O maior programa de incentivo à aposentadoria da história do Banco do Brasil terminou na última sexta-feira. Os números impressionam: 9,4 mil empregados aceitaram ir para casa com a garantia de recebimento de 12 salários extras, o que custará R$ 1,4 bilhão à instituição, e de uma polpuda remuneração paga pela Previ, o fundo de pensão dos empregados do banco. Pelas contas do presidente do BB, Paulo Rogério Caffarelli, quando todo esse processo estiver encerrado, a economia com a folha de salários será de R$ 2,3 bilhões por ano, quantia que subirá para quase R$ 3,1 bilhões se somada à redução de custos de R$ 750 milhões com o fechamento de mais 400 agências.
O maior desafio do BB, agora, será realocar 9,3 mil empregados que tiveram os cargos extintos por causa do enxugamento de postos de atendimento. Caffarelli garante que a meta é concluir a movimentação de pessoal até junho de 2017. Uma coisa é certa: nenhuma dessas pessoas terá reajuste de salário. Um eventual aumento da remuneração só ocorrerá numa segunda etapa, por meio de um processo seletivo para o preenchimento de postos de gerentes-gerais e superintendentes regionais, que aderiram em volume maior do que o esperado ao programa de aposentadoria. Na média, os funcionários do BB estão se aposentando com 53 anos de idade num momento em que o governo propõe idade mínima para aposentadoria de 65 anos.
Caffarelli, que se aposentou com pouco mais de 50 anos, diz que aqueles que estão saindo do BB são beneficiários de uma regra que prevaleceu até 1998 e que todos, incluindo ele, cumpriram o prazo de até 35 anos de contribuição ao sistema previdenciário. Daqui por diante, a maioria dos funcionários terá de seguir uma praxe mais próxima da que vale para os demais trabalhadores. O presidente do BB afirma, ainda, que, com o enxugamento do quadro de pessoal, a instituição fica mais parecida com seus concorrentes privados. Os concursos, portanto, estão suspensos até que haja necessidade de reposição de mão de obra.
Toda a reestruturação do BB tem como objetivo principal adequar a instituição às exigências do Banco Central até 2019. O BB precisa elevar seu capital de segurança, hoje de 9,07%, para 9,5% do patrimônio. Sem os cortes de despesas, a fatura recairia sobre o Tesouro Nacional, ou seja, os contribuintes. Para Caffarelli, neste momento de forte ajuste fiscal, não é aceitável que o banco tenha de buscar socorro nos cofres públicos. Questionado sobre uma possível privatização do BB, limita-se a responder: “Não comento esse assunto”. Garante que não há interferência política na gestão do banco e prevê muita dificuldade para a economia sair da mais grave recessão econômica da história. A seguir, os principais trechos da entrevista que ele concedeu ao Correio.
Quantos empregados do Banco do Brasil aderiram ao programa de incentivo à aposentadoria que terminou na última sexta-feira? O resultado ficou dentro das expectativas?
No total, 9,4 mil empregados aderiram ao programa. As indenizações (que incluem 12 salários extras) custarão R$ 1,4 bilhão. Tudo ficou dentro do esperado. Se vocês lembrarem, coincidência ou não, o total de vagas que serão extintas com a reestruturação chegam a 9,3 mil. Isso permitirá um processo de realocação dentro da empresa. O número de adesões superou a do ano passado, quando 5 mil se aposentaram.
Mas a meta de adesões era de 18 mil?
Isso não era a meta, era o público-alvo. Como é um convite, nada é compulsório. Tínhamos a expectativa de que uma boa parte aderisse. E essa boa parte, na nossa avaliação, era a metade do público-alvo. Em nenhum momento dissemos que teríamos 18 mil aposentadorias. O certo é que o programa foi um sucesso. No último plano de aposentadoria, realizado em 2015, também tínhamos um alvo de 18 mil pessoas, mas apenas 5 mil aderiram.
Qual a economia esperada com as aposentadorias?
