ROSANA HESSEL
Um dia após o ato terrorista em Brasília, praticado por apoiadores golpistas do presidente Jair Bolsonaro (PL), a Bolsa de Valores de São Paulo (B3), iniciou o pregão desta segunda-feira (9/1), em queda, confirmando a previsão de analistas ouvidos pelo Correio.
O Índice Bovespa (IBovespa), principal indicador da B3, recuava 0,65%, a 108.256 pontos, às 10h15. Poucos minutos depois, apresentava oscilações, reduzindo as perdas e operando perto da estabilidade por volta das 10h30, mas com viés negativo. Enquanto isso, as bolsas europeias e asiáticas registravam ganhos. Frankfurt, por exemplo, avançava 0,70% e Shangai, 0,58%. Já o dólar subia, refletindo a aversão ao risco dos investidores e era cotado a R$ 5,28, com alta de 0,82%.
Pouco antes da abertura, o IBovespa futuro registrava perda de 0,62% e os recibos de ações de empresas brasileiras negociadas em Nova York, as ADRs (American Depositary Receipt), registravam baixa mnos preços dos ativos. Os ADRs das ações ordinárias (com direito a voto) da Petrobras, por exemplo, recuavam 1,07%, em dia em que os preços do barril do petróleo registrava alta. Já o fundo atrelado à Bolsa brasileira, o EWZ, desabava 2,4% em Wall Street.
Na tarde de ontem, criminosos bolsonaristas, escoltados pela Polícia Militar do Distrito Federal, transformaram Brasília em uma versão tupiniquim da invasão do Capitólio, nos Estados Unidos, ocorrida em 6 de janeiro de 2021. Invadiram, destruíram, saquearam, sem resistência dos policiais responsáveis pela proteção do patrimônio público, as sedes do Palácio do Planalto, do Congresso Nacional e do Supremo Tribunal Federal, na Praça dos Três Poderes.
Os prejuízos ainda estão sendo levantados, mas além da destruição de janelas e mobiliários, obras de arte foram roubadas e danificadas. De acordo com as autoridades, 1,2 mil vândalos foram presos, por enquanto.
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) decretou, ontem, intervenção federal na capital do país e o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre Moraes determinou o afastamento do governador do Distrito Federal, Ibaneis Rocha (MDB), por 90 dias.
De acordo com Eduardo Velho, economista-chefe da gestora JF Trust, a despeito do mercado externo “relativamente calmo”, o dólar abriu o dia com viés de alta após a turbulência em Brasília e a tendência é de piora nas expectativas de juros e da inflação. “Esperamos um viés de alta dos juros futuros do DI nessa segunda, não somente pelo ‘day after’ dos
ataques em Brasília, mas com nova piora das projeções da inflação de 2023-2024 e ajuste técnico para cima dos juros das treasuires no exterior”, afirmou. Velho manteve a estimativa superior do Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), de 6,34%, em 2023, e de 4,22% em 2024.. “A inflação mudará de patamar, para uma taxa de 0,4% a 0,5% ao mês e com instabilidade política pós domingo, as taxas de juros futuros deve apresentar contexto de alta nessa segunda”, acrescentou.
O adiamento do Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS) até março, lembrou o analista, fez com que a mediana das estimativas do mercado para o IPCA neste ano passasse de 5,31% para 5,36%. “A despeito dos ataques políticos em Brasília, não esperamos deterioração acentuada dos preços dos mercados, pois de fato, não ocorreu quebra estrutural institucional de qualquer poder e já ocorreu reação do governo federal. O foco a partir de terça-feira em diante, será o discurso do ‘ajuste fiscal’ do ministro da Fazenda, Fernando Haddad, que deve priorizar os cortes de subsídios, mas há dúvidas se a proposta de uma nova regra fiscal de estabilização da dívida púbica já seria um consenso ou já passaria também pelo aval do mercado, que vai retornar a dar importância à divulgação dos resultados mensal do resultado fiscal primário”, complementou.