O Ministério do Planejamento fez as contas sobre o impacto dos reajustes dos servidores aprovados pela Câmara dos Deputaados, mas divulgou os números pela metade, até 2018. Não se sabe se por má-fé ou por mero esquecimento, deixou de mostrar que é a partir de 2019 que a fatura ficará muito mais pesada. Somente no primeiro ano de mandato do próximo presidente da República, o gasto extra será de quase R$ 40 bilhões.
Vamos aos fatos: pelos cálculos públicos do Planejamento, excluídas as carreiras que ainda não tiveram os aumentos aprovados pelo Congresso, os reajustes custarão R$ 52,9 bilhões entre 2016 e 2018. À essa conta deve ser acrescido o custo dos que ainda estão à espera da aprovação dos acordos, de R$ 2,3 bilhões ao ano a partir de 2017.
Assim, por baixo, o impacto do reajuste previsto de Planejamento para 2017 passará de R$ 19,4 bilhões para R$ 21,7 bilhões. Em 2018, o custo saltará de R$ 26,5 bilhões para R$ 28,8 bilhões. A fatura deste ano ficará mantida em R$ 7 bilhões. Só aí a despesa extra já terá aumentado para R$ 57,7 bilhões.
Como, em 2019, os gastos com o reajuste subirão pelo menos 36%, a despesa contratada já está em R$ 39,2 bilhões. Quer dizer: somado esse valor aos R$ 57,7 bilhões previstos até 2018, em quatro anos, os servidores custarão R$ 96,9 bilhões a mais. É verdade que esse monte de números só confunde. Mas está claro que eles vão pesar demais nas contas públicas, o que poderá exigir nova rodada de aumento de impostos, começando pela CPMF.
Para o governo de Michel Temer é confortável dizer que todos os acordos salariais foram assinados na administração de Dilma Rousseff, e que não haveria como retroagir dos acertos que são considerados justos. Mas, num momento tão conturbado da economia, seria de bom tom que um governo que assumiu com o discurso da austeridade fiscal pisasse no freio e deixasse para discutir o tema mais adiante, num contexto de crescimento econômico e de melhores perspectivas para os trabalhadores da iniciativa privada, vítimas ferozes da recessão na qual o país mergulhou.
Temer terá que gastar muita saliva para convencer os investidores que seu compromisso com o ajuste fiscal está de pé, apesar dos recentes deslizes.
Brasília, 21h44min