Fora os R$ 750 milhões que serão economizados com o fechamento de 402 agências e a transformação de 379 agências em postos avançados, vamos poupar R$ 2,3 bilhões por ano. No total, a economia será de quase R$ 3,1 bilhões anuais.
Isso resolve os problemas do BB ou é apenas uma parte do que precisa ser feito?
Nós não temos problema. O que o BB precisa é se enquadrar à regra de capital (exigida pelo Banco Central). Para isso, tem que aumentar a rentabilidade e cortar despesas. É um movimento de reordenação. O BB tem um gasto com folha de pagamento R$ 3 bilhões superior à dos principais concorrentes. Com o movimento que estamos fazendo, a folha será reduzida em R$ 2,3 bilhões. É um número significativo.
O BB ficará mais próximo da realidade dos concorrentes diretos, como Bradesco e Itaú?
Exatamente. Lembrando que o pacote que fizemos não se resume à adesão dos funcionários à aposentadoria. Tem o fechamento de agências, as agências transformadas em postos avançados, a redução da jornada trabalho de oito para seis horas e a revisão de processos e contratos.
O incentivo à aposentadoria será renovado? Um novo programa será oferecido no próximo ano?
Nossa maior preocupação agora é de não falar em novos programas, porque estamos no meio de um. Posso dizer que a prioridade, neste momento, é realocar os 9,3 mil funcionários que vão mudar de posição em função da reestruturação. O que nos dá a garantia de que a realocação acontecerá da melhor forma possível é a abertura de 9,4 mil vagas por meio da aposentadoria. A prioridade da empresa é o seu funcionário. Os 9,3 mil funcionários serão realocados até junho do próximo ano, preservando salários e tentando mantê-los na mesma cidade ou o mais próximo possível de onde residem.
Qual a idade média dos empregados do BB que estão aderindo ao Plano de Aposentadoria Incentivada?
A idade média do público-alvo é de 53 anos.
Não é uma idade baixa para um país que está estendendo a idade mínima para a aposentadoria para 65 anos?
Na prática, esse pessoal começou a contribuir para o fundo de pensão do BB, a Previ, e tem direito a resgatar o investimento feito ao longo de até 35 anos de trabalho. Simplesmente, a Previ, dentro de seu cálculo atuarial, já considera o desembolso de caixa desses funcionários a partir dos 50 anos. Então, tudo está dentro de uma regra, que mudou em 1998. Praticamente, menos de 10% do quadro do BB se enquadra na regra anterior que está valendo para quem está aderindo ao plano de aposentadoria incentivada. Essa regra está em extinção.
O senhor pegou essa regra antiga e se aposentou com pouco mais de 50 anos?
Eu peguei (a regra antiga) porque entrei no BB com 14 anos, como menor aprendiz. Contribuo (para a Previ) desde os 14 anos de idade.
Quais são as novas regras?
A regra atual da Previ é igual à de qualquer tipo de previdência complementar. De contribuição definida. A pessoa recebe de acordo com o que contribui.
Qual público está aderindo mais à aposentadoria incentivada?
Estamos tendo um volume de aposentadorias de gerentes maior do que o esperado. Observamos isso também no caso de superintendentes regionais, que somam, atualmente, 100. Com a aposentadoria, faltarão superintendentes. Lá na frente teremos que fazer um processo de seleção interna para as vagas que ficarão abertas. Isso permitirá um processo de ascensão dentro da empresa. A adesão à aposentadoria nesses dois grupos foi maior do que as vagas cortadas. À medida que tivermos concluído a reacomodação natural, começaremos a fazer a ascensão interna. Precisaremos de superintendentes regionais e de gerentes-gerais.
Os empregados estão sendo ouvidos ou isso está sendo feito de maneira unilateral?
