Prestes a ser afastada do poder, a presidente Dilma Rousseff continua improvisando e tratando as contas públicas com remendos. Para bancar o populismo de última hora, ela decidiu aumentar uma série de tributos — dois deles já recusados pelo Congresso — para cobrir a correção de 5% da tabela do Imposto de Renda, medida que deveria ser anunciada há muito tempo e não no fim da festa. A correria para encontrar receitas que pudessem garantir o arroubo de boa vontade da petista criou uma série de constrangimentos na Receita Federal. De cada 10 auditores, nove classificam algumas das medidas como maluquice, a começar pela tributação de até 25% sobre heranças e doações, tratadas, agora, como renda. Se aprovada, essa cobrança provocará uma série de ações na Justiça.
Não há como acreditar que, com esse pacote improvisado, Dilma tente buscar apoio popular para reverter o que já está sacramentado: a aprovação de seu processo de impeachment pelo Senado na próxima quarta-feira. A presidente será afastada porque cometeu uma série de irregularidades nas finanças públicas. Ela repete insistentemente que é inocente, mas descumpriu claramente a Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF), que não é uma lei menor. Dilma também pagará, ao ser retirada do Palácio do Planalto, por ter quebrado o país. Mesmo entre os caciques do PT, todos reconhecem que a administração da petista foi desastrosa do ponto de vista econômico.
A aprovação do impeachment pela comissão do Senado que discutiu o assunto praticamente sacramenta o fim da era PT. O partido, que chegou ao mais alto posto do país embalado por um discurso ético, encerrará, com Dilma, sua trajetória da pior forma possível: associado à corrupção. É praticamente impossível que, depois de afastada por 180 dias, a presidente consiga reunir forças políticas para retomar o poder. Nesse período, o discurso do golpe perderá força. Seu eventual sucessor, o vice Michel Temer, será ajudado justamente pelo maior pecado de Dilma, a economia.
Opção pelo fracasso
Os próximos dias serão melancólicos para o país. Por pior que tenha sido o mandato de Dilma, seu possível afastamento explicita o fracasso de um projeto de governo que tinha tudo para dar certo. Mesmo quem não votou na petista em 2010 ficou feliz de ver uma mulher com histórico de combate à ditadura e sem as características nada abonadoras de políticos tradicionais subir a rampa do Palácio do Planalto. Os primeiros meses da administração da petista foram alvissareiros. Não à toa, a popularidade dela batia recordes.
O tempo foi passando e desvendando a verdadeira Dilma, voluntariosa, péssima gestora e incapaz de assumir os erros e corrigi-los a tempo. Para não ouvir críticas, ela se isolou em um pequeno grupo, cujos integrantes só se preocupavam em bajulá-la. Foi metendo os pés pelas mãos, afundando a economia no atoleiro e abrindo uma crise política sem precedentes. Mesmo tendo todas as condições de virar o jogo, preferiu seguir no caminho errado, num impressionante processo de autodestruição.
É duro ver a imagem da Dilma de hoje. É a expressão da derrota, ainda que bata no peito, diga que lutará até o fim e não será empurrada para debaixo do tapete por meio de uma renúncia do mandato. A petista sabe que errou, todos no seu entorno admitem que ela foi cavando o buraco no qual meteu o país, mas vai continuar vendendo o papel de vítima, quando, na verdade, a verdadeira fatura está sendo paga pela população, que enfrenta uma forte recessão, inflação resistente e desemprego em disparada.
Perto do lixo
Muito provavelmente, na próxima semana, antes da votação do Senado, veremos mais uma ação de desespero do governo para tentar criar fatos positivos. O ministro da Fazenda, Nelson Barbosa, e o presidente do Banco Central, Alexandre Tombini, devem lançar um pacote de estímulo ao crédito que, ao que tudo indica, terá pouca eficácia ante a grave situação financeira das empresas e das famílias. Técnicos da equipe econômica dizem que tudo vem sendo preparado há meses e que, enquanto houver governo Dilma, o jogo deve ser jogado.
Não há, porém, nenhuma boa vontade com a população. O que realmente o Planalto quer, com as medidas anunciadas, é criar constrangimento a seu sucessor. O problema é que o país como um todo sairá prejudicado, pois crescerá a incerteza em relação aos rumos das contas públicas. A cada dia, as estimativas de rombo para as finanças do governo aumentam. A impressão é que Dilma não sossegará enquanto não levar o Brasil a ser classificado pelas agências de classificação de risco como lixo.
Brasília, 09h58min