O Palácio do Planalto vê com muita irritação a carta pública assinada, em grande parte, por economistas e representantes do mercado financeiro, pedindo urgência no combate à pandemia do novo coronavírus.
A interpretação é de que os banqueiros, representados por Roberto Setúbal e Pedro Moreira Salles, cujas famílias estão no controle do Itaú Unibanco, romperam com o presidente Jair Bolsonaro, mas a maioria dos empresários ainda apoia o presidente.
A carta pública vem num momento em que o Brasil bate recordes consecutivos de mortes pela covid-19 — são mais de 2 mil por dia, em média. A previsão é de que, por causa do descaso do governo no enfrentamento da crise sanitária, o país caminha para um nova recessão e um colapso social.
Banqueiros, economistas e alguns empresários, como Horácio Lafer Piva, acionista da Klabin Papel e Celulose, dizem, no documento que “a consequente redução da atividade pela demora em adotar políticas públicas mais adequadas custou uma perda tributária de R$ 58 bilhões só no âmbito federal, enquanto o atraso da vacinação irá custar R$ 131,4 bilhões aos cofres públicos em 2021 em termos de produto ou renda não gerada e supondo uma recuperação retardatária em dois trimestres”.
Guerra na redes sociais
Em grupos de WhatsApp que reúnem empresários, muitos estão irritados com as críticas a Bolsonaro, até porque são contra as medidas restritivas adotadas por governadores e prefeitos para tentar conter a disseminação do novo coronavírus. Esses defensores de Bolsonaro, inclusive, partem para cima de gestores como João Doria (São Paulo) e Eduardo Leite (Rio Grande do Sul).
Entre os banqueiros, o pensamento é de que não há confronto com o governo federal. Pelo contrário. Eles veem a manifestação pública como um alerta ante a gravidade da situação que o Brasil enfrenta e uma forma de diálogo. Não se está, segundo eles, havendo rompimento, mas um sinal claro de união entre os agentes econômicos em prol do país.
No entender daqueles que assinam a carta pública, a vacinação em massa é urgente e é preciso que o governo se guie pela ciência e deixe de lado as fake news. “Estamos no limiar de uma fase explosiva da pandemia e é fundamental que a partir de agora as políticas públicas sejam alicerçadas em dados, informações confiáveis e evidência científica”, dizem, na carta.
E vão além: “Não há mais tempo para perder em debates estéreis e notícias falsas. Precisamos nos guiar pelas experiências bem-sucedidas, por ações de baixo custo e alto impacto, por iniciativas que possam reverter de fato a situação sem precedentes que o país vive”.
Brasília, 20h01min