De 15 instituições financeiras consultadas pelo Blog, 12 admitem que o Banco Central pode dar início ao processo de corte da taxa básica de juros (Selic) a partir de outubro. Ainda que essa possibilidade não esteja no cenário principal traçado por esses agentes, o discurso é de que o BC de Ilan Goldfajn ficou mais “dovish” e já está preparando o mercado para a mudança na política monetária.
Essa percepção ganhou força diante da mudança no comunicado pós-reunião do Comitê de Política Monetária (Copom). No documento de julho, da primeira reunião com o time comandado por Ilan, havia um trecho no qual o BC dizia trecho “não haver espaço para a flexibilização da política monetária”. Era uma posição “hawkish”. No informe liberado hoje, essa ressalva desapareceu.
Para os analistas, a linha mais dura adotada no discurso de julho era justificada pela necessidade do Banco Central de passar um posicionamento duro a fim de reconstruir sua reputação em meio a um governo interino. Agora, com Michel Temer confirmado na Presidência da República e a confiança de que o ajuste fiscal passará do discurso para a prática, Ilan e subordinados se sentem mais confortáveis para sinalizar cortes na Selic, mantida hoje, pela nona vez seguida, em 14,25% ao ano.
No cenário principal das 15 instituições, os juros cairão a partir de novembro. Essa aposta se baseia na perda de força da inflação. O BC acredita que as chances de o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) ficar mais próximo de 4,5% em 2017 aumentaram muito.
A diretoria de Ilan, no entanto, se desdobrará para manter de pé o discurso de que não há prazo para a Selic cair. Resta saber se vai conseguir, uma vez que não falta vontade no BC para baixar os juros.
Não custa lembrar que, na linguagem de mercado, “dovish” quer dizer pombo. É a referência para um BC mais flexível. Antes de assumir o comando da autoridade monetária, Ilan se encaixava nessa linha. “Hawkish” aponta para um BC bem mais duro no combate à inflação.
Brasília, 20h04min