» ANTONIO TEMÓTEO
Os bancos parecem o melhor negócio do Brasil, sobretudo em tempo de crise. Em muitos casos, são mesmo. Mas não em todos. A fraqueza da atividade econômica, o aumento da inflação e a alta do desemprego atingiram em cheio quase metade das instituições de médio porte.
Levantamento da agência de classificação de risco Austin Rating, a pedido do Correio, aponta que, de um grupo significativo de 45 instituições financeiras nessa categoria, houve problemas em quase a metade: 14 tiveram queda de lucro e cinco registraram prejuízo líquido em 2015. Outras duas não registraram crescimento — o que, com a inflação de dois dígitos, significa andar para trás.
Os 24 bancos restantes tiveram elevação de lucros. Os dados ainda apontam que a carteira de crédito desse segmento encolheu 0,9% em relação a 2014 — passou de R$ 176,8 bilhões para R$ 175,1 bilhões —, enquanto as provisões para perdas cresceram 9,2% e totalizaram R$ 8,9 bilhões.
A agência de classificação de risco analisou os números dos bancos que publicaram os balanços do ano passado até 31 de março de 2016 e que tinham ativos entre R$ 2 bilhões e R$ 20 bilhões. Os resultados negativos contrastam com os lucros registrados pelas cinco maiores instituições financeiras brasileiras, que tampouco navegam em águas tranquilas. As provisões para perdas de Bradesco, Itaú, Santander, Banco do Brasil e Caixa Econômica Federal tiveram expansão de 26,6%, bem superior à dos ganhos. O aumento dos recursos reservados para cobrir calotes está atrelado à possibilidade de prejuízo nas grandes empresas.
Oferta
Esse risco de inadimplência levou os bancos médios a reduzir a oferta de crédito e aumentar a seletividade na hora de emprestar. Eles trabalham exclusivamente com linhas de financiamento para consumidores e empresas, e por isso viram os ganhos minguarem. As maiores instituições faturam também com tarifas cobradas por serviços, com os resultados de seguradoras, planos de saúde e outras atividades.
O economista Luís Miguel Santacreu, analista sênior da Austin Raiting para instituições financeiras, explica que muitos dos bancos médios atuam em nichos específicos. Ele detalha que, dos 45 bancos analisados, 15 são nacionais, 13 são estrangeiros, 12 de fabricantes de veículos e máquinas agrícolas, e cinco são públicos.
O estoque de financiamentos das instituições controladas por brasileiros encolheu 8,5% e passou de R$ 56,5 bilhões em 2014 para R$ 51,6 bilhões no ano passado. As provisões também diminuíram: 9,2% no mesmo período. “Com a desaceleracão, a carteira diminui”, comentou.
O especialista ressalta que apesar da retração, duas instituições desse grupo têm se destacado: os bancos Original e Intermedium. O primeiro, da holding J&F que também é dona da JBS, tem forte ligação com o agronegócio e recentemente ampliou suas operações para o varejo, como atuação totalmente digital. A carteira de crédito da instituição cresceu 68,6% em 2015 e chegou a R$ 4,2 bilhões. Com isso, o lucro subiu 51,1%, para R$ 111 milhões, mas as provisões mais que dobraram de tamanho, para R$ 139 milhões. O segundo, criado pelos controladores da construtora MRV, é um banco múltiplo e possui forte atuação no setor imobiliário. O estoque de financiamentos cresceu 42% e chegou a R$ 2,1 bilhões, enquanto a lucratividade atingiu R$ 32 milhões, uma elevação de 44,3%.
Montadoras
Os 12 bancos de montadoras de veículos e de fabricantes de máquinas agrícolas viram a carteira de crédito encolher 5,2%, de R$ 65 bilhões para R$ 61,6 bilhões. “Os estoques estão altos. Muitas fábricas deram férias coletivas aos trabalhadores, postergaram ou suspenderam investimentos”, destacou Santacreu.
Com estratégias diversificadas e distintas, os bancos médios estrangeiros tiveram alta no estoque de crédito de 14,2%, que passou de R$ 33,6 bilhões para R$ 38,4 bilhões. Já as instituições financeiras públicas registraram aumento de 8,1% no total de operações de financiamentos, mas as provisões para perda cresceram ainda mais: 24,7%.
Segundo José Luiz Rodrigues, sócio da JL Rodrigues, Carlos Átila & Consultores Associados, os bancos médios estão ainda seletivos e com dinheiro parado em caixa. “A instabilidade política carrega a crise econômica. Mais pessoas estão desempregadas e os financiamentos despencam. Isso precisa ser resolvido”, comentou.
Procurado, o Banco Central (BC) não quis comentar o assunto. Entretanto, técnicos da autoridade monetária ouvidos reservadamente afirmaram que não há risco de insolvência para os bancos médios, que estão bem capitalizados e bom nível de provisões. A Associação Brasileira de Bancos (ABBC) tampouco se manifestou sobre os resultados de 2015.
Brasília, 23h34min