Diretores do BC têm sido bombardeados de más notícias nas conversas que vêm mantendo com economistas de mercado para elaborarem o Relatório de Inflação. Além da atividade mais fraca, os especialistas ressaltam que a inflação deste ano e do próximo será mais alta, reflexo, sobretudo, da recente disparada do dólar e dos estragos provocados pela greve dos caminhoneiros.
O BC, em seu relatório, não jogará a toalha, até porque esse não é o seu papel. Mas, mesmo ressaltando que a economia brasileira tem bons fundamentos para enfrentar a atual crise, destacará que a onda de incertezas aumentou muito, tanto no plano doméstico, por causa das eleições e da não aprovação da reforma da Previdência, quanto no plano externo, diante da mudança na política monetária dos Estados Unidos.
Na avaliação de analistas que têm canal direto com o BC, o Brasil sofre por ter um governo fraco, rejeitado por 82% da população e que perdeu a capacidade de articulação com o Congresso. Por isso, o trabalho da autoridade monetária para manter o mínimo de ordem da economia será maior. Até bem pouco tempo atrás, mesmo ciente das fragilidades do governo de Michel Temer, o mercado mantinha uma postura complacente. Depois da greve dos caminhoneiros, que explicitou um governo sem rumo, essa complacência se esvaiu por completo. O dólar disparou e a Bolsa de Valores derreteu.
Há, ainda, outra observação do mercado: a perda de poder da equipe econômica. Hoje, tanto na Fazenda quanto no Planejamento, o que se vê é o segundo escalão dando as cartas. Mas nenhum dos técnicos tem trânsito suficiente no Palácio do Planalto e no Congresso. Estão mais ali para cumprir tabela até o fim melancólico do governo. O quadro só não está pior devido à permanência de Ilan Goldfajn à frente do Banco Central.
Brasília, 12h05min