O ponto alto da articulação foi consolidado em jantar celebrado na noite de terça-feira (4/6) em celebração à viagem do vice-presidente Hamilton Mourão em missão em maio à China para a Comissão Sino-Brasileira de Alto Nível de Concertação (Cosban). Em uma mesma mesa reservada para autoridades, sentaram-se o vice, o ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo, o senador Flávio Bolsonaro (PSL-RJ), e o embaixador chinês, Yang Wamming.
Participaram ainda do evento a ministra da Agricultura, Tereza Cristina, líderes e parlamentares influentes de partidos como PP, DEM, PRB, PL, PSL e outras legendas, incluindo da oposição, como o PCdoB. A proximidade entre Mourão, Ernesto e Flávio, filho do presidente Jair Bolsonaro, é simbólica. O ministro do Itamaraty é uma indicação do escritor Olavo de Carvalho. O “guru” do chefe do Executivo federal, por sua vez, usou as redes sociais no fim de abril e início de maio para atacar os militares. Entre eles, o vice-presidente, o ministro da Secretaria de Governo, Santos Cruz, e o ex-comandante do Exército, Eduardo Villas Bôas. Parte dos embates foi endossado pelo vereador Carlos Bolsonaro (PSC-RJ), filho de Bolsonaro e irmão de Flávio.
A solenidade em celebração a Mourão não deixou Ernesto e Flávio desconcertados. Nem era a intenção de integrantes da Frente Parlamentar Brasil-China. Tudo foi conversado previamente. A ideia foi para, justamente, mostrar união do governo e a disposição em, juntos, terem um relacionamento mais harmônico com o Congresso. Congressistas afirmam ao Blog que a ida de Flávio tem dedo do próprio Bolsonaro, que estimulou a ida do filho e parlamentares próximos a ele. O clima, reconhecem alguns, não era de total harmonia. “Mas é um começo”, ponderou um deputado.
O diálogo interno do governo parece ter surtido efeito, avaliam parlamentares presentes no jantar. O sentimento é de que “caiu a ficha” do governo. “O Olavo continua batendo nos militares e no relacionamento feito por eles com os chineses, mas os filhos não estão deixando ecoar as críticas nas redes sociais”, ponderou um deputado. Outro vê com bons olhos a ida de Ernesto ao jantar. “A China é um parceiro que não pode ser esquecido em lugar algum do mundo. A presença dele nos parece que as relações exteriores estarão inseridas em um processo mundial sem a discussão ideológica”, argumentou.
Além do discurso
A percepção dos congressistas é respaldada por Ernesto. Ao Blog, o ministro sinalizou a disposição em ir “além do discurso” ao avaliar a presença dele no jantar. “Vim a convite do deputado Fausto, que vem fazendo trabalho excepcional na comissão e na frente. E isso ajuda muito no nosso trabalho. Precisamos ter agenda construtiva tanto com a China, quanto a nível do Brics (bloco que reúne Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul). Então, precisávamos desse contato com o Parlamento, Câmara e Senado, para construirmos as coisas que queremos que são coisas concretas, novas iniciativas, indo além do discurso. E acho que estamos mostrando isso com resultados que começamos a ter com a China nas perspectivas de ampliação do comércio”, destacou, ainda na terça-feira.
O ministro afirmou que a viagem prevista com Bolsonaro está mantida para o segundo semestre deste ano, embora não tenha batido o martelo em uma data concreta. Lá, o chanceler e o presidente se reunirão com investidores e autoridades chinesas. A manifestação do titular do Itamaraty anima Fausto. O articulador do jantar defende a união dos alicerces governistas, mesmo nas discordâncias. “Isso engloba militares, Guedes (ministro da Economia), filhos, Ernesto e Moro (ministro da Justiça). Todos devem estar juntos”, sustentou.
A abertura de mercado com os Estados Unidos articulada por Ernesto não deve isolar a China, defende Fausto. “Já temos muitos problemas internos e não temos que criar problemas externos com os chineses e os árabes. É algo que pode afetar as exportações, que é uma das principais bandeiras econômicas do Brasil. Precisamos pensar em geração de emprego, renda e consumo para a retomada da economia”, disse ao Blog.