ROSANA HESSEL
Pelas projeções do Banco Central, a conta de luz vai continuar mais cara, pelo menos, até o fim do ano que vem. Durante a apresentação do Relatório Trimestral de Inflação (RTI), nesta quinta-feira (17/12), o presidente do BC, Roberto Campos Neto, reconheceu que a previsão BC de inflação dos preços administrados em 2021, de 4,27%, está acima das estimativas do mercado, de 3,5%.
Ao explicar esse dado do Relatório de Inflação, Campos Neto e o diretor de Política Econômica do BC, Fabio Kanczuk, disseram que o esse cenário traçado pelo BC para os preços de serviços administrados incorpora uma projeção da bandeira vermelha até dezembro de 2021. O governo antecipou para este mês o reajuste da tarifa de energia e passou a utilizar a bandeira vermelha patamar 2, a mais cara do sistema elétrico, devido à queda no nível dos reservatórios e o aumento do consumo da população.
O cenário descrito pela autoridade monetária ainda prevê que o custo da energia ainda continuará elevado também em 2022. Ao citar o conjunto de hipóteses que o BC faz sobre os mais variáveis itens da energia elétrica, Kanckzuc e Campos Neto destacaram, em entrevista a jornalistas, que “para dezembro de 2021,“o BC considera bandeira vermelha 1, e, para 2022, bandeira amarela”.
As estimativas do Banco Central para o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) deste ano, conforme o Relatório de Inflação, estão em 4,3%, passando para 3,4%, em 2021 e em 2022. Para 2023, o cenário previsto para o custo de vida é de alta de 3,3%.
“Reconhecemos que vai ter uma subida da inflação em 2021”, afirmou Campos Neto, sem precisar exatamente quando haverá a saída do foward guidance (mecanismo usado para indicar manutenção da taxa de juros), ou seja, o reinício de alta da Selic, atualmente em 2% ao ano. Segundo ele, isso vai depender “da mudança trajetória das expectativas de inflação para 2022”, sem uma sinalização clara de quando os juros realmente vão começar a subir.
“Ainda não há uma sinalização de uma data específica para aumento de juros, mas é muito claro pelos modelos que vão ter subir ano que vem”, avaliou o economista-chefe da MB Associados, Sergio Vale. Ele lembrou que, pela estimativas do boletim Focus, do BC, a inflação fica na meta em 2022, mas, para isso, a Selic iria para 3% em 2021. “Se for 3%, uma alta de 0,5 ponto percentual começaria no segundo semestre mesmo. Mas eu acho que começa antes, em junho, pra evitar riscos de contaminação dessa inflação para outros preços, e terminaria um pouco maior, em 3,5%”, apostou. Pelas estimativas dele, a inflação do ano que vem deverá ficar um pouco maior do que os 3,4% previstos pelo BC, chegando a 3,8%. “Mas ainda essa alta está sob controle. Só vejo entrar em crise mais profunda se o cenário fiscal ficar comprometido em 2023. Não vejo espaço até lá para grandes reformas”, acresentou.
Pelas projeções do BC, no entanto, a inflação continua dentro das metas estipuladas pelo Conselho Monetário Nacional (CMN), em 2021 e 2022. Contudo, a autoridade monetária reforçou as preocupações em relação ao controle das contas públicas, que será determinante para uma retomada dos investimentos no país. “O Copom (Comitê de Política Monetária) avalia que, desde a adoção do forward guidance, observou-se uma reversão da tendência de queda das expectativas de inflação em relação às metas para o horizonte relevante. Além disso, ao longo dos próximos meses, o ano-calendário de 2021 perderá relevância em detrimento ao de 2022, que está com projeções e expectativas de inflação em torno da meta”, afirmou o ministro.
No Relatório de Inflação, o Banco Central revisou de 5% para 4,4% a estimativa de queda do Produto Interno Bruto (PIB) deste ano e reduziu em 28% a previsão de entrada de Investimento Direto no País (IDP) em 2020, para US$ 36 bilhões, em função da queda na confiança dos investidores na área fiscal.