Bolsa desaba 3,6% e dólar encosta nos R$ 4 com governo em crise

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Crédito: Anderson Araújo/CB/D.A Press

GABRIEL PONTE

Com o governo dando sinais fortes de fragilidade, o que pode comprometer o projeto de reforma da Previdência, a Bolsa de Valores de São Paulo (B3) desabou nesta quarta-feira, 27 de março, e o dólar disparou. Como bem definiu um operador, foi um dia para esquecer.

O Ibovespa, índice que mede a lucratividade das ações mais negociadas no pregão paulista, cedeu aos 91.903 pontos, com perdas de 3,57%. Foi o segundo pior resultado desde a greve dos caminhoneiros, em maio do ano passado. Os analistas preveem novas quedas, caso o governo não consiga se entender com o Congresso.

Os mesmos investidores que empurraram a Bolsa ladeira abaixo jogaram o dólar para cima. A moeda norte-americana encostou nos R$ 4, dando o tom do tamanho da desconfiança em relação aos rumos da reforma da Previdência. Eles ficaram ainda mais assustados depois da derrota do governo com a aprovação, pelo Congresso, do Orçamento Impositivo.

A divisa estrangeira encerrou os negócios em alta acentuada de 2,25%, sendo negociada a R$ 3,955 para a venda. Durante o pregão, a moeda alcançou os R$ 3,96 e deve continuar apontando para cima. Foi o maior valor de fechamento desde 1º de outubro de 2018 (R$ 4,017).

A queda da Bolsa e a alta do dólar se acentuaram durante o depoimento do ministro da Economia, Paulo Guedes, na Comissão de Assuntos Econômicos (CAE) do Senado. Ele deixou claro a disposição de sair do governo se os projetos de ajuste fiscal, entre eles, a reforma da Previdência, não andarem e o Legislativo insistir em pautas-bomba, como o Orçamento Impositivo.

Exterior

Além da conjuntura doméstica nada animadora, contribuíram para a aversão ao risco o cenário cauteloso no mercado internacional, em meio às declarações de Theresa May, primeira-ministra britânica, acerca do Brexit, e o discurso do presidente do Banco Central Europeu (BCE), Mario Draghi, sobre a política monetária a ser conduzida na Zona do Euro. Agentes econômicos também se preocupam, com a inversão da curva de juros dos treasuries (títulos do Tesouro dos EUA), um indicativo de recessão.

Na visão de Ivo Chermont, economista-chefe da Quantitas Asset, o dia foi marcado pela ‘tempestade perfeita’ advinha dos cenários externos e internos. “É difícil separar os fatores exteriores dos domésticos. Foi um pouco dos dois. Dados fracos da economia norte-americana, assim como a inversão da curva de juros, levantam questionamentos sobre uma possível recessão nos EUA. Isso eleva a corrida para qualidade para economias consolidadas. Nesse cenário, o investidor tende a retirar dinheiro de países arriscados (como o Brasil)”, explica.

Segundo Chermont, o investidor também não reagiu bem à nova derrota do governo no Congresso. “Isso atrapalha. Tende a mostrar uma desorganização do governo, com falta de pulso no que tange à agenda política. Enquanto a cúpula política não se organizar, o mercado continua a estressar, diante da incerteza”, diz.

Para Reginaldo Galhardo, gerente de Câmbio da Treviso Corretora, o estresse do dólar é justificado pela agenda política do governo. “O lado interno não ajudou. A derrota do governo, além de mostrar a força do Congresso, mostrou aos investidores o descompasso entre os parlamentares e o discurso da equipe econômica”, afirma.

No entender do analista, isso deixa os investidores preocupados, o que os incentiva a irem atrás de mais segurança, como o dólar, o que explica a forte alta da moeda. De acordo com Galhardo, a aprovação da PEC do Orçamento Impositivo, que limita, ainda mais, o poder do governo de manejar os gastos públicas, representa um “cabo de guerra”. “Isso engessa o governo”.

Brasília, 18h10min

Vicente Nunes