ROSANA HESSEL
Apesar de prever taxa positiva para o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro, o diretor de pesquisas para a América Latina do BNP Paribas no Brasil, Guilherme Arruda, reconhece que existem riscos de o país entrar em recessão em um cenário eleitoral mais conturbado.
Por enquanto, BNP Paribas prevê o PIB desacelerando de 4,5%, neste ano, para 0,5%, no ano que vem, Segundo ele, a safra agrícola e um melhor desemprenho do PIB global devem ajudar o PIB brasileiro a não ficar no campo negativo, mas a inflação elevada, os juros altos e uma eleição polarizada podem contribuir para que o crescimento não ocorra. “O risco é para baixo e não para cima”, disse Arruda, nesta terça-feira (14/12), em videoconferência para jornalistas.
A expectativa do banco francês é de continuidade de alta da taxa básica de juros (Selic), atualmente em 9,25%, até 12%, no início de 2022, patamar que deverá ser mantido até dezembro. A inflação oficial deste ano, medida pelo Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), deverá encerrar 2022 acima do teto da meta de 5% após estourar o teto de 5,25% neste ano, passando de 10,2% para 5,5%, devido à inércia inflacionária deste ano.
“A inflação vai cair, mas vai demorar. Ela deve se manter acima de 8% até junho ou julho e pode gerar mais inércia. O salário mínimo vai ser corrigido acima de 10% no ano que vem também deve gerar riscos para dinâmica inflacionária. A inflação só volta para a banda da meta em 2023. Isso não é coisa para 2022”, afirmou Arruda.
O economista do BNP também lembrou que os riscos em relação às eleições são elevados. “Tudo indica que as eleições serão muito polarizadas. E isso gera incerteza e prêmio de risco sobre o que os fundamentos econômicos indicam. A eleição é em outubro, mas essa volatilidade está ocorrendo desde este ano”, alertou.
Arruda prevê que, por conta dessas incertezas na política e da mudança da política monetária dos Estados Unidos, o dólar continuará valorizado, em torno de R$ 5,60 no fim de 2022, mas a divisa norte-americana poderá ficar entre R$ 5,80 e R$ 5,90, no meio do ano que vem, após o Federal Reserve iniciar o aumento dos juros, provavelmente, em junho.
Conforme dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o PIB do terceiro trimestre registrou queda 0,1%, e, após recuar 0,4% no segundo trimestre, o país já está em recessão técnica — quando há queda do PIB em dois trimestres consecutivos. A mediana das previsões do mercado para o PIB deste ano é revisada para baixo há nove semanas e, atualmente, está em 4,65%. E, para 2022, a mediana da taxa de crescimento do PIB que está caindo há 10 semanas consecutivas passou para 0,5%, em linha com as estimativas do BNP.