Artigo: Olhos frios, pânico e Bizet

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Por LUIZ RECENA GRASSI, de Portugal

Pânico. Medo. Começo do fim. Desde que Vladimir Putin anunciou possível tiro nuclear é o que analistas dizem. A maioria não gosta do inquilino do Kremlin. Houve quem pediu serenidade. Periférico no xadrez europeu, ninguém fez-lhe caso. Não faz eco, embora comente com equlíbrio. Amigo russo acha que Putin perde capital, seja com aliados de ontem ou recentes, na política local ou no mundo; seja com o grupo de jovens não dispostos a lutar, seja com velhos que não querem seus jovens de novo a morrer na guerra. Afeganistão deixou marcas. Na Colina do Elefante, russos foram deixados. E mortos pelos próprios colegas. O Nobel Sakharov contava a história em 1989.

Tiro nuclear faz efeito e promete tirar o sono de uns quantos, o que já acontece pelo mundo e dentro da Rússia, ajudando Putin a recuperar musculatura no interior das muralhas do Kremlin. As manifestações são menos importantes pelo final do verão ou começo de outono. O primeiro dá calor, o outro, sinais de frio. O primeiro sai de cena para entrada do segundo. Líder em pânico e frágil a dar sinais de sobrevida?

As saídas e protestos aumentam no fim de semana. E outro amigo conta da sua tristeza sobre tudo. Mas voltou a trabalhar, diz com esperança. O Kremlin abriu eleições para os referendos internos. Adversários latem, não mordem. A propaganda russa fez filminhos. Pessoas que moram lá desde sempre. Querem ser russos protegidos porque a proteção da Ucrânia é nenhuma. Toca falar mal de Volodymyr Zelensky. Ele e seus amigos abriram contraofensiva e propaganda. O impasse da guerra segue feroz.

Na sombra, um personagem a crescer, China. Putin falou com Xi Jinping sobre dar possível tiro nuclear. Se não foi apoiado, não teve ideia contra. Resto do mundo diminui histeria sobre Rússia. Comida, gás, cereais, petróleo, fertlizantes. Tudo importa. Sala quente e pão na mesa. É o que influi no correr do conflito.

O CORREIO SABE PORQUE VIU

Estava lá. Frios. Olhos muito frios. A colega viu Putin quando conheceu o líder. Tinha receio do que ouvira sobre o novo político ainda a começar carreira. Foi rápido. O frio ficou, indelével, música a substituir “ochichornia”, secular, popular e quente dos olhos negros. Ícone de qualquer russo, obrigatória aos de sucesso.

Um deles, em outono, distante bebeu vodka e cantou, havia ruído na casa. Procurou fechar a porta sem punir a canção. Sem conseguir apelou: deu as costas e meteu coice na porta, fechando-a para poder cantar. Ala Pugachova, 50 anos de carreira e 250 milhões de discos vendidos, foi a Israel para ser declarada adversária do regime e ficar com o marido.

Deixar a Rússia a cada 10 anos é quase hábito. Século XIX, os tzares por nada matavam judeus. Estes fugiam. Depois os bolcheviques, na Revoluçao ou na Guerra Civil. Morreram monarquistas, anticomunistas e judeus. Na guerra contra Hitler sobrou para todos, judeus junto. Pós guerra e Stálin, mais fugas, êxodos. Afeganistão, fim da URSS, outra ordem no país, bloqueios e sanções de UE, EUA, OTAN. Novas saídas. Tudo moderno, aviões ou carros próprios. EUA e aliados abrem campanha: o povo foge. Russos reagem, aviso de voluntariado de mais de dez mil reservistas, engrossar fileiras.

Empate, não ocorre na troca de país, vários anos pró Europa e EUA. Moça queria cantar e fazer América. Treinou adolescente. Marido foi na frente caçar trabalho. Caçado pela máfia, prostituiu-se. Ela foi e voltou. Moscou de tarefas e dinheiro curto. Emprego no governo, voltou para mãe e filha. Bairro. Sonho de artista no papel escolar da Carmen, de Bizet. Tá-ran-tan-tan!

Vicente Nunes