A BELEZA DA DEMOCRACIA

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O Brasil sairá, neste domingo, às ruas para protestar, movimento extremamente legítimo numa democracia. O fato de se ter posições diferentes não significa que o outro lado deve ser visto como inimigo. Em vez do confronto, é preciso celebrar a oportunidade de se expressar livremente o que se pensa. Brigas só enfraquecem as posições. As ruas devem servir para explicitar às classes políticas as nossas insatisfações e alertar que ninguém se contenta mais com discursos vazios e propagandas enganosas. As conquistas dos últimos anos permitiram ao país um amadurecimento político louvável.

 

Todos reconhecem que o momento pelo qual passamos é assustador. Do ponto de vista econômico, vivemos a maior recessão em quase 90 anos. Desde 1930 e 1931, quando o mundo estava mergulhado na depressão, não víamos dois anos seguidos de queda do Produto Interno Bruto (PIB). Entre 2015 e 2016, a contração acumulada da atividade será superior a 8%. Com isso, o emprego evaporou. Somente no ano passado, foram fechadas mais de 1,5 milhão de vagas com carteira assinada. Neste ano, pelo menos 2 milhões de pessoas devem ficar sem trabalho.

 

O economista Maurício Molan, do Banco Santander, vê o desemprego em escalada. Ele ressalta que, na próxima terça-feira, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) divulgará o resultado da Pnad Contínua do último trimestre de 2015. A taxa de desocupação, nas contas dele, deve bater em 8,9% ante os 6,5% observados no mesmo período do ano anterior. Até o fim de 2016, o índice poderá saltar para 12,8%. Cada ponto percentual de aumento na Pnad significa cerca de 1 milhão a mais de desempregados por todo o país.

 

A destruição em massa do emprego, certamente, tende a aguçar as cobranças dos brasileiros que forem às ruas neste domingo, assim com a inflação alta. Os índices acima de 10% ao ano destruíram o poder de compra das famílias. Muitas estão sendo obrigadas a abrir mão de conquistas importantes, como planos de saúde, escola particular e viagens. Nos casos mais extremos, produtos básicos estão sendo retirados do carrinho do supermercado. As projeções apontam que, em 2015, quase 4 milhões de pessoas que haviam ascendido socialmente voltaram para a pobreza. Por isso, a insatisfação é generalizada.

 

Impeachment

 

Nas manifestações de junho de 2013, os políticos foram atropelados pelas cobranças por serviços públicos melhores e pela defesa do impeachment da presidente Dilma Rousseff. A maioria deles não estava preparada para a força demonstrada pelas ruas. Neste domingo, veremos se as manifestações se manterão à frente ou se será a vez de os políticos atropelarem as ruas. Há um claro movimento no Congresso para que o processo de impedimento de Dilma seja levado adiante. Mas ainda não se percebe, por parte da opinião pública, um consenso em torno do assunto.

 

Isso só reforça a necessidade de cautela. Não se pode discutir a deposição de um governo sem que a sociedade tenha uma posição firme sobre o tema. As crises ética, política e econômica são gigantes. Mas elas só serão resolvidas de forma democrática. Um país que deu tantas demonstrações de maturidade nos últimos tempos tem instrumentos de sobra para escolher seu destino. As forças políticas representam o povo, não interesses pessoais movidos a vinganças mesquinhas. Caberá ao governo respeitar o que deseja a maioria.

 

Dilma foi eleita democraticamente. Como ela bem ressalta, seu mandato representa a decisão da maioria da população. Ela sabe que cometeu muitos erros, que levaram o Brasil para a beira do precipício. Terá, portanto, que arcar com as consequências. Nada do que for decidido pela maioria poderá ser visto como golpe. Da mesma forma que o grosso do eleitorado a colocou no Palácio do Planalto por duas vezes poderá tirá-la. É do jogo democrático. Que as ruas possam guiar o país pela trilha do reequilíbrio.

 

Brasília, 08h30min