Por LUIZ RECENA GRASSI, de Portugal
Vladimir Putin fez os discursos da semana. Lançou petardos contra os mosqueteiros União Europeia-Estados Unidos-Organização do Tratado do Atlântico Norte, tipo bombardeios a Ucrânia. Bateu feio e anunciou o momento atual como o mais perigoso desde a 2ª. Guerra Mundial. Mais: denunciou os yanques de proibir os ucranianos de negociar caminhos de paz.
A liderança da Casa Branca é que não estaria a querer. Pode ser exagero, mais provocação que realidade. Porém, a pontaria parece afinada e alvos diplomáticos foram atingidos. Tudo isso levando tapas tiros e mísseis, perdendo gente e território conquistado. Pouco, mas derrota tem efeito moral, deprime. Com fôlego, sobrou tempo para outros avisos.
Curtos e com recados: não é a Rússia a inimiga do ocidente; acabou a mobilização parcial de novos soldados; conhece os candidatos na eleição brasileira e não tem problemas com o Brasil; população civil de Kherson evacuada e outros comentários sem o mesmo valor.
Deu tempo de anunciar novas medidas contra o abecedário homossexual russo e apoiar o prefeito de Moscou a fabricar carros Moskovich, dos tempos soviéticos, em fábrica francesa abandonada pela da Renault no início da guerra e das sanções de europeus e americanos. Ideia parte de um projeto com a China, que prevê a produção dos caminhões pesados Kamaz e parceria em motores e veículos elétricos. Chineses reagiram rápido para dizer que querem aprofundar relações e apoiar a Rússia em todos os níveis. A criatividade do Kremlin é eficiente e tem eco.
Do outro lado do oceano, Joe Biden fez ouvidos moucos, não ouviu nada, calado estava e assim ficou. Num canto do vasto mundo, o ucraniano, sombra do líder da América, manteve o discurso de propaganda. Virou analista. Repetiu comentários das poucas conquistas recentes. No sábado, bombardeou Sebastopol. Foi infeliz, levou de volta a suspensão, pela Rússia, do escoamento de grãos via Mar Negro, o que não deve ir além das dores de cabeça.
Nenhuma letra sobre o apagão elétrico de dois dias na capital Kiev, em área que não sofria ataques desde o último abril. Quatro milhões de pessoas sem energia. Parte bombardeada ficou sem capacidade de produção por certo tempo. Biden não entendeu o movimento sobe-e-desce dos russos; Zelensky entende um pouco