BNP piora projeção para o PIB brasileiro e prevê estouro da meta fiscal

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ROSANA HESSEL

O banco francês BNP Paribas piorou as projeções de crescimento do Brasil neste ano, na comparação com o último relatório trimestral, de dezembro de 2020. A instituição ainda prevê um deficit primário nas contas públicas maior do que o estimado pelo governo, devido ao agravamento da pandemia no país, que bate recordes de contágio e de mortes por covid-19, sinalizando estouro da meta fiscal prevista para este ano.

De acordo com o economista-chefe do BNP para a América Latina, Gustavo Arruda, o rombo das contas públicas do governo brasileiro deverá chegar a 4,5% do Produto Interno Bruto (PIB). “Estamos considerando um gasto maior do que o previsto no Orçamento, porque a pandemia está sendo pior e, portanto, os gastos serão maiores”, afirmou o analista, nesta terça-feira (13/04), durante videoconferência com jornalistas para comentar o novo relatório com perspectivas globais.

A Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO) de 2021, aprovada no fim do ano passado, estipulou como meta fiscal para as contas do governo federal um deficit primário de até 3,16% do PIB, o equivalente a R$ 247,1 bilhões. Se o rombo for maior, o governo precisará alterar essa meta para não cometer crime de responsabilidade fiscal.

Arruda reconheceu ainda que os ruídos políticos em relação ao Orçamento de 2021 — que ainda não foi sancionado pelo presidente Jair Bolsonaro, que tem até o dia 22 para definir essa questão –, “atrapalham o investidor”. Contudo, acrescentou que as novas projeções do BNP não devem ser alteradas por essa confusão “recente e temporária” entre o governo e o Congresso.

O economista destacou que o endividamento público do país deverá permanecer elevado, com a dívida pública bruta brasileira permanecendo em torno de 90% do PIB por um período prolongado. “A  dívida vai se estabilizar nesse patamar por muito tempo e o debate sobre o que fazer com uma dívida desse tamanho será contínuo”, alertou.

PIB menor

Conforme as novas projeções do banco francês, o PIB do Brasil, neste ano, deverá crescer 2,5% em vez de 3% anteriormente previsto no relatório anterior, de dezembro de 2020. A nova projeção da instituição é mais pessimista do que a estimativa do governo de avanço de 3,2%.

De acordo com Arruda, no primeiro semestre de 2021, por conta do atraso na vacinação e do agravamento da pandemia, o país vai entrar em uma recessão técnica (quando há dois trimestres consecutivos de queda), em linha com a maioria das estimativas do mercado.  A instituição prevê quedas de 0,5%, no primeiro trimestre, e 1,3%, no segundo trimestre. “O segundo semestre será melhor, com avanço na vacinação e início da recuperação da atividade que vai se estender ao longo de 2022”, apostou.

Para 2022, a previsão do banco para o PIB brasileiro foi mantida em 3%. Arruda, contudo, reconheceu que essas projeções da instituição para o PIB brasileiro estão mais otimistas do que o mercado, porque o banco melhorou as projeções do mercado global e o Brasil poderá ser beneficiado com a perspectiva de expansão maior da economia global. O economista reconheceu que o Brasil tem problemas estruturais que precisam ser atacados, como o custo elevado da mão de obra e a carga tributária, “para o país voltar a ser competitivo” e apresentar taxas de crescimento mais robustas.

Abaixo de média

Assim como as previsões recentes do Fundo Monetário Internacional (FMI), as taxas de crescimento do Brasil estimadas pelo BNP, estão abaixo da média global e da América Latina O banco francês prevê que o PIB latino-americano deverá avançar 6,2%, neste ano, e 3,7%, no ano que vem. Já o  PIB global deverá crescer 6,1%, neste ano, e 4,4%, em 2022 pelas novas previsões do BNP. Antes, as projeções para a economia mundial eram de avanços de 5,6% e 4,0%, respectivamente.

Essas mudanças do PIB global tiveram influência do impulso que os pacotes fiscais dos países desenvolvidos devem provocar na economia global, principalmente, dos Estados Unidos e da Europa, que devem apresentar uma retomada bem expressiva neste ano e no ano que vem, segundo Arruda.

O banco francês, de acordo com o economista, está bastante otimista com o avanço da vacinação global, o PIB dos EUA deve avançar 6,9%, neste ano,  e 4,7%, em 2022. A Zona do Euro, por sua vez, terá expansão de 4,2% e 5%, na mesma base de comparação. A China, por sua vez, deverá crescer 9,2% neste ano, e 5,3%, em 2022. E a Índia, 12,5% e 4,1%, respectivamente.

Vicente Nunes