Artigo: “Os tzares da mentira”

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Por LUIZ RECENA GRASSI, de Portugal

Uma guerra é sempre mais difícil num momento como este. E, neste caso de confusão, é mais ainda. Ninguém sabe a quantidade ou a qualidade de armamento de cada um dos contrincantes. Nem como serão pagos os canhões, os drones, os carros de combate, os velhos ou os novos aviões. Enfim, uma grande quantidade de brinquedos caros, com dificuldade para pagar sem lastro, como uma dívida bancária mal feita.

Em Portugal, no sistema bancário, a figura do crédito malparado ressurge sempre junto com uma crise econômica lusitana. Sem dinheiro, a semana começa com o périplo de Volodimyr Zelensky, que saiu a buscar apoios em outros países enquanto os russos bombardeavam Kiev e outras cidades importantes. Da Alemanha conseguiu a 2,7 bilhões de euros (R$ 14,9 milhões). Os germânicos não pensam em ataques supersônicos. Preferiram se manter fora das brigas.

As chefias dos dois lados, igualmente, diminuíram a vontade brigar. Agora, trata-se apenas de buscar e obter dinheiro. Daí, Zelensky participar com intensidade na reunião do G7, grupo das sete economias mais industrializadas do mundo. Ele está a bater à porta da Índia e até da América Latina. Brasil com bom papel. Todos sabem mentir em relação aos ucranianos. Principalmente os próprios, há mais de ano vitoriosos em guerra que não dão números. Nem balanços de apoio. Só os de sempre: União Europeia, Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) e Estados Unidos.

Itália e França repetiram que, sim, vão mandar armas, mísseis, drones, carros leves de combate. Prazos e preços? Só na próxima reunião. E quando é isso? Só na outra reunião. A Inglaterra promete mísseis supersônicos. Os próprios ingleses estão em dúvida. A Otan também botou umas arminhas no jogo. Dizem que com sucesso. Além daí, só acusação russa de que o que quer o bloco é aumentar o apoio e o suporte aos ucranianos. Esses garantem que recuperaram os sistema Patriot, destruído pelos russos.

E ainda teve o anúncio de que a Ucrânia pediu dinheiro para Portugal. Verbas para ajudar na compra de aviões caças. Uma intermediação, na verdade. No fechamento da semana, a reunião dos países asiáticos, com a China poderosa a dar cartas e sem a Rússia, pela primeira vez em mais de meio século. Os russos garantem: é intriga para reduzir os poderes do Kremlim e aumentar os de Pequim. Coisa dos norte-americanos e dos europeus da Otan-UE. Na Ucrânia, Bakhmut pode cair e mudar de nome. Muito armados ou não, os maus ganham outra.

O CORREIO SABE PORQUE VIU

Estava lá. Os soviéticos tinham grandes invenções ou copiavam as que não sabiam. Entre elas, as produzidas na América Latina. Sabiam do que se tratava, mas estavam sempre a querer mais. Um grande exemplo são as comunicações, que, depois da Segunda Guerra Mundial, se ausentaram quase completamente do teatro de operações. Quase não falaram quando Boris Yeltsin foi praticamente derrubado.

Depois, os golpistas praticamente desistiram do discurso contra Gorbachov. Os que não conseguiram nada, altamente embriagados, sem falar no rádio, que não foi ligado tal a embriaguês dos líderes. Antes de ir para casa sumiram de medo nos seus sindicatos. Não disseram ou fizeram coisa nenhuma. Nem o rádio entrou no ar. O filófofo Kazímir Celin e a socióloga Maria Titova, estudiosos da história russa e soviética, igualmente nada disseram. Mantiveram-se mudos, a não querer dizer palavra. No oitavo andar da redação russa, o chefe da noite caiu em depressão.

No Mezanino, algumas das mais de vinte colaboradoras da agência da parte do serviço de telex ainda festejaram nos amplos espaços do velho prédio pós soviético. E assim terminou a noite: um chefe da nomenklatura em profunda tristeza. Longe dos burocratas e, sem qualquer dúvida, longe de um regime que deu com os burros n’água, os simples fizeram a festa. E convidaram: venha, camarada brasileiro, tome ao menos um copo pelas almas penadas do regime. E assim lá se foi mais um.

Vicente Nunes