BC JÁ INDICOU AO GOVERNO QUE VAI PESAR MAIS A MÃO NOS JUROS POR CAUSA DE META FISCAL MENOR

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O Banco Central estava preparado para reduzir o ritmo de alta da taxa básica de juros (Selic) na próxima semana, de 0,50 para 0,25 ponto percentual, mas teve que mudar a direção. Com a decisão do governo de diminuir a meta fiscal, de 1,13% para 0,15% do Produto Interno Bruto (PIB), e da nova arrancada do dólar, a diretoria do BC achou por bem manter a mão pesada sobre os juros.

A estratégia de indicar ao mercado a nova estratégia para a Selic foi acertada entre o presidente do BC, Alexandre Tombini, e o diretor de Política Econômica, Luiz Awazu Pereira, que hoje, logo cedo, usou um discurso num seminário no Rio de Janeiro para avisar aos investidores que a instituição havia “identificado novas ameaças à inflação em 2016”. Há um compromisso oficial da autoridade monetária de levar a inflação para o centro da meta, de 4,5%, até o fim do ano que vem.

Awazu foi claro. Disse que, em função dos novos riscos, o BC precisa se manter cauteloso e vigilante para se certificar de que a política monetária reflitirá o balanço de riscos de agora e de que permaneçará adequadamente calibrada para atingir seu objetivo.

O BC diz que não há nada de anormal um diretor da instituição falar sobre política de juros às vésperas da reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), marcada para a próxima semana. Segundo a instituição, como a informação se tornou pública, sem privilégios, tudo transcorreu dentro das regras. Errado seria se a posição de Awazu fosse passada a uma pessoa ou a um grupo específico, que se aproveitaria da informação para tirar proveito próprio.

O BC já fez chegar ao Palácio do Planalto e à equipe econômica que ficou sem alternativas diante da redução das metas de superavit primário. No cenário base do Copom, a perspectiva era de que a economia para pagamento de juros da dívida chegasse a 1,13% do Produto Interno Bruto (PIB) neste ano e a 2% em 2016 e 2017. Com isso, seria possível levar a inflação para o centro da meta no fim do ano que vem.

Agora, com o afrouxamento fiscal, que está jogando o dólar nas alturas, novas pressões se somaram ao ambiente inflacionário. Portanto, para manter a credibilidade, o BC terá que aumentar a Selic em 0,50 ponto percentual na próxima quarta-feira, de 13,75% para 14,25% ao ano. E corre-se o risco de o aperto ser mais prolongado do que o desejado pelo time comandado por Tombini. Isso, mesmo com a economia em profunda recessão.

Brasília, 18h01min

Vicente Nunes