As mentiras, os delírios e a intolerância de Bolsonaro perante o mundo

Compartilhe

O presidente Jair Bolsonaro não economizou nas mentiras, nos delírios e na intolerância em seu discurso na abertura do da Assembleia-Geral da Organização das Nações Unidade (ONU) deste ano. No curto discurso, defendeu o tratamento precoce contra a covid-19. Criticou o passaporte para imunizados. Disse que o desmatamento na Amazônia caiu. Afirmou que, no seu governo, o Brasil recuperou a credibilidade internacional. Ressaltou que o país protege a população indígena. Jogou a culpa pela desaceleração da economia e pelo desemprego para governadores e prefeitos.

Foi, no mínimo, constrangedor ver Bolsonaro se mostrar, sem máscaras, perante o mundo. Se ainda havia dúvidas de que o presidente brasileiro é um extremista de direita, que vive num mundo paralelo e só fala para grupos radicais, todas elas caíram nesta terça-feira (21/09). Bolsonaro já começou o discurso dizendo que o seu governo afastou o Brasil do socialismo, que só as famílias tradicionais merecem respeito e que, desde a sua posse, não houve mais corrupção no Brasil.

Em relação à corrupção, basta ver o que está sendo revelado pela CPI da Covid: um esquema foi montado no Ministério da Saúde para a compra de vacinas indianas Covaxin por meio do pagamento de propina, tudo sob investigação da Polícia Federal. Além disso, há um processo contra o ex-ministro do Meio Ambiente Ricardo Salles, que teria favorecido empresários no esquema de comércio ilegal de madeira extraída da Amazônia. Mais: os quatro filhos de Bolsonaro estão na mira da Justiça, o mais novo deles, Renan, o 04, por tirar proveito de sua posição para criar facilidades a empresários.

ONU higieniza púlpito

Bolsonaro disse que, em agosto deste ano, o desmatamento na Amazônia caiu 32% em relação ao mesmo mês do ano passado. O Instituto Amazon, contudo, afirma que a área desmatada da Amazônia correspondeu, em agosto, a mais de cinco vezes o tamanho da cidade de Belo Horizonte, em Minas Gerais. Foi o quinto mês seguido de recorde de desmatamento. Nesse questão ambiental, o presidente disse que 600 mil indígenas estão sob proteção em áreas demarcadas, mas, na verdade, nunca houve tanta invasão em terras protegidas por lei.

A intolerância de Bolsonaro chegou ao ponto de, ao se referir ao Afeganistão, dizer que o Brasil só dará asilo a cidadãos cristãos daquele país. Foi um aceno claro aos grupos evangélicos, com os quais o presidente conta para a reeleição em 2022. Esse Brasil radicalizado, por sinal, tem afastado o capital estrangeiro dos negócios no país. A Bolsa de Valores de São Paulo retornou aos níveis de novembro de 2020. O dólar não para de subir. E os investimentos estrangeiros diretos estão em queda livre, mostra o Banco Central.

Enfim, Bolsonaro ficou ainda menor, se isso é possível. Desde que chegou a Nova York, explicitou-se o quanto ele é desprezado pelos seus gestos e por suas ideias sem propósitos. Entrou pela porta dos fundos do hotel no qual está hospedado, foi obrigado a comer pizza na rua porque não podia entrar em nenhum restaurante por não estar vacinado contra a covid-19 e, para encerrar, assim que acabou o discurso na ONU, o púlpito do qual falou passou por um grande processo de higienização. Ninguém queria contato com o que Bolsonaro deixou por ali.

Brasília, 11h11min

Vicente Nunes