Bovespa consegue fechar acima de 100 mil pontos

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ROSANA HESSEL

Após abrir o pregão em queda e registrar oscilações em torno dos 99 mil pontos ao longo do dia, a Bolsa de Valores de São Paulo (B3) deu um gás nos últimos minutos de pregão desta sexta-feira (10/07) e conseguiu romper a barreira de 100 mil pontos, embalada mais pelo mercado externo. O patamar foi mantido até o encerramento das negociações. É a primeira vez que isso ocorre desde 5 de março.

“O impulso hoje veio de fora. A empresa Gilead divulgou que o remdesivir reduziu em 62% a mortalidade em pacientes com casos graves da doença”, destacou Gustavo Cruz, estrategista da  RB Investimentos. “Esse é sempre o ponto positivo no radar, mesmo que o processo das vacinas só tenham alguma previsão de conclusão para outubro. Aparecendo algum tratamento com resposta boa, investidores ficam mais aliviados”, destacou.

O Índice Bovespa, principal indicador da B3, encerrou o pregão com alta de 0,88%, a 100.031 pontos. Na véspera, essa barreira foi testada mas não se sustentou por muito tempo. As ações da CVC Brasil, que anunciou aumento de capital aprovado pelo conselho, e da Cogna, da área de educação, lideraram as altas do dia, com valorizações de 15,5% e de 12,8%, respectivamente. Outro destaque ficou com a Hering, cujos papéis subiram 6%. O dólar fechou em queda de 0,31%, cotado a R$ 5,322.

Na semana o IBovespa acumulou alta de 3,38%, contribuindo para a elevação de 5,23% no mês de julho. O volume financeiro negociado no dia foi de R$ 24,4 bilhões. No ano, a B3 ainda está no vermelho, com desvalorização de 13,5%.

Eduardo Velho, estrategista da INVX Global Brasil, também atribuiu ao mercado externo essa melhora na B3 no fim do pregão. Ele demonstrou cautela com a aparente retomada do otimismo na Bolsa nesta sexta-feira, pois, o clima de incerteza sobre a recuperação da economia global ainda persiste. “O mercado ficou meio de lado, hoje, mas em alta, e acabou acompanhando as bolsas dos Estados Unidos. Mas sabemos que, em algum momento, como a crise da pandemia nos EUA está se aprofundando, haverá alguma correção”, alertou.

Velho lembrou que essa alta da B3 em meio à pandemia vem sendo impulsionada pela entrada de investidores domésticos, que partiram para investimentos de risco diante da queda dos juros. A Selic (taxa básica da economia), em 2,25% ao ano, está no menor patamar da história e a maioria das aplicações em renda fixa empata ou perde para a inflação. Ele reforçou que os investidores não residentes não são tão confiantes como os brasileiros.  “O fluxo de saída de estrangeiros da Bolsa, no acumulado do ano, já encosta em R$ 80 bilhões e o dólar continua valorizado”, destacou. Para ele, a volatilidade do mercado financeiro deverá continuar, “apesar de os ruídos políticos terem diminuído nos últimos dias”.

As bolsas internacionais tiveram comportamento atípico. Enquanto as asiáticas fecharam no vermelho, as europeias ficaram no azul, embaladas pela expectativa de aprovação, na semana que vem, de um novo pacote de socorro da União Europeia. Em Nova York, a Nasdaq, abriu em queda após renovar máximas por dois dias seguidos, mas acabou se recuperando em ritmo de alta abaixo de 1%. Já os índices Dow Jones e S&P 500 avançavam acima de 1%.

Um dado que não animou os operadores da bolsa paulista logo na abertura do pregão foi a queda de 0,9% no setor de serviços no mês de maio em relação a abril. Foi a quarta queda consecutiva, de acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Na comparação com o mesmo intervalo de 2019, o tombo foi de 19,5%, o maior da série histórica.  O segmento é de grande importância na composição dos dados do Produto Interno Bruto (PIB), pois tem um peso em torno de 70%.

“Contrariando o visto na indústria (0,7%) e no varejo (13,9%), o setor de serviços teve mais um mês de contração em maio de 0,9%. Após o resultado muito acima do esperado do varejo, o resultado dos serviços adiciona cautela na avaliação de que a recuperação da atividade será mais rápida do que o esperado”, explicou o economista-chefe do Banco Fator, José Francisco de Lima Gonçalves. ” A recuperação não deve ser homogênea, assim como não foi na recessão anterior. Então, o setor de serviços foi o último a se recuperar e foi atingido pela crise do coronavírus em situação mais frágil em relação à indústria e ao varejo”, apostou.  Ele acredita que, na semana que vem, a B3 tem chance de continuar acima de 100 mil pontos, “mas sem nenhum colapso”.

Enquanto isso, a inflação oficial de junho medida pelo Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) registrou alta de 0,26%, ficando levemente abaixo do esperado pelo mercado, de 0,30%. Esse resultado do IPCA deixou as taxas dos títulos públicos negociados via Tesouro Direto sem uma direção clara, segundo operadores.

Vicente Nunes