ARTIGO: Sentimentos ilhados da guerra coletiva

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Por LUIZ RECENA GRASSI

Quando pensamos dele se guardar, o sentimento ilhado volta a incomodar. Os autores brasileiros, piauienses, nunca foram a uma guerra formal, mas produziram bombas sempre a explodir nos sentimentos. Uma briga entre primos e vizinhos tem o que e onde explodir. A Ucrânia e a Rússia há um século fazem isso. Agora, estão aí de novo. Com reforços para os dois lados, com outros tipos de armas, outras maneiras de ter medo para enfrentar o sentimento ilhado. Há bombardeios na russa Belgorod e na região ucraniana Donets. A graciosa reunião da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) veio com manobras e liberou todos os países que quiserem participar da organização. Não combinaram entre entre si, não importa. Tem mais valor os aviões soviéticos remodelados, os aviões americanos F-16, um coletivo que já anda no modelo F- 35. O que não impede grupos simpáticos à Ucrânia de correr riscos.

Um bilhetinho do inglês Ben Wallace, ministro da Defesa, com a bandeirinha da Romênia rondou o teatro de operações. Recado bem recebido por Moscou. Cinco aviões da Ucrânia no chão e a gozação tomando conta. A contraofensiva da Ucrânia parece que finalmente começou. Com erros primários e descuido ao não traduzir a falta de abrigos para proteção ao povo e às armas. Na Primavera, como inúmeras vezes anunciado. Gafes inglesas à parte, Vladimir Putin, presidente da Rússia, e outros saberiam porque temer. A dúvida atual seria teórica: os ucranianos devem realizar contraofensiva maciça ou ir mais devagar? Os russos devem responder com tudo ou ir mais devagar?

A Ucrânia tem resposta majoritária: atacar pesadamente. A Rússia pensa em si de outra forma: com calma, a comer o mingau pelas beiradas. É a melhor forma: cozinhar ucranianos em fogo lento e depois dar os golpes fatais. Sem pressa. Ucrânia e seus aliados não contariam com essas astúcias. Nem com adicionais de paciência, armas e muniçôes para enfrentar conflito de curso mais longo. A Rússia é mais forte, poderosa. Consta que já teria conquistado 20 km de área dos ucranianos. O grupo Wagner se retira, exército e chechenos de Kadirov vermelho avançam. Putin tem apoio popular. Mesmo sem ajuda de marketing. Putin é mais forte e, por enquanto, vence.

Assessorada pela Otan, a Ucrânia bate em quatro ou cinco frentes. A mais recente é a explosão da Barragem de Kakhova. A fase é de acusações parte a parte. Os russos falam em sabotagem com uso de mísseis americanos. Os ucranianos respodem: a presença de russos é para sabotar o rio Dnieper. E a contraofensiva. Agora o quadro esquenta.

O CORREIO SABE PORQUE VIU

Estava lá. Nos tempos da antiga União Soviética, houve um grande momento eleitoral. O líder Gorbatchov convocou as primeiras eleições com mais de um partido e mais de um candidato por vaga. Foi uma novidade, assim como a comissão independente para os exames dos inscritos. Os latinos, alguns europeus e terceiro mundistas em geral esfregaram as mãos para adivinhar os rumos do processo e das candidaturas.

O mais veterano dos colegas, que passara alguns anos no Panamá, lembrava do coronel Torijos, que recebeu gordos cheques da CIA. Os soviéticos abririam o caixa depois, e o KGB dominou os gordos cheques. A democracia panamenha, eclética, faturou de todos os lados. Nosso colega se irritava com os mais novos. Só queriam saber das brechas que poderiam existir. Em uma ampla sala de onde despachava, o chefe, homem de confiança do sistema, do partido e do presidente, ria das perguntas e a todas respondia com perfeita paciência.

Só perdeu a cintura certa vez, posto contra a parede. Vocês acham que aqui é terreiro dos vossos? Perguntava com resposta pronta no gatilho: aqui começa um novo processo, uma nova URSS, explicando que não havia espaço para fraudes. E assim foi. O resultado posterior pode não ter sido exemplar, mas foi um grande processo. O sentimento ilhado é mantido. E a contraofensiva teria começado.

Vicente Nunes