Tudo está sendo negociado. Mas é preciso deixar claro que, nesse primeiro momento, não faremos promoções. Valerá o que chamamos de lateralidade. Estamos criando um banco de vagas e, a partir desta segunda-feira, todos os 9,3 mil funcionários cujas vagas foram extintas poderão concorrer a um posto. Lembrando, de novo, que o salário deles não mudará até junho de 2017, o que nos dá tempo suficiente para fazer todos os ajustes.
Mesmo que ocupem vagas de pessoas que se aposentaram e ganhavam mais, eles não terão aumento de salário?
O banco tem um sistema de comissionamento. Faremos um convite aos funcionários que ficaram para que preencham as vagas, mas com salário próximo do que ganham.
Com o incentivo à aposentadoria, as vagas remanescentes também serão preenchidas por meio de concursos públicos? Ou os concursos no BB estão suspensos?
A prioridade, como já disse, é realocar os funcionários atingidos pela reestruturação. Estamos muito felizes porque nosso quadro de empregados está equilibrado. Na realocação, faremos dois estágios. No primeiro, priorizaremos quem ficou sem vaga. Depois, vamos abrir concorrências internas para os postos que permanecerem vazios. Concurso não está na nossa pauta nesse momento. Entretanto, esse assunto virá, naturalmente, lá na frente. O banco tem uma saída natural de 2 mil empregados por ano. Então, temos que preencher duas mil vagas anualmente.
Então, neste momento os concursos estão suspensos?
Temos concurso com validade até o fim de dezembro, mas não temos intenção de chamar ninguém, porque o quadro está equilibrado. A nossa prioridade é o esforço de acomodar os funcionários que precisam ser realocados.
Com a atual reestruturação, o BB se sustenta sem aporte de capital do Tesouro Nacional, ou existe essa ameaça?
Reforço aqui o que tenho dito em todos os lugares que vou. Estamos fazendo a nossa lição de casa para que possamos enquadrar o capital do banco nos níveis de Basileia 3 (regra de segurança definida pelo Banco Central), sabendo que, em janeiro de 2019, temos que atingir um índice de 9,5%, ante os atuais 9,07%. Dos grandes bancos, o nosso índice de Basileia é o menor. Mesmo assim, dentro de um trabalho estrutural, não estamos considerando nenhum aporte de capital do Tesouro e não estamos considerando venda de ativos. Entendo que o Tesouro tem hoje outras prioridades. A política fiscal é o ponto mais importante da recuperação da nossa economia, e não será o BB que vai pedir algum tipo de auxílio ao Tesouro Nacional.
Há notícias de que o BB pode se desfazer de ativos que não fazem parte de seu negócio principal.
O Banco do Brasil não venderá, sob hipótese alguma, ativos do seu core business ou ativos geradores de receita. Podemos, sim, analisar propostas de venda de ativos que não fazem parte do nosso negócio principal. Por exemplo: temos participações na Kepler Weber e na Neoenergia. Se surgir alguma oportunidade para analisar e verificar a viabilidade de venda dessas empresas como forma de nos ajudar a reforçar o capital do banco, veremos. Mas volto a dizer: dentro de um conservadorismo, a nossa intenção hoje é resolver essa situação de capital, como todos os bancos estão resolvendo, dentro da nossa operação estrutural.
Com essa estratégia, renovar o contrato com o Banco Postal foi interessante?
Tínhamos interesse em continuar operando com o Banco Postal. Ocorre que, no desenho anterior, isso seria inviável pelo preço que o banco pagava. Eram R$ 110 milhões por mês. O Banco Postal tem uma complementariedade ao BB, pois estamos presentes em metade dos municípios do país e, com ele, ficamos presentes em quase 100% das cidades. Isso, para nós, é absolutamente importante. Mas negociamos pagamentos adequados à realidade atual. Hoje, há pagamento fixo de R$ 5 milhões por mês e, pela performance, pode-se chegar até R$ 24 milhões. É muito diferente pagar R$ 110 milhões e, agora, desembolsar R$ 24 milhões. Esse desenho foi feito em comum acordo com os Correios. Uma transição para atender os dois lados.
O que os Correios querem com essa parceria?
