BC VÊ QUEDA DO PIB EM 2015

Compartilhe

O Banco Central já admite, internamente, que o Produto Interno Bruto (PIB) deste ano registrará queda, para desespero do Palácio do Planalto. Auxiliares do presidente da instituição, Alexandre Tombini, que monitoram os indicadores da atividade econômica, asseguram que os números estão ruins e vão piorar muito nos próximos meses. Mesmo assim, o BC manterá o aperto monetário, com mais uma alta de pelo menos 0,25 ponto percentual na taxa básica de juros (Selic) na reunião de março do Comitê de Política Monetária (Copom).

A palavra que mais se ouviu nos últimos dias nos corredores do BC foi cautela. Todas as pessoas que transitaram pelo alto escalão do banco ficaram convencidas de que não há como o Copom pesar demais a mão da Selic, com a economia indo para o buraco. A taxa está em 12,25% ao ano, um nível elevadíssimo quando se olha para o restante do mundo. Nesse contexto, os diretores da autoridade monetária reconhecem que os juros só subirão mais por uma única razão: a necessidade de resgatar a credibilidade da política monetária.

Para os diretores do BC, é preciso ficar atento: se a inflação vai piorar muito neste primeiro trimestre, atingindo até 7,4% no acumulado de 12 meses, o estrago na atividade será muito maior. Por isso, a necessidade de cautela. “A prioridade do Copom neste momento é combater os choques de oferta. Essa é a nossa primeira batalha. Há uma disseminação de reajustes, sobretudo das tarifas públicas, que contaminarão os demais preços da economia”, explicou, a interlocutores, um dos auxiliares mais próximos de Tombini. “E vamos fazê-lo, mesmo com a atividade em contração”, emendou, com a ressalva de que a maior parte do aperto monetário já foi executada. A meta é ver a inflação cedendo a partir do segundo semestre.

No quadro traçado pelo BC, tudo jogará contra o ritmo da atividade neste ano. O arrocho fiscal prometido pelo ministro da Fazenda, Joaquim Levy, dentro do projeto de reconstrução da confiança em relação ao governo, deverá retirar quase R$ 100 bilhões da economia. Do lado parafiscal, a Taxa de Juros de Longo Prazo (TJLP) continuará aumentando, reduzindo os subsídios hoje bancados pelo Tesouro Nacional. Também o Programa de Sustentação do Investimento (PSI), voltado para a indústria, receberá menos recursos públicos.

Do lado das famílias, o forte aumento das tarifas comerá parte importante dos salários. O crédito, que poderia funcionar como complemento aos rendimentos dos lares, está mais caro e escasso. Para completar, o desemprego está a caminho, e não será pouca coisa, como se pensava até agora. Há quem acredite que a taxa de desocupação passará dos 6%, um baque para a demanda interna. Os cortes devem vir, principalmente, do setor de serviços, que absorveu muita gente não qualificada nos últimos anos e, agora, dá sinais de fadiga.

Apesar de todos os prognósticos ruins, nenhum diretor do BC se arriscou a prever aos interlocutores o possível tamanho do tombo do PIB neste ano. Mas não será surpresa se o encolhimento chegar a 1%. Não se pode esquecer que o país já está enfrentando um racionamento de água — 60% das indústria de São Paulo estão reduzindo as atividade, dando férias coletivas ou cortando turnos — e poderá ser obrigado a economizar energia a partir de abril, quando acaba o período chuvoso.

Divisão no Copom

» Quem passou pelo Banco Central nos últimos dias ficou com a sensação de que pode haver uma divisão no placar da próxima reunião do Comitê de Política Monetária. Parte dos diretores deve votar por um aumento de 0,25 ponto percentual na Selic. Parte, pela alta de 0,50 ponto. Venceria, contudo, o grupo a favor de um arrocho menor. Alexandre Tombini buscará o consenso.

Operação Lava-Jato

» As preocupações do BC vão além da disparada da inflação e da esperada queda do PIB. Há o temor com os desdobramentos políticos da Operação Lava-Jato. Muitos parlamentares da base aliada do governo estão na mira da Polícia Federal e do Ministério Público. Os riscos de o governo enfrentar problemas para aprovar parte do ajuste fiscal só aumentarão.

Coração de Dilma » Quando for definir a taxa Selic, em março, o BC já terá em mãos o IPCA de janeiro e o IPCA-15 de fevereiro. Diante de inflação superior a 1% ao mês, terá que elevar os juros. O coração de Dilma Rousseff estará a mil. Mas será o preço a pagar por tantos erros nos últimos quatro anos.

Ano para esquecer

» Para o governo, 2014 deve ser visto como um passado muito distante. “Trata-se de um ano para ser esquecido”, disse um ministro.

Ensino técnico

» Com investimentos de R$ 250 mil, a McTech, primeira escola de informática focada na plataforma Apple, abrirá, na terça-feira, a primeira unidade em Brasília. Há, na capital, carência de profissionais especializados.

Brasília, 00h01min

Vicente Nunes