ROSANA HESSEL
O Banco Central manteve a taxa básica da economia (Selic) em 13,75% ao ano no segundo dia da reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), realizada nesta quarta-feira (26/10). A decisão era esperada pelo mercado e foi unânime.
Foi o segundo encontro seguido do Comitê em que a Selic não é alterada. Em setembro, a autoridade monetária manteve os juros no atual patamar e vem sinalizando que a Selic deverá continuar em patamar elevado por um longo período.
No comunicado divulgado após a reunião, o Copom informou que “entende que essa decisão reflete a incerteza ao redor de seus cenários e um balanço de riscos com variância ainda maior do que a usual para a inflação prospectiva, e é compatível com a estratégia de convergência da inflação para o redor da meta ao longo do horizonte relevante, que inclui os anos de 2023 e de 2024”. O colegiado ainda ressaltou que se manterá vigilante, “avaliando se a estratégia de manutenção da taxa básica de juros por período suficientemente prolongado será capaz de assegurar a convergência da inflação”.
“O Comitê reforça que irá perseverar até que se consolide não apenas o processo de desinflação como também a ancoragem das expectativas em torno de suas metas. O Comitê enfatiza que os passos futuros da política monetária poderão ser ajustados e não hesitará em retomar o ciclo de ajuste caso o processo de desinflação não transcorra como esperado”, disse o comunicado.
Apesar de o comunicado não dar uma sinalização de quando os juros podem cair, o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, vem sinalizando que um eventual corte da Selic poderá ocorrer somente a partir de junho de 2023. Analistas são unânimes em afirmar que, independente do resultado, quem vencer as eleições no próximo domingo (30/10) precisará recuperar a credibilidade da política fiscal, pois as regras atuais não se sustentam mais e, portanto, será preciso criar um novo arcabouço mais confiável e que permita adoções de uma política social mais inclusiva, e que, principalmente, possa restaurar a confiança do compromisso do governo com a austeridade fiscal.
“Sem dúvidas, a questão fiscal vai ser o divisor de águas para tudo e não apenas para os juros”, alertou o economista-chefe do Banco Alfa, Luis Otavio de Souza Leal. Para ele, a taxa Selic só deverá cair em agosto de 2023. “Acho que os juros podem começar a cair em agosto, mas se o governo começar fazendo o dever de casa, restaurando o arcabouço fiscal, a Selic poderá cair antes”, destacou.
Veja a íntegra da decisão do Copom:
Em sua 250ª reunião, o Comitê de Política Monetária (Copom) decidiu manter a taxa Selic em 13,75% a.a.
A atualização do cenário do Copom pode ser descrita com as seguintes observações:
O Comitê ressalta que, em seus cenários para a inflação, permanecem fatores de risco em ambas as direções. Entre os riscos de alta para o cenário inflacionário e as expectativas de inflação, destacam-se (i) uma maior persistência das pressões inflacionárias globais; (ii) a incerteza sobre o futuro do arcabouço fiscal do país e estímulos fiscais adicionais que impliquem sustentação da demanda agregada, parcialmente incorporados nas expectativas de inflação e nos preços de ativos; e (iii) um hiato do produto mais estreito que o utilizado atualmente pelo Comitê em seu cenário de referência, em particular no mercado de trabalho. Entre os riscos de baixa, ressaltam-se (i) uma queda adicional dos preços das commodities internacionais em moeda local; (ii) uma desaceleração da atividade econômica global mais acentuada do que a projetada; e (iii) a manutenção dos cortes de impostos projetados para serem revertidos em 2023. O Comitê avalia que a conjuntura, ainda particularmente incerta e volátil, requer serenidade na avaliação dos riscos.
Considerando os cenários avaliados, o balanço de riscos e o amplo conjunto de informações disponíveis, o Copom decidiu manter a taxa básica de juros em 13,75% a.a. O Comitê entende que essa decisão reflete a incerteza ao redor de seus cenários e um balanço de riscos com variância ainda maior do que a usual para a inflação prospectiva, e é compatível com a estratégia de convergência da inflação para o redor da meta ao longo do horizonte relevante, que inclui os anos de 2023 e de 2024. Sem prejuízo de seu objetivo fundamental de assegurar a estabilidade de preços, essa decisão também implica suavização das flutuações do nível de atividade econômica e fomento do pleno emprego.
O Comitê se manterá vigilante, avaliando se a estratégia de manutenção da taxa básica de juros por período suficientemente prolongado será capaz de assegurar a convergência da inflação. O Comitê reforça que irá perseverar até que se consolide não apenas o processo de desinflação como também a ancoragem das expectativas em torno de suas metas. O Comitê enfatiza que os passos futuros da política monetária poderão ser ajustados e não hesitará em retomar o ciclo de ajuste caso o processo de desinflação não transcorra como esperado.
Votaram por essa decisão os seguintes membros do Comitê: Roberto de Oliveira Campos Neto (presidente), Bruno Serra Fernandes, Carolina de Assis Barros, Diogo Abry Guillen, Fernanda Magalhães Rumenos Guardado, Maurício Costa de Moura, Otávio Ribeiro Damaso, Paulo Sérgio Neves de Souza e Renato Dias de Brito Gomes.
*Valor obtido pelo procedimento usual de arredondar a cotação média da taxa de câmbio USD/BRL observada nos cinco dias úteis encerrados no último dia da semana anterior à da reunião do Copom.