ROSANA HESSEL
O Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central decidiu, nesta quarta-feira (16/09), manter a taxa básica da economia (Selic) em 2% ao ano, interrompendo um ciclo de nove reuniões consecutivas de cortes, iniciado em julho de 2019.
A decisão era esperada pelo mercado e ela foi unânime, segundo o comunicado. A taxa básica de juros continua no menor patamar da história. O Comite informou que entende que essa decisão “é compatível com a convergência da inflação para a meta no horizonte relevante, que inclui o ano-calendário de 2021 e, em grau menor, o de 2022”.
No comunicado, o Copom ressaltou que, no cenário básico para a inflação, “permanecem fatores de risco em ambas as direções”. O colegiado destacou que, por um lado, o nível de ociosidade pode produzir trajetória de inflação abaixo do esperado, notadamente quando essa ociosidade está concentrada no setor de serviços. “Esse risco se intensifica caso uma reversão mais lenta dos efeitos da pandemia prolongue o ambiente de elevada incerteza e de aumento da poupança precaucional”, informou o documento. Por outro, destacou que as políticas fiscais de resposta à pandemia que piorem a trajetória fiscal do país de forma prolongada, ou frustrações em relação à continuidade das reformas, “podem elevar os prêmios de risco”.
“Adicionalmente, os diversos programas de estímulo creditício e de recomposição de renda, implementados no combate à pandemia, podem fazer com que a redução da demanda agregada seja menor do que a estimada, adicionando uma assimetria ao balanço de riscos. Esse conjunto de fatores implica, potencialmente, uma trajetória para a inflação acima do projetado no horizonte relevante para a política monetária”, destacou a nota.
O Copom ainda reforçou que “perseverar no processo de reformas e ajustes necessários na economia brasileira é essencial para permitir a recuperação sustentável da economia”. “O Comitê ressalta, ainda, que questionamentos sobre a continuidade das reformas e alterações de caráter permanente no processo de ajuste das contas públicas podem elevar a taxa de juros estrutural da economia”, afirmou a nota.
O Copom entende que a conjuntura econômica continua a prescrever estímulo monetário extraordinariamente elevado, mas reconhece que, devido a questões prudenciais e de estabilidade financeira, o espaço remanescente para utilização da política monetária, se houver, deve ser pequeno. Consequentemente, eventuais ajustes futuros no atual grau de estímulo ocorreriam com gradualismo adicional e dependerão da percepção sobre a trajetória fiscal, assim como de novas informações que alterem a atual avaliação do Copom sobre a inflação prospectiva.
O comunicado ainda destacou que considera apropriado utilizar uma “prescrição futura” (isto é, um “forward guidance“) como um instrumento de política monetária adicional. “Nesse sentido, e apesar de uma assimetria em seu balanço de riscos, o Copom não pretende reduzir o grau de estímulo monetário, a menos que as expectativas de inflação, assim como as projeções de inflação de seu cenário básico, estejam suficientemente próximas da meta de inflação para o horizonte relevante de política monetária, que atualmente inclui o ano-calendário de 2021 e, em grau menor, o de 2022. Essa intenção é condicional à manutenção do atual regime fiscal e à ancoragem das expectativas de inflação de longo prazo”, completou.
A decisão do Copom em manter a taxa Selic vai em linha com a maioria dos bancos centrais globais. Mais cedo, o Fomc, o Copom do Federal Reserve (Fed, o banco central dos Estados Unidos) decidiu, por unanimidade, a manutenção dos juros na faixa atual de 0% a 0,25% ao ano.