ROSANA HESSEL
A escalada da taxa básica de juros (Selic) ao longo de 2022 vem fazendo a conta de juros do setor público consolidado — que inclui estatais e governos federal e regionais — disparar neste ano e bater recordes consecutivos.
Conforme dados do Banco Central divulgados nesta segunda-feira (31/10), no acumulado de 12 meses encerrados em setembro, a conta de juros nominais alcançou R$ 591,9 bilhões, o maior volume registrado na série histórica da autoridade monetária, iniciada em dezembro de 2001.
Fernando Rocha, chefe do Departamento de Estatísticas do BC, lembrou que, em relação ao Produto Interno Bruto (PIB), de 6,3%, o percentual da conta de juros ficou no mesmo patamar de julho deste ano, de 6,36% do PIB.
Em relação a dezembro de 2021, quando essa rubrica somou R$ 448,4 bilhões, ou 5,17% do PIB, o crescimento da conta de juros nominais foi de 32%, ou R$ 143,5 bilhões. No acumulado de janeiro a setembro, a conta de juros passou de R$ 291,9 bilhões, em 2021, para R$ 435,6 bilhões, neste ano, conforme os dados do BC.
Apenas entre agosto e setembro, a despesa com juros praticamente dobrou, passando de R$ 35,6 bilhões para R$ 71,3 bilhões. De acordo com Rocha, esse aumento deveu-se, “exclusivamente” às perdas com contratos de swap cambial, que somaram R$ 24,7 bilhões no mês de setembro. “Esses R$ 71,4 bilhões de juros efetivamente apurados em setembro com perdas de swap cambial”, afirmou.
Rocha reconheceu que o aumento da conta de juros no ano reflete não apenas o aumento do estoque da dívida pública bruta, que bateu novo recorde histórico em termos nominais, chegando a R$ 7,3 trilhões, o equivalente a 77,1% do PIB, menor patamar desde março de 2020, antes do início da pandemia da covid-19. A alta da taxa Selic no ano também vem contribuindo fortemente para os dados recordes dessa fatura.
“O aumento do estoque da dívida e da Selic são os dois efeitos principais. Os juros acumulados diariamente passaram de 2,52%, nos primeiros nove meses de 2021, para 8,91%, em 2022. E esse aumento reflete na conta de juros”, explicou.
Para cada ponto percentual a mais na Selic, a dívida pública bruta cresce R$ 36,5 bilhões, em termos anualizados. O ciclo de aperto monetário do BC, iniciado em março de 2021, quando os juros básicos estavam no piso histórico de 2% anuais, foi interrompido em setembro deste ano. O Comitê de Política Monetária (Copom) manteve a Selic em 13,75% ao ano, naquela reunião, e, na semana passada, o colegiado decidiu não alterar os juros pelo segundo encontro seguido, confirmando o Brasil como o país com a maior taxa de juros reais (descontada a inflação do mundo).
De acordo com os dados do BC, o deficit nominal do setor público consolidado, somou R$ 410,6 bilhões no acumulado em 12 meses até setembro, o equivalente a 4,46% do PIB. Enquanto isso, o superavit primário no mesmo período somou R$ 181,3 bilhões, ou 1,93% do PIB. A maior fatia desse saldo positivo, R$ 96,7 bilhões (1,03% do PIB), foi decorrente do resultado fiscal de governos regionais.