Um ponto importante nessa transição, que durará até 36 meses, é que qualquer uma das partes pode sair, a qualquer momento, do negócio mediante notificação com 90 dias de antecedência. Pode ser que, no futuro, apareça uma oportunidade melhor para os Correios ou para nós, e vamos optar por ela.
Por que de, tempos em tempos, há o rumor de que o BB precisará de aporte de dinheiro publico? Isso ocorreu no Plano Real, se repetiu em 2001 e fala-se muito desse assunto agora. Isso é reflexo de negócios errados ou má administração?
De maneira nenhuma. O sistema bancário mudou e está mais conservador. Se observarmos as regras de Basileia, cada vez mais é exigido um volume de capital das instituições financeiras, o que resulta em necessidade de ajuste. Quero dizer que o ajuste que está sendo feito não é porque o banco precisa de capital. O ajuste é feito com base nas regras de Basileia.
O processo de ajuste do banco começa a ser contestado na Justiça. Há ações, por exemplo, no Maranhão. Há risco de esse processo ser interrompido?
De maneira nenhuma. Tomamos cuidado de conversar com todas as autoridades locais, governos dos estados, com as prefeituras, com o Congresso, com os Procons. Cada convite que recebemos, aceitamos. Há um ou outro caso isolado, que estamos respondendo dentro do que é solicitado. Mas, repito, isso, de maneira nenhuma, mudará nossos planos. Temos esclarecido que o BB não sairá de nenhum município onde só há uma agência do banco. Esse é um ponto que estamos mantendo. Outra coisa: a transformação de agências em postos avançados não muda absolutamente nada para os clientes. O que muda é a estrutura de custos para o banco. Temos observado que as autoridades interessadas nesses esclarecimentos vêm se satisfazendo com as explicações.
Nas conversas periódicas que o senhor tem com o ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, é colocada a necessidade de o BB ter de aderir a qualquer pacote?
Não converso esse tipo de coisa com o ministro Meirelles.
No pacote que o governo deve lançar para estimular a economia, o BB será obrigado a baixar juros na marra?
As taxas de juros cobradas pelo BB são regidas pela lei de mercado.
Por que os juros no BB são tão altos e, algumas linhas, são maiores do que os cobrados pelos bancos privados?
Uma coisa importante que o Banco Central vem fazendo é dar ao cidadão formas de comparar taxas de juros e tarifas entre os bancos. Se você pegar só dados do BC, encontrará bancos que têm taxas mais alta para um determinado produto e outras mais baixas. Isso é reflexo do que chamamos de índice de perdas, quando você tem um volume de inadimplência que se reflete na taxa. Ou seja, o risco daquela operação. Eu diria que o mercado está bastante balanceado em relação a isso. Você vai encontrar bancos com taxas mais altas em alguns produtos e outras mais baixas. Depende do momento e da participação daquele banco em determinados produtos.
Mas há perspectivas de redução dos juros? Tem espaço para isso?
A redução de juros vai acontecer na medida em que houver a retomada do crescimento e com a movimentação da Selic (a taxa básica definida pelo BC).
O Banco Central já cortou duas vezes a Selic desde outubro último. Mesmo assim o BB não fez nenhum movimento em favor dos clientes. O BB está aproveitando para aumentar sua margem de lucro?
O reflexo desses cortes de Selic acontecem, geralmente, nas operações lastreadas em empréstimos e financiamentos que têm taxa variável, como é o CDI (certificado de depósito interbancário) ou a Selic. Quando o BC corta a Selic, o custo das prestações dessas operações cai.
Mas não tem nenhuma linha de crédito tradicional de que o BB cortou juros?
Esse é um processo que não ocorre concomitante à redução da Selic, vai se adequando à realidade. Não tenho dúvidas de que, com os cortes promovidos pelo BC na Selic, a tendência é de os bancos baixarem os juros. Temos um mercado extremamente competitivo.
Por enquanto o BB está usando os cortes da Selic para aumentar o lucro.
