ROSANA HESSEL
Além de elevar as projeções de crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) deste ano, o Banco Central melhorou as estimativas para a entrada de investimento estrangeiro no país, mas alertou para a debandada do capital externo do mercado de ações. Conforme dados do Relatório Trimestral de Inflação (RTI), divulgado nesta quinta-feira (29/9), o BC elevou de US$ 55 bilhões para US$ 70 bilhões a projeção para o Investimento Direto no País (IDP) neste ano, em grande parte, devido aos fluxos maiores do que o esperado entre janeiro e maio deste ano, “para patamares comparáveis aos observados no período pré-pandemia”.
“Diversos fatores podem estar favorecendo esse fluxo: a melhora da atividade econômica doméstica e da lucratividade das empresas; a retomada de projetos postergados devido à pandemia; e a demanda por investimentos em setores como energia, tecnologia e óleo e gás. Os investimentos em carteira, por outro lado, passaram a registrar saídas nos últimos meses”, destacou o relatório do BC.
O documento associou esse movimento de retirada dos investimentos em carteira à perspectiva de ajuste mais intenso na política monetária de economias avançadas, principalmente nos Estados Unidos, porque reduz a atratividade relativa de ativos financeiros em países emergentes. “Os fluxos recentes e essa perspectiva mais desafiadora justificam a revisão da projeção para 2022”, acrescentou o texto.
Em junho, o BC tinha reduzido a expectativa de entrada de fluxos de investimento em carteira, de US$ 11 bilhões para US$ 7 bilhões, devido às projeções de aumento dos juros nas economias desenvolvidas, que tendem a mudar a direção do fluxo de capital estrangeiro. Agora, a autoridade monetária passou a prever a saída de US$ 9 bilhões nos investimentos estrangeiros em ações na Bolsa de Valores de São Paulo (B3).
Piora nas contas externas
No relatório, o BC destaca que houve mudanças importantes no cenário prospectivo das contas externas, com expectativa de piora no saldo de transações correntes e maior entrada líquida de IDP neste ano.
A autoridade monetária revisou a projeção para o saldo em conta corrente em 2022, de superavit de US$ 4 bilhões (0,2% do PIB) para deficit de US$ 47 bilhões (2,5% do PIB), principalmente, devido à reavaliação para baixo do superavit esperado na balança comercial, que passou de US$ 86 bilhões para US$ 42 bilhões.
Para 2023, o deficit em conta corrente do país deverá recuar para US$ 36 bilhões (1,8% do PIB), pelas projeções do BC, “em decorrência da melhora esperada para o saldo da balança comercial, e pequeno aumento nas entradas líquidas de IDP”. A previsão do BC para o fluxo do IDP no ano que vem é de US$ 75 bilhões.