Bolsonaro derruba a Bolsa ao admitir análise da volta da CPMF

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ROSANA HESSEL

INGRID SOARES

O presidente Jair Bolsonaro mostrou, nesta segunda-feira (16/12),  que pode ter terminado a lua de mel com o mercado e vai ter que pensar bem no que fala daqui para frente.  Com uma única frase, ele foi capaz de fazer com que a Bolsa de Valores de São Paulo (B3) encerrasse o dia no vermelho, mesmo após o Índice Bovespa, principal indicador do mercado acionário brasileiro, ter ensaiado um novo recorde, de 113 mil pontos. Essa queda aconteceu devido às declarações de Bolsonaro admitindo a volta de um imposto sobre transações financeiras, semelhante à Contribuição Provisória sobre Movimentação Financeira (CPMF). A notícia deixou agentes operadores que andavam ignorando as falas polêmicas dos presidente, nervosos.

“Todas as alternativas estão na mesa”, afirmou o chefe do Executivo a jornalistas, após uma reunião com o ministro da Infraestrutura, Tarcício Freitas. Nem mesmo sinais positivos de que o risco país continua em torno de 100 pontos para os contratos de CDS (Credit Default Swap) de cinco anos, foram suficientes para conter a derrocada da Bolsa. No fim da tarde, a B3 caiu quase 0,6% e ficou abaixo de 112 mil pontos. Encerrou a 118.896 pontos, com ações de instituições financeiras e da Petrobras liderando as baixas.

O porta-voz da República, Otávio Rêgo Barros, tentou aparar as arestas e jogar água na fervura ao afirmar que não é possível afirmar se eventual nova CPMF pode avançar. “O presidente reconhece que o trabalho desencadeado pelo ministério da Economia vem colocando o país na trilha da pujança. Essas questões muito técnicas, incluindo CPMF ou coisa que o valha, ainda não está no escantilhão do próprio presidente. Eventualmente, pode estar sendo analisado pelo Ministério da Economia, mas não temos dados nem referências mais objetivas para afiançar se isso vai adiante ou não”, afirmou ele, após o fechamento dos mercados.

Procurado, o Ministério da Economia, não comentou o assunto. “A Bolsa caiu com a notícia de que o presidente ia analisar a CPMF. Depois, o porta-voz recuou, dizendo que é possível e que a análise é do (ministro da Economia) Paulo Guedes e não do presidente”, comentou um operador da B3, que admite que, daqui para frente, a volatilidade tende a aumentar. Para ele, que confessou estar mudando posição na Bolsa, vai ser difícil prever se o mercado, amanhã, engoliu a explicação de Rêgo Barros.

Vale lembrar que a possibilidade da volta da CPMF já causou turbulências no governo ao ponto de o então secretário especial da Receita Federal, Marcos Cintra, principal defensor da ideia, ser demitido em setembro para conter os ânimos do Congresso para os parlamentares aprovarem a reforma da Previdência. Se o presidente quer avançar com novas reformas no ano que vem, vai ser difícil ele conseguir negociar uma agenda com propostas que o mercado quer ver se insistir com a CPMF, principalmente, em um ano eleitoral, ou seja, quando não espaço algum para uma pauta impopular como aumento de imposto. A ex-presidente Dilma Rousseff, antes do impeachment, chegou a ensaiar uma volta da CPMF, sem sucesso, para tentar reequilibrar as contas públicas.

Vicente Nunes