BATEU O DESESPERO

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Havia muito tempo que uma reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) não causava tanta comoção no governo, como a que começa hoje e termina amanhã. Diante da perspectiva de aprofundamento da recessão — as previsões apontam para queda superior a 2% do Produto Interno Bruto (PIB) neste ano —, as apostas eram de que o Banco Central elevaria a taxa básica de juros (Selic) em mais 0,25 ponto percentual, para 14% ao ano, e daria por encerrado o aperto iniciado depois das eleições presidenciais, em outubro de 2014. Agora, já não se sabe mais para onde vão os juros.

No coração do Palácio do Planalto, o entendimento predominante é o de que o BC não deveria nem mexer na Selic, de 13,75% ao ano, já que uma taxa maior só contribuirá para derrubar a atividade, com aumento do desemprego. Essa ala de técnicos argumenta que a inflação deste ano, que caminha a passos largos para os 10%, já está dada e não será uma ação mais firme da autoridade monetária neste momento que conterá a carestia. O importante para esse grupo é que, de 2016 em diante, o custo de vida cairá à metade, graças ao BC, que não titubeou em elevar os juros, mesmo com a economia perdendo força.

Não há dúvidas de que, olhando apenas para o nível da atividade, certamente, o Banco Central não precisaria elevar mais na Selic. Na verdade, deveria estar reduzindo a taxa para evitar que, também em 2016, o ano seja perdido, com nova queda do PIB. O problema é que a instituição está refém de uma situação que ela mesmo criou ao, no primeiro mandato de Dilma, agir de forma leniente com a inflação. Seja por interferência do Planalto, seja por erros nas projeções, a autoridade monetária indicou para os formadores de preços que tinha comprado a tese de que um pouquinho mais de carestia não faria mal a ninguém e estimularia o PIB. Viu sua credibilidade ruir.

Agora, o BC precisa mostrar que mudou, que o combate à inflação é para valer e que a promessa de levar o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) ao centro da meta, de 4,5%, até dezembro do ano que vem, não é mais uma das obras de ficção que se tornaram marca registrada do governo. O custo para o país, porém, será enorme. Mesmo que a alta da Selic fique em 0,25 ponto, como acredita parte do mercado, o certo é que os juros maiores vão bater no consumo das famílias e nos investimentos produtivos. Não há como pensar em recuperação da atividade tão cedo.

Levy diminuiu

As falhas do BC se tornam maiores porque, nos últimos dias, tudo passou a conspirar por mais inflação. O governo decidiu afrouxar o ajuste fiscal. Os gastos maiores vão pressionar o custo de vida. As desconfianças em torno do superavit primário empurraram o dólar para o nível mais alto em 12 anos. Mesmo com a economia em recessão, haverá repasses da valorização da moeda norte-americana para os demais preços da economia. Com esse roteiro de péssima qualidade, é assustador ver como o governo Dilma continua a errar.

O ministro da Fazenda, Joaquim Levy, vem dizendo que a redução da meta de superavit primário de 1,13% para 0,15% do PIB não foi uma derrota dele. Sem dúvida, foi. Sobretudo, porque esse afrouxamento veio acompanhado da redução das metas de 2016 e 2017, contratando pressões inflacionárias que vão interferir nas decisões futuras de política monetária do BC. Não por acaso, o mercado voltou a subir as projeções para o IPCA de 2017, que, até a semana passada, se mostravam ancoradas no centro da meta, de 4,5%, definida pelo Conselho Monetário Nacional (CMN).

Levy, agora, resolveu jogar para cima do Congresso a responsabilidade pela redução da meta, uma vez que os parlamentares não aprovaram medidas que poderiam ajudar no cumprimento de uma meta fiscal mais ambiciosa. Tem razão em parte, já que deputados e senadores — muitos da base aliada — resolveram se aproveitar da baixa popularidade da presidente da República para fustigar o Planalto.

Mas o governo poderia ter feito mais, cortado gastos muito além do adicional de R$ 8,6 bilhões anunciados por Levy. Ele mesmo defendia que a tesourada limasse pelo menos R$ 15 bilhões do Orçamento deste ano. Também nesse ponto foi derrotado. Por isso, a desconfiança dos investidores de que o ministro continue com o poder que demonstrou quando assumiu a chefia da equipe econômica.

Com tantas barbeiragens, não adianta o governo mostrar desespero com a possível alta dos juros. Tudo seria muito diferente se a presidente Dilma tivesse seguido uma regra básica: respeitar a estabilidade da economia. Tanto inventou que já está colhendo a maior retração do PIB em 25 anos e pode ser responsabilizada pela história por ter levado o Brasil a perder quase uma década, destruindo sonhos de brasileiros que acreditaram que um futuro melhor estava a caminho.

Diversão e fraude

» Um cliente da Caixa Econômica Federal gastou R$ 250 em uma noitada em Goiânia no cartão de crédito. Quando a fatura chegou em casa e a mulher pediu explicações da despesa, ele alegou que o cartão havia sido fraudado. Para manter o discurso, encaminhou um pedido ao banco para a exclusão do débito. A Caixa, claro, não aceitou.

Desconfiança de gigantes

» Entre as instituições que se revezam na lista das que mais acertam as previsões de inflação nas pesquisas realizadas semanalmente pelo Banco Central, nenhuma está com estimativa para o IPCA de 2016 abaixo de 5,4%. Várias estão trabalhando com taxas entre 6% e 6,5%, um problemão para o BC administrar.

Brasília, 11h31min