BC reduz em 28% previsão de entrada de investimento direto no país

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ROSANA HESSEL

O Banco Central (BC) reduziu em 28% a previsão do fluxo de entrada de investimentos estrangeiros no Brasil. Conforme dados do Relatório Trimestral de Inflação (RTI), divulgado nesta quinta-feira 17/12), a projeção da autoridade monetária para o indicador de Investimento Direto no País (IDP), passou de U$ 50 bilhões, em setembro, para US$ 36 bilhões, em dezembro.

Comparando com a entrada de investimento direto no país no ano passado, de US$ 69 bilhões, essa nova projeção representará um tombo de 47,8% nesse fluxo. No Relatório de Inflação, o Banco Central revisou de 5% para 4,4% a previsão de queda do Produto Interno Bruto (PIB) e passou a prever expansão de 3,8% em 2021.

O IDP é indicador que mede a entrada de investimentos produtivos e de longo prazo, ou seja, os que garantem um crescimento sustentável da economia, refletindo a confiança de grandes investidores internacionais no país. As projeções para esse dado sofreram reduções consecutivas nos Relatórios de Inflação após o início da crise provocada pela pandemia de covid-19. A estimativa inicial do BC, de US$ 60 bilhões, constava no RTI de março, mas passou para US$ 55 bilhões, em junho, e para US$ 50 bilhões, em setembro.

De acordo com o documento, a forte redução na projeção de IDP deste ano ocorreu “em virtude do resultado dos últimos meses, que refletem lucros reinvestidos em patamar mais deprimido e amortizações de operações intercompanhia acima do projetado no cenário anterior”.  A entrada de recursos nos últimos meses, resultado de melhora nas condições financeiras no mercado internacional e do maior apetite a risco, “ensejaram redução na projeção de saídas líquidas para US$ 4 bilhões, com neutralidade nos últimos meses do ano, que normalmente apresentam sazonalidade negativa”. O BC projeta redução do volume de saídas no fluxo cambial devido à “melhora nas condições financeiras para países emergentes”.

Apesar da revisão para baixo, o saldo do IDP supera em mais de cinco vezes a previsão para o deficit em transações correntes previsto para 2020, que foi reduzida de US$ 10,2 bilhões para US$ 7 bilhões, o equivalente a 0,5% do Produto Interno Bruto (PIB). O BC também reduziu a projeção de entradas líquidas para o IDP em 2021, passando de US$ 65 bilhões para US$ 60 bilhões, o equivalente a 3,8% do PIB, superando o valor do deficit em transações correntes estimado para o ano que vem, de 1,2% do PIB.

Contudo, mantém a previsão de recuperação do IDP no próximo ano, “associada à redução de incertezas relacionadas à pandemia, e, consequentemente, o ambiente externo mais favorável para economias emergentes, e ao crescimento doméstico, que devem melhorar a lucratividade das empresas estrangeiras no Brasil”. O IDP deve atingir US$ 60 bilhões (3,8% do PIB) e continuará superando o valor do deficit em transações correntes (1,2% do PIB).

Apesar dessa forte queda nos investimentos no país, o BC reduziu a projeção de deficit em transações correntes para US$ 7 bilhões, o equivalente a 0,5% do PIB, “refletindo o desempenho favorável das exportações”. O aumento na projeção das exportações em relação ao relatório anterior refletiu, principalmente, o desempenho acima do esperado em minério de ferro e açúcar. No ano, o “valor dos embarques de produtos brasileiros, entretanto, deve cair 7% em relação a 2019, pressionado pela diminuição dos preços internacionais de commodities e do quantum de produtos manufaturados”.

O BC aumentou a projeção das importações foi disseminado entre as categorias de uso e passou a esperar queda de 14% no valor importado em relação ao ano anterior, “apesar do crescimento das operações no âmbito do Regime Aduaneiro Especial de Exportação e Importação de Bens destinados às Atividades de Pesquisa e de Lavra das Jazidas de Petróleo e de Gás Natural (Repetro).

A autoridade monetária manteve o deficit esperado na conta de serviços, de US$20 bilhões, com redução de 43% em relação a 2019. O BC destacou que a conta de viagens, deverá apresentar redução de 83% nas despesas líquidas em comparação a 2019, “refletindo as restrições geradas pelas medidas de contenção à covid-19 em todo o mundo”.

Na conta de renda primária, a estimativa de saldo negativo é de US$40 bilhões, recuo de 30% das despesas líquidas em 2020 em relação ao ano anterior. “A revisão na projeção para a conta de juros refletiu, basicamente, pagamentos acima do esperado nos últimos meses. Em lucros e dividendos, o aumento do deficit projetado foi resultado da revisão anual divulgada em novembro”, informou o BC no Relatório de Inflação.

No Relatório de Inflação deste mês, o BC ainda reduziu a projeção de saídas no Investimento Direto no Exterior (IDE) na conta financeira, para US$ 13 bilhões, devido ao retorno dos lucros reinvestidos para terreno positivo. Ainda dentro dos ativos, espera-se continuação dos fluxos de saídas para investimentos em carteira, que devem fechar o ano em US$ 11 bilhões. Segundo o documento, o estoque estimado de dívida externa apresentou ligeira redução até outubro, atingindo US$ 307,4 bilhões, ante US$ 323,0 bilhões em dezembro de 2019. O estoque de reservas internacionais, por sua vez, alcançou 24% do PIB em outubro, montante equivalente a 26 meses de importações de bens.

No acumulado em doze meses, o deficit em transações correntes atingiu US$15,3 bilhões em outubro (1,0% do PIB), e o IDP somou US$43,5 bilhões (2,9% do PIB). Estima-se que o deficit em conta corrente e o IDP atingirão, respectivamente, 0,5% do PIB e 2,5% do PIB em 2020.

Vicente Nunes