Conforme os dados do BC divulgados nesta sexta-feira (28/01), o endividamento total sobre a Renda Nacional Disponível Bruta das Famílias (RNDBF) passou de 50,4%, em setembro, para 51,2%, em outubro, o maior patamar da série histórica da autoridade monetária, iniciada em janeiro de 2005.
No acumulado do ano, o endividamento cresceu 9,2 pontos percentuais no indicador que calcula a relação entre o saldo dos financiamentos, incluindo o imobiliário, em relação à renda familiar acumulada em 12 meses. Conforme os dados do BC, o comprometimento da renda, de 27,9%, considerando os dados dessazonalizados, também é recorde desde o início da série histórica, em março de 2005.
Vale lembrar que, conforme dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o rendimento médio do brasileiro encerrou o trimestre de setembro a novembro com queda de 4,5%, para R$ 2.444, o menor nível da série histórica iniciada em 2012.
A nova forma de cálculo adotada pelo BC inclui receitas extraordinárias além da massa salarial familiar calculada pelo IBGE. Com isso, estão incluídos na conta, por exemplo, o 13º salário, as horas extras e o auxílio emergencial concedido durante a pandemia da covid-19 — que socorreu mais de quase 68 milhões de brasileiros em 2020 e teve a parcela reduzida, assim como o público alvo, em 2021.
Com isso, a base para o cálculo da taxa de envidamento aumentou e, consequentemente, a taxa de endividamento, diminuiu. Na série anterior, no último dado disponível, de agosto, o endividamento das famílias também havia sido recorde e atingido 59,9% da massa salarial acumulada em 12 meses.
“A mudança da metodologia é importante, porque o auxílio emergencial teve um peso importante na composição da renda das famílias durante a pandemia, mas é um benefício que não deverá se repetir daqui para frente. Mas o endividamento das famílias, apesar da redução, continua elevado”, alertou Miguel Ribeiro de Oliveira, diretor-executivo da Associação Nacional dos Executivos de Finanças, Administração e Contabilidade (Anefac). Ele lembrou que, para conceder empréstimos e minimizar o risco de inadimplência, os bancos consideram que o limite de endividamento precisa ser de até 30% da renda. “Os bancos nunca querem que a prestação ultrapasse 30% da renda. Esse é o valor padrão, mas na Europa e nos Estados Unidos, essa taxa é maior, mas lá, os juros são muito menores do que aqui, que ainda devem aumentar. No Brasil, o juro pesa também no aumento do endividamento e compromete parte da renda, especialmente, quando ele é muito alto, como o do cartão de crédito”, alertou.
O aumento do endividamento das famílias contribuiu para que o Banco Central registrasse um salto de 13,9% no saldo de crédito ampliado ao setor financeiro e não financeiro, em 2021 na comparação com 2020, totalizando R$ 13,6 trilhões (156,9% do Produto Interno Bruto – PIB). O dado revela desaceleração do ritmo de crescimento, pois, em 2020, o crescimento foi de 16,8%. Essa freada é resultado da retomada do ciclo de alta dos juros ocorrida ao longo do ano passado.
Após atingir o piso histórico de 2% no segundo semestre de 2020, diante a persistência inflacionária tanto no Brasil quanto no exterior, a taxa básica da economia (Selic) vem sofrendo aumentos sucessivos pelo Banco Central desde março do ano passado e, atualmente, está em 19,9%, em março, para 24,4%, em dezembro. No ano passado, o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), que mede a inflação oficial, subiu 10,06%, a maior taxa anual desde 2015, bem acima do teto da meta estipulada pelo Conselho Monetário Nacional (CMN), de 5,25%.
O aperto monetário mais forte do Banco Central no fim do ano, já surtiu efeito nas concessões de crédito. De acordo com dados da autoridade monetária, as concessões de empréstimo junto às instituições privadas encolheram 9,9% para a pessoa, apenas em dezembro. Já o volume de concessões de financiamento de bancos públicos para a pessoa física recuou 7,1%, no mesmo período. No acumulado do ultimo trimestre, o total ficou estável para pessoa física. Já para a pessoa jurídica, houve crescimento de 0,5%, mas o volume de concessões de bancos públicos desabou 48,7% nos últimos três meses do ano.