Por LUIZ RECENA GRASSI, de Portugal
Guerra é conflito armado e não corrida às casas de apostas. Não é lugar. Esta a principal razão a justificar o atual exercício de adivinhações por parte de acadêmicos dos Estados Unidos e da União Europeia, auxiliados por dirigentes da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan), sobre a contraofensiva ucraniana, novos atos de sabotagem de Kiev contra a Rússia. Desavenças militares.
E há mais, menores, mas que mordem nacos de mídia. Zurique, Londres e mais três institutos norte-americanos apostaram em vitória iminente da Ucrânia. Nada mais falso, desmentido logo por outros analistas. Aposta-se até a data da vitória sobre os nazistas entre oito e nove de maio. Marque duplo e ponha o resto na conta do fuso horário.
Depois, veio o baixo-nível do chefe dos mercenários de Wagner, a jogar no ventilador material do intestino e dizendo que tudo ia bem. Faltam armas novas e munições. Vladimir Putin disse que foi além e mandou aos de Wagner provisões de boca, de cama e outros detalhes de infraestrutura. Prigozhin, o desbocado, ficou mais calmo mas foi surpreendido pela possível substituição de seus mercenários por soldados da Chechênia.
Estaria tudo preparado e os de Wagner teriam já planejado os primeiros passos da transmissão de poder. É bom lembrar que, além dos da Chechenia, as tropas russas estariam bem treinadas e capazes. Estima-se em 40 mil o número de novos russos a entrar na briga. E em até 400 mil o conjunto de armados. Assim a coisa não termina tão rápido.
As novidades bélicas pró-Ucrânia são os carros de combate novos dos EUA e os mais velhinhos da Alemanha. O mesmo entre os russos. Tudo funciona como pode. O resto continua do mesmo jeito para as armas. Ucrânia: vendidas, garantidas, mas só serão entregues quando for alta a Primavera. Lembrar ainda que munição que falta lá, falta cá também. Os russos têm fábricas produzindo.
A contraofensiva fica, assim, concentrada em armas, focada em alvos há muito decididos. E prognósticos a garantir e adiar sempre a batalha. O presidente ucraniano Volodimir Zelenski quer fazer qualquer coisa em maio. Putin também. Como na Segunda Guerra Mundial. Só que os russos tinham o Marechal Jukov, os norte-americanos, o presidente Eisenhower, os ingleses, o ministro Churchil. Na primeira linha de reservas de qualidade, os franceses levaram o general de Gaulle, convidado a ver os atos de Rendição. A Hitler só restou o suicídio.
Zelenski tem apoio mais forte e de menor fama. Zelenski ou Putin não chegariam ao suicídio. É mais provável um acordo. O palpite mais recente veio no fim de semana, de acadêmicos americanos: no momento, feito os balanços de armas, homens e desempenho militar, Putin poderia resolver até o próximo Verão. Não há mais Jukov; Churchill não há mais. Biden fazendo as vezes de Eisenhower, o que é pouco.
E agora Zelenski? A Guerra Patriótica foi bem comemorada. Na Ucrânia, também. Russos falam no maior bombardeio de sempre. Quatro dias seguidos inclusive sobre Kiev. Não há empates nas guerras. A Festas Patrioticas terminaram com vantagem russa. Agora, só interpretações.
O CORREIO SABE PORQUE VIU
Estava lá. A vitória na guerra é sempre o melhor momento das comemorações. E, em Moscou, as festas acontecem embaladas pelo entusiasmo dos veteranos. Em grupos, eles invadem a Praça Vermelha, cantam seus hinos, juram manter momentos assim. O Correio viu, há quase 32 anos, situação dessas. Sobrava entusiasmo e juras a vários temas. A começar pela parte bélica.
Sempre eram mostradas as novidades em armamentos, ponto alto na hora dos mísseis. O chão tremia e os veteranos estremeciam de emoção. Certa vez perguntei a um grupo desses se voltaria um dia a ter medo dos alemães. Resposta orgulhosa: nunca, nem dos alemães nem de qualquer outro. “Basta prestar atenção no que está se passando na sua frente”. “Nunca”, repetiu o veterano. Vemos novamente o que passa: o horror da verdade da guerra.