De maneira nenhuma. Volto a dizer: na hora que eu tenho uma grande parte das operações lastreadas em CDI, por exemplo, os juros mudam imediatamente. No caso de uma empresa que tem um empréstimo a juros correspondente a 120% do CDI, a prestação do mês em que a Selic está em 14,25% ao ano é uma. Quando a Selic cai para 13,75%, a prestação é outra. Agora, volto a dizer, o que rege o mercado financeiro é o mercado. Com a lei de oferta e procura, o cliente buscará sempre a melhor taxa.
Há, hoje, necessidade de renegociação de dívidas de R$ 500 bilhões de empresas que estão em dificuldades. O BB aderiu a esse processo?
Renegociação de dívida faz parte do negócio dos bancos. O que acontece é que, em momentos de adversidades, há um volume maior de empresas e pessoas com dificuldade de pagar as contas em dia. O BB vem fazendo o processo de renegociação e de adequação das dívidas à capacidade de pagamento dos clientes desde o início da crise. Não podemos esquecer que estamos no vigésimo trimestre com a economia em dificuldade.
Como esse processo é lento, não veremos uma força maior do crédito tão cedo.
A força do crédito só ocorre na retomada do crescimento econômico e no aumento da demanda interna. Isso vai acontecer com as medidas tomadas em relação à economia, com os programas de infraestrutura e a maior inserção do Brasil no comércio internacional.
Existe alguma orientação política para a atuação do BB?
O BB atua com base na orientação do seu conselho de administração.
Há chance de privatização do banco?
Não comento esse assunto.
Qual será o papel do BB no programa de concessões e privatizações que vem sendo elaborado pelo governo?
O BB terá papel extremamente ativo, na medida em que coordena com os bancos privados o que chamamos de fiança no período de construção dos projetos. Acabamos com empréstimos pontes que antecediam o financiamento definitivo do BNDES (Banco Nacional do Desenvolvimento Econômico e Social). A partir de agora, o desenho prevê que tanto o BNDES quanto o FI-FGTS (Fundo de Investimentos do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço) aportem recursos no início do programa, mediante a emissão de debêntures. No período de construção do projeto, o BB e os bancos privados darão a fiança necessária. Quando o projeto começar a gerar recebíveis (receitas futuras), o risco voltará para o FI-FGTS e para o BNDES. E, na medida em que a taxa de juros de curto prazo se aproximar da de longo prazo, esses recebíveis passarão a despertar interesse do mercado financeiro como investimentos. Estamos acreditando bastante nisso. É importante que os projetos sejam robustos. É importante o envolvimento de todos os atores, o governo, os bancos, os construtores, os reguladores, de forma que tenhamos premissas adequadas ao projeto, para que tenham começo, meio e fim.
Por que, na sua avaliação, a economia está demorando tanto para reagir? Era esperado que, com a mudança de governo, o otimismo fosse suficiente para dar uma alavancada na atividade. A crise é maior do que o imaginado?
Temos que olhar o histórico. As três últimas crises duraram de quatro a cinco trimestres. Sendo que, a última, de 2009, coincidiu com o crescimento do consumo em função da migração de 50 milhões de brasileiros das classes D e E para a classe C, consumindo no momento que o Brasil precisava. Nesse momento, estamos falando de uma crise que já dura 20 trimestres. É notório que a recuperação se dará de forma mais lenta. Os movimentos necessários para a retomada do crescimento estão sendo feitos. E os reflexos começarão a aparecer. Mas é preciso ter consciência de que a crise é diferente.
Por que a crise é diferente?
Porque é muito mais profunda do que as crises anteriores. Nas últimas crises, quando olhamos os gráficos, vemos as letras U e V, porque eram curtas e a atividade recuperava o fôlego rápido. Agora, não dá para definir uma letra.
O problema é que a crise não é só econômica. É política, ética, institucional.
Eu só comento o contexto econômico.
Uma oferta maior de crédito ajudará a resolver esse problema?
Volto a dizer, o crédito é consequência da retomada do crescimento econômico e do aumento da demanda.
Há uma pressão para que o Banco Central libere depósitos compulsórios dos bancos. Isso realmente é necessário ou o sistema tem liquidez suficiente para responder ao aumento da demanda por crédito?
Isso é uma decisão do regulador.
Os investidores institucionais, entre eles os fundos de pensão, estão ressabiados com o pacote de concessões e privatização diante de taxas de juros tão elevadas. O programa de infraestrutura pode ser um mico?
De forma nenhuma, porque os investidores começaram a investir nesses projetos após a construção. Eles podem participar com o FI-FGTS e o BNDES. Existem bancos estrangeiros interessados nisso. Agora, o investidor institucional vem para esses projetos à medida que começam a gerar recebíveis. Até lá, haverá a redução dos juros.
O sistema bancário como existe hoje está com os dias contados?
Não, principalmente no Brasil. Mesmo com a transformação digital, a necessidade de pessoas é cada vez maior para fazer a interação com o cliente. Hoje, mesmo com 67% das transações bancárias sendo digitais (há um ano, eram 59%), das quais 40% pelo celular e 27% pela internet, as pessoas ainda vão muito às agências. Esse digital veio para ficar e é muito rentável para os bancos. O cliente, quando é atendido em uma agência digital, tem participação maior no consumo de produtos e serviços. O resultado desse cliente no banco aumenta de 22% para 40%. A nossa capacidade operacional aumenta em 35% e a satisfação, 16%. O BB quer se estabelecer como banco digital, com atendimento físico, o que é um diferencial entre os modelos existentes. Temos, atualmente, 63 milhões de clientes, dos quais 9 milhões operam pelo celular. Ou seja, temos 54 milhões de clientes que ainda utilizam as agências tradicionais. E o Brasil ainda está em processo, no qual o BB poderá ser atuante, de educação financeira e bancária. Os mais de 50 milhões de brasileiros que ascenderam socialmente precisam de educação financeira e bancária para olhar juros, prazo, orçamento doméstico.
O BB está preparado tecnologicamente para competir com os outros bancos?
O BB, não tenho receio de afirmar, tem a melhor solução digital de todo o país. Lá atrás, investimos muito em automação bancária. São 4 mil pessoas cuidando de toda a estrutura de banco de varejo, de atacado e de governo. A nossa solução digital é a melhor. O que posso dizer é que nos comunicamos mal. Agora, vamos procurar nos comunicar melhor, para mostrarmos aos clientes que temos a melhor solução do mercado.
Todo esse processo de reestruturação é para investir nesse BB digital?
Exatamente. Pela avaliação dos clientes, batemos todos os bancos. Qual o banco que tem gente no Vale do Silício há um ano? Só o BB. E mais: os bancos enfrentam um desafio muito grande hoje, na medida em que atores que não faziam parte do sistema vão concorrer com as instituições tradicionais. Então, os bancos não podem, de maneira nenhuma, se acomodar. Têm que estar abertos a buscar as melhores soluções para os serviços. Não teremos apenas uma solução, mas várias. A arte será escolher uma solução que tenha aplicabilidade e demanda do público.
Nos últimos meses vimos ações policiais contra os fundos de pensão, e a Previ está nesse contexto.
Temos demonstrado pelos números da Previ e pela sua robustez por que a entidade é o maior fundo de pensão da América Latina, sólido e bem administrado.
Mas, no ano passado, o fundo teve deficit.
Por consequência do mercado acionário.
A Previ está blindada de ingerências políticas?
Quem nomeia na Previ é o Banco do Brasil e seus funcionários. Há um sistema de gestão equilibrado entre patrocinador e empregados. E esse trabalho vem sendo feito e é considerado um grande modelo de gestão.
A reestruturação do BB também alcançará a Previ?
Mudanças podem ocorrer a qualquer momento.
Brasília, 00h06min