Artigo: Otan, pouco apoio e o drama ucraniano

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Por LUIZ RECENA GRASSI

Terminou como começou a reunião de ministros das Relações Exteriores da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan): bastante retórica, discursos inflamados a favor da Ucrânia e contra a Rússia e quase zero iniciativas de apoio a planos de guerra. Muitos problemas colocados e nenhum resolvido. O primeiro a falar foi o chefe da Otan,Jens Stoltemberg, que fez uma oração próxima da santa ira, a desancar os membros da União Europeia, acusados de não mandar o prometido em armas e dinheiro e, ao mandarem, o fazerem a menor e com atraso.

Depois ela, que não é ministra, mas é chefe da União Europeia (UE). Ursula Van der Leyen foi mais longe: informou que a Ucrânia já perdeu 100 mil soldados na guerra. Foi um deus nos acuda! Se verdade, não é para divulgar; se mentira, pior ainda. A propaganda só quer divulgar vítimas civis. A nota correu o mundo e o desacerto durou umas duas horas. Até a imprensa oficial da entidade reescrever o discurso dela e apagar o anterior.

Dois dias após, fecharam em 13 mil o número de soldados da Ucrânia mortos. Europeus e norte-americanos repetem que vivem uma lua de mel nunca vista entre seus países. Se precisa avisar , é porque não é bem assim. Com a ilusão de que mandam sozinhos no mundo,  levam para casa as divergências.

Armamentos: uns não entregam porque não têm, iriam comprar e não o fizeram; outros não tinham tudo e entregam o prometido aos poucos e menos; por fim, há os que não querem mais brincar de guerra sem ter armas e dinheiro. Não confiam no discurso e nos soldados de Zelensky. Um ucraniano treinado na Inglaterra não vira soldado inglês. Nem alemão na Alemanha ou espanhol na Espanha. Soldados e treino não se fundem cem por cento. A diferença influi na hora de enviar armas e grana.

A Europa quer impor preço teto para o barril de petróleo russo: 60 dólares. Avisos de que não será fácil, estão a multiplicar. Russos praticam o preço possível com desconto a quem lhes interessa. São leis de mercado não reguláveis pela ganância ou ódio. A guerra continua a ritmo próprio, com bombardeios e mortes dos dois lados, agora com alguma vantagem para os russos.

Promessas de ajuda continuam, lentas e pouco efetivas. Do Vaticano ao Capitólio, de Kiev ao Kremlin todos se dizem prontos a negociar, ninguém ainda a arredar um passo. O quadro geral deve entrar inverno e Natal adentro. Salvo melhor, falta de juízo. Se vivo fosse, Friedrich Engels, o mais ferino entre os teóricos comunistas, poderia dizer: é a dialética idiota!

O CORREIO SABE PORQUE VIU

Estava lá: Avisa lá! Avisa lá: não vou! Não deu para sair de casa no segundo dia com 30 graus negativos, em Moscou. O primeiro foi passado nos ares, sem saber de nada. Ao chegar na capital, quem levou o capote grosso deu o aviso. O outro estaria ali, no termómetro da janela do quarto, pela manhã.

Os soviéticos gozaram a falta do correspondente, riram e lembraram por bom tempo. Lembrei disso depois de ver previsões para o inverno que começa a bater forte na região da guerra e em cidades importantes dos dois países. Entre nove a doze graus negativos nos primeiros dias. Não é uma brincadeira tropical. Requer o máximo cuidado, mesmo com calefação a funcionar.

Diferentes chefes europeus e norte-americanos reclamam de crueldade russa e denunciam o uso, pelo Kremlin, do inverno como arma de guerra. Querem engabelar o mundo com uma ingenuidade mentirosa e infantil. Mais: querem convencer a outros de que são países bonzinhos, nunca fizeram maldades. Difícil essa tarefa. O inverno veio, ficará seu tempo e chegará ao final. Quem não o quiser, não vá trabalhar. Ou faça a paz.

Vicente Nunes