O mais recente sapo veio da reunião de secretários de Segurança com o presidente da República. Eles pediram e Bolsonaro admitiu recriar o Ministério da Segurança e dar a pasta a um de seus melhores amigos, o ex-deputado Alberto Fraga, expoente da bancada da bala.
Ao admitir a recriação do Ministério da Segurança, Bolsonaro indica que vai tirar de Moro as atribuições às quais ele mais se dedica. Moro sempre ressaltou que aceitou integrar o governo do ex-capitão do Exército para cumprir sua principal missão, o combate à corrupção e ao crime organizado.
De superministro a coadjuvante
Caso se contente em permanecer num esvaziado Ministério da Justiça, de superministro, Moro se tornará um coadjuvante de segunda categoria. Para constatar isso, basta ver o que aconteceu no governo de Michel Temer, quando foi criado o Ministério da Segurança.
O então ministro da Justiça, Torquato Jardim, simplesmente desapareceu. O protagonismo foi todo para Raul Jungmann, que ficou responsável por todas as questões de segurança. Alguém acredita que será diferente agora, somente porque Moro está na Justiça?
Ciumeira
Bolsonaro vive uma relação conflituosa com Moro. Tem ciúmes do subordinado, que é mais bem avaliado do que ele em todas as pesquisas de popularidade, mas sabe que precisa dele para manter seu governo de pé. Sem Moro, Bolsonaro perderá uma leva de apoiadores.
Quando convidou Moro para o governo, Bolsonaro sinalizou ao ex-juiz que ele seria indicado para o Supremo Tribunal Federal (STF), seu sonho de consumo. Tempos depois, o presidente indicou que não cumpriria sua promessa. A preferência para o STF é por uma pessoa “terrivelmente evangélica”.
Mais recentemente, Bolsonaro sancionou o juiz das garantias no pacote anticrime, contrariando Moro, que é contra essa nova figura jurídica. Coincidentemente, no mesmo dia em que Moro comemorava a decisão do ministro Luiz Fux, do STF, de suspender, por tempo indeterminado, o juiz das garantias, Bolsonaro anunciou a possibilidade de recriação do Ministério da Segurança.
Agora, já se fala que o presidente vai trocar todo o comando da Polícia Federal, que está subordinada a Moro. No ano passado, Bolsonaro ameaçou tirar os indicados de Moro do comando da PF, mas acabou demovido da ideia.
Militares
Moro tem como protetores no governo os militares da cúpula do Palácio do Planalto. São eles que afagam o ego do ministro quando o chefe resolve fustigá-lo. Pedem sempre paciência. Mas admitem que Moro está chegando no limite.
Uma ala de militares de alta patente trabalha, nos bastidores, para lançar Moro como candidato à Presidência da República em 2022. Isso incomoda Bolsonaro, que vive alardeando a possibilidade de o ministro concorrer como seu vice em uma “chapa imbatível”.
Que ninguém se surpreenda se Moro decidir encarar o chefe nas urnas. Seria um troco e tanto pelos sapos que já engoliu.
Brasília, 11h10min