O Banco Central está preparado para dias difíceis, piores do que ontem. Mas nada será feito sem racionalidade. Tudo está sendo analisado pela equipe comandada por Alexandre Tombini, de forma que os mercados mantenham a funcionalidade e não se perca a referência da estabilidade econômica. O BC tem a exata noção de que, sozinho, não conseguirá resolver todos os problemas que os investidores identificam. Mas está fazendo o que está a seu alcance, sempre em sintonia com o Tesouro Nacional. A avaliação de técnicos do BC é de que a quarta-feira realmente foi um dia muito difícil. Os investidores ligaram o sinal de pânico, que se juntou ao acerto de posições tanto no mercado de câmbio quanto no de juros futuros, cada um querendo garantir o seu quinhão. Essa disputa tirou toda a racionalidade dos negócios, que levou o dólar a bater em R$ 4,17, pico do dia, e a levar os contratos de Depósito Interfinanceiro (DI) a precificarem alta de até três pontos percentuais na taxa básica de juros (Selic), que está em 14,25% ao ano, ao longo de 2016. Na avaliação do BC, o sistema de câmbio é flutuante e o mercado é livre para levar os preços da moeda norte-americana ao nível que achar adequado, mas é preciso não perder o referencial. Esse raciocínio vale, sobretudo, para as taxas de juros. Ainda que os investidores acreditem que a inflação possa subir por causa do repasse da alta do dólar para os preços, não há como apostar em um choque de juros. “Se pegarmos os contratos de DI de 2017 e confrontá-los com a estimativa da Selic captada pelo relatório Focus, veremos projeção de aumento de juros de 4,5 pontos percentuais”, ressalta um dos técnicos do BC. “Essa diferença toda é prêmio. O mercado está embutindo nos DI um prêmio pelos riscos que vê no país. Mas está fora da realidade”, acrescenta. Mesmo não tendo derrubado a cotação do dólar e nem conseguido reverter os exageros dos juros futuros, ao anunciar intervenção de US$ 4 bilhões no câmbio, o BC acredita que conseguiu reduzir o nervosismo ao derrubar o custo dos contratos de swap cambial, chamado de cupom. As taxas caíram logo depois das intervenções. “Isso mostra que a nossa estratégia funcionou”, reforça outro funcionário do BC. Racionalidade
O entendimento no entorno de Alexandre Tombini é o de que o BC vem fazendo o dever de casa desde 2013, quando começou a elevar a Selic. A visão é de que a instituição se tornou hoje uma barreira contra o caos, porque tem instrumentos de sobra para agir. “Munição não nos falta. Mas temos de guardá-las para tempos realmente difíceis”, afirma um dos técnicos com trânsito na diretoria do banco. “Vamos acompanhar tudo com calma. Não há por que o BC agir de forma descoordenada, pois isso só adicionará mais volatilidade aos mercados”, emenda. A ordem no BC é esperar a poeira baixar para, então, fazer as correções necessárias, sem traumas, de forma clara e transparente. “Sempre foi assim. Se hoje não há fuga de capitais do Brasil é porque há segurança na atuação da autoridade monetária. O mercado dispõe de um seguro de mais de US$ 100 bilhões por meio dos contratos de swap”, ressalta o mesmo técnico. E há as reservas internacionais, de US$ 370 bilhões, que estão praticamente intocadas e devem permanecer assim. Para os funcionários do BC, é importante ficar claro que as fontes de incertezas não estão na instituição, mas, sim, nas áreas política e fiscal. Eles assinalam que, se fosse só pela ação da instituição, certamente o país estaria discutindo, na virada de 2015 para 2016, o início da redução da taxa Selic, o que daria um alívio e tanto à economia, que mergulhou em uma profunda recessão. “Mas, independentemente de não ser a origem da crise, o BC tem responsabilidades, e fará o necessário para que tudo volte aos eixos”, reforça um dos principais assessores de Tombini. Para ele, cada dia será uma batalha. A de ontem não foi fácil. E não há garantia de que a de hoje será, assim como as dos próximos dias. Ao BC, portanto, só resta ficar a postos, para que os prejuízos à Nação sejam os menores possíveis. Segundo técnicos da autoridade monetária, os investidores que estão espalhando boatos e testando a capacidade da instituição de agir estão preocupados apenas em engordar a conta bancária. Contra esses, garantem, as ações serão enérgicas.
Meirelles e o dólar a R$ 6
>> Gente do setor produtivo que esteve com Henrique Meirelles, ex-presidente do BC, nos últimos dias, garante que ele não descarta a possibilidade de o dólar avançar a R$ 6 até o fim de 2016. Sem compradores e vendedores
>> O estresse no mercado futuro de juros chegou a tal nível ontem que vários contratos tiveram as negociações suspensas. Não havia compradores nem vendedores. Caminhando para a Grécia
>> O risco Brasil, medido pelo Credit Default Swap (CDS), alcançou 476 pontos, quase a metade dos 1.143 pontos da Grécia, um país em ruína financeira. Muito mais que paliativos
>> Para os analistas, o governo se animou demais ao acreditar que a confirmação pelo Congresso de vetos da presidente Dilma ao aumento de gastos seria suficiente para derrubar o dólar para menos de R$ 4. Os investidores querem muito mais. Anseiam por um ajuste fiscal consistente.
Brasília, 9h25min