BC reduz previsão de crescimento do PIB para 0,8%

Publicado em Economia

SIMONE KAFRUNI

O Banco Central (BC) reduziu de 2% para 0,8% a previsão de crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro em 2019. No relatório trimestral de inflação, divulgado ontem, a autoridade monetária condicionou essa perspectiva ao cenário de continuidade das reformas e ajustes e destacou que a projeção “incorpora expectativa de recuperação da atividade em ritmo crescente no resto do ano”.

O presidente do BC, Roberto Campos Neto, negou, contudo, que exista algum tipo de “chantagem” endereçada ao Congresso em relação à aprovação das mudanças na Previdência para que a taxa básica de juros Selic possa sofrer novo corte. Segundo ele, o BC simplesmente ressaltou que o fator de risco relacionado ao andamento das reformas é “preponderante” neste momento.

 

“A continuidade do processo de reformas e ajustes necessários na economia brasileira é essencial para a queda da taxa de juros estrutural, para o funcionamento da política monetária e para a recuperação sustentável da economia”, destacou. Campos Neto disse que o cenário básico com que o BC trabalha é de que a reforma será aprovada. “Se não for, haverá sensibilidade contrária”, ponderou.

 

O diretor de Política Econômica do BC, Carlos Viana de Carvalho, apresentou as justificativas para a revisão do crescimento do PIB. Conforme ele, foram avaliados três fatores. O cenário externo, com a guerra comercial, a ociosidade da indústria e da mão de obra, com o mercado de trabalho em lenta recuperação, e a percepção de risco na aprovação das reformas. No entanto, a expectativa futura é de que a economia “deve apresentar desempenho próximo da estabilidade no segundo trimestre com melhora no segundo semestre”.

 

Inflação

 

A projeção do BC para a inflação medida pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) recuou de 3,9% para 3,6% este ano. Para 2020, a expectativa é de 3,9%, de acordo com os cenários de juros e câmbio estimados pelo Boletim Focus.

 

Para André Perfeito, economista-chefe da Necton, o relatório veio em linha com a ata do Copom. “Não teve novidade e mostra uma situação de deterioração da economia. O BC considera que a taxa de juros não é o verdadeiro problema do fraco crescimento do país, mas sim que os canais de transmissão da Selic e para o bolso dos consumidores estão obstruídos pela falta confiança”, avaliou. O especialista considerou que a autoridade monetária está dando a entender que poderia cortar os juros, mas que não o fará se tiver reforma.

 

No relatório, o BC baixou de 7,2% para 6,5% a previsão de crescimento do crédito bancário neste ano. Em 2018, o estoque total atingiu R$ 3,26 trilhões, alta de 5,5%, depois de dois anos em queda. Para pessoas jurídicas, a projeção de crescimento do crédito em 2019 caiu de 4,1% para 2,5%. “É uma contração saudável, de substituição de crédito para outras fontes de financiamento, como mercado de capitais ou capital externo”, avaliou o diretor Viana de Carvalho. Já a manutenção de crédito para pessoas físicas, em 9,7%, foi justificada pelos “níveis baixos de inadimplência e pelo comprometimento de renda das famílias com serviços financeiros”.

 

O presidente do BC ressaltou, ainda, que diminuir o spread bancário (diferença entre a remuneração que o banco paga para captar um recurso e quanto cobra para emprestar o mesmo dinheiro) é o principal objetivo da instituição. “Estamos incentivando a competição, buscando soluções junto aos bancos, para entender a diferença dos créditos emergenciais (rotativo e cheque especial). Não estamos contentes com o nível atual. Essa é uma briga contínua do BC”, destacou Campos Neto.

 

Brasília, 18h43min