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Banco Mundial faz novo alerta para os riscos fiscais na América Latina

Publicado em Economia

00ROSANA HESSEL

 

Os países da América Latina e do Caribe precisam evitar um novo ciclo de baixo crescimento e, nesse sentido, investimentos sociais e equilíbrio fiscal são as chaves apontadas no relatório “Novas abordagens para resolver o déficit fiscal”, divulgado nesta terça-feira (4/10), pelo Banco Mundial. 

 

O relatório reconhece que as economias da região estão conseguindo voltar aos patamares pré-pandemia e melhorou as estimativas de crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) regional. Pelas novas projeções, o PIB latino-americano crescerá 3%, em 2022, percentual maior que o esperado em junho, de 2,5%, devido ao aumento dos preços das commodities, principal produto de exportação dos países latino-americanos. 

 

Contudo, o documento alerta para a grande incerteza global diante da guerra na Ucrânia, do aumento das taxas de juros nos países desenvolvidos e da persistência das pressões inflacionárias, que terão impacto negativo sobre as economias na região. Com isso, o Banco Mundial reduziu de 1,9% para 1,6% a previsão de crescimento do PIB de 2023, e de 2,4% para 2,3% a estimativa para a alta do PIB em 2024. O documento revela que essas taxas são consideradas medíocres, similares aos níveis da década de 2010, e, portanto, insuficientes para avançar de forma significativa para a redução da pobreza. A inflação, que para a maioria dos países está dentro dos níveis da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), exigirá esforços continuados para voltar às metas mais baixas anteriormente previstas.

 

“A maioria das economias retomou os níveis pré-pandêmicos, mas isso não é suficiente. Os países na região têm a oportunidade de se recuperar melhor após a crise e promover sociedades mais justas e inclusivas”, disse Carlos Felipe Jaramillo, vice-presidente do Banco Mundial para a América Latina e Caribe, em documento divulgado pelo Banco Mundial. “Além de adotar reformas e investimentos cruciais para estimular o crescimento, os governos precisam tratar dos custos estruturais – os anos de aprendizagem perdidos, as lacunas na vacinação e os efeitos retardados da insegurança alimentar que a recuperação do PIB encobre”, acrescentou.

 

Na avaliação do estudo, a região está bem-posicionada para repensar o seu caminho de desenvolvimento. Os níveis de emprego foram quase que totalmente recuperados em relação aos níveis pré-pandemia, as escolas foram reabertas e, com exceções no Caribe, o alto índice de vacinação contra a covid-19 permitiu o retorno à normalidade. Contudo, a crise ainda deixa marcas que precisam ser superadas, de acordo com o relatório. A pobreza monetária caiu de 30%, em 2021, para 28,5%, em 2022, porém o nível ainda é muito elevado. Os custos da crise a longo prazo na saúde e educação devem ser urgentemente corrigidos, tanto para reaquecer o crescimento quanto para mitigar o aumento da desigualdade.

 

“Administrar os encargos mais elevados da dívida decorrente da crise e criar espaço fiscal suficiente para investimentos que promovam o crescimento, requer a cuidadosa consideração de novas fontes de receita, bem como o melhor uso dos gastos existentes.  Em média, 17% do gasto público poderiam ser economizados e, em 2/3 dos países, essas economias poderiam eliminar os déficits orçamentários atuais”, afirmou William Maloney, economista-chefe do Banco Mundial para a América Latina e o Caribe. Segundo ele, racionalizar as despesas do Estado é um passo rumo à formação de governos mais eficientes, responsivos e confiáveis e os impostos sobre a renda são baixos na região se comparados com os Estados Unidos, “mas são extremamente progressivos”

 

Na avaliação do economista, a situação dos países da região nos últimos dois anos foi “muito difícil”, mas melhorou um pouco neste ano, com a melhora das projeções de crescimento. “Mas vamos seguir com uma situação muito difícil, com problemas fiscais e juros mais altos”, alertou. A boa notícia, segundo ele, é que várias economias da região demonstram resiliência e os sistemas bancários estão menos vulneráveis. “Teremos uma situação bastante difícil, mas estamos em uma posição melhor do que a enfrentada há 20 anos”, resumiu.

 

Como medidas para a retomada de um crescimento mais robusto na região, o relatório do Banco Mundial sugere que os países examinem cuidadosamente os gastos públicos e as opções de políticas fiscais visando favorecer a igualdade e evitar possíveis efeitos negativos. Isso inclui aprimorar a eficiência dos gastos: em média, 4,4% do PIB – ou 17% dos gastos públicos – são desperdiçados atualmente em transferências mal planejadas, práticas ruins de aquisições e políticas ineficientes de recursos humanos.