, para 3,25% ao ano.
Na avaliação dos analistas da Capital, o Brasil tem sido muito mais lento que a maioria dos outros países da região para tomar medidas para conter a disseminação do vírus. Algumas cidades e estados mudaram para bloquear áreas.
A previsão da Capital Economics é de queda de 1,5% no Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil neste ano. A consultoria foi uma das primeiras a prever PIB negativo para o país além de estimar queda forte no PIB da China, estimando alta de 2% de crescimento na economia devido ao coronavírus.
A pandemia está levando o mundo à uma recessão profunda neste ano, na avaliação de especialistas. Em entrevista nesta sexta-feira, a diretora-gerente do Fundo Monetário Internacional (FMI), Kristalina Georgieva, afirmou que 80 países já pediram socorro ao organismo multilateral. “Está claro que entramos em uma recessão” que será pior do que em 2009 após a crise financeira global, disse o chefe do FMI em uma entrevista coletiva virtual.
Devido à parada na atividade econômica, a estimativa conservadora do Fundo é que os mercados emergentes precisarão de um socorro de US$ 2,5 trilhões (R$ 12,5 trilhões).