ARTIGO: Se beber, não voe nos sonhos

Compartilhe

Por LUIZ RECENA GRASSI, de Portugal

A guerra é desgastante e dolorosa para todos. Assim para Ucrânia como para Rússia, dos participantes maiores aos menores. Ao fim, porém, todos ganham algum dinheiro ou armas. Dos diretamente líderes maiores aos de menor força. Cada ator quer seu pedaço, sua recompensa, seus dinheiros. É a ética da guerra. É o começo da lógica do capital. Exigir mais é criar chances de faturar mais, uma verba extra que mal não faz.

Igual a certos momentos em que o Brasil pensou melhorar seu lugar no mundo com o auxílio do dinheiro ex-soviético. Agora, o capitalismo mostra seus dentes eslavos. E o que era sonho e esperança há três décadas desfez-se numa grande noite de vodka.

Entre os analistas militares na União Europeia, destaque para alguns portugueses, principalmente alguns oficiais maiores. Esses dizem que a Rússia bombardeou uma barragem na Ucrânia. Mostram argumentos técnicos. Garantem outros que a Ucrânia esteve presente com bastante força. A Rússia teria mais máquinas de guerra, a Ucrânia, mais ousadia, o apoio da União Europeia e da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan). E, também, com destaque para os Estados Unidos.

No meio de acusações até descabidas, lembra-se que o rio tem duas margens, e cada uma tem dois lados. Povoados. Portanto, 700 mil pessoas no Dnieper a sofrer com o estouro da barragem, sem água potável, alimentos e milhares de casas vazias. Os dois briguentos principais seriam mais do que responsáveis, ainda que um deles, a Rússia, seja tida como mais forte.

Mas tem mais, que vem de outras fontes. O Canadá, em visita oficial a Kiev, prometeu US$ 500 milhões para conseguir mísseis antiaéreos, armas leves e munição, muitas munições. Inglaterra, França e Alemanha continuarão nos trabalhos de treinamento dos soldados ucranianos. E o Japão, até o Japão, veio a prometer vender armas para Volodimyr Zelensky.

Os russos estariam sozinhos e abandonados. Entregues a seu principal fornecedor de drones, o Irã. Em outra esfera, duas dores de cabeça: a Ucrânia, que não consegue explicar os fracassos iniciais na contraofensiva; e o silêncio de Biden e dos Estados Unidos para não admitirem que não sabem explicar, ainda, o que vai ou está a acontecer.

O CORREIO SABE PORQUE VIU

Estava lá. Houve um tempo, na extinta União Soviética, que o Brasil pensou em fabricar aviões e produzir vodka. A grande reunião foi em Rostov do Don. Lá, tinha uma fábrica de aviões e produzia-se vodka igual a todo país.

Sonho de uma noite de verão: um conjunto de bailarinos cossacos do mais puro e agreste, até uma genuína e brasileira roda de samba. Tudo na cidade centenária de Rostov do Don, palco de grandes enfrentamentos entre revolucionários brancos e vermelhos, com a vitória desses.

Iniciativa de um empresário brasileiro, dos que apareceram muitos no momento de abertura junto a ex-burocratas soviéticos doidos para se transformarem em “bizzniesmen”, nova nomenklatura para quem ainda não tinha capitalismo.

A moda soviética eram mesas com doze cadeiras. História da cultura moderna. Doze brindes oficiais. E assim foi. Autoridades e negociantes foram embora mais cedo. Os negócios não saíram, mas não faltou vodka para ninguém. No dia seguinte, quem voou foi a ressaca.

O país mudou, outras cidades fabricam hoje o avião Sukhoi. E a vodka? Bem, está no país e no mundo, onde tem marcas e tipos às centenas. Os dois países em conflito fabricam o produto. O Brasil continua seu processo, seu ritmo: cada vez melhor nos agronegócios, a melhorar inclusive na indústria aeronáutica de paz.

A Rússia mantém-se a modernizar seus projetos de petróleo e gás, além de ter continuado, com tecnologia sofisticada, a produção de modernos armamentos. E a venda deles. Assim é que se voa.

Vicente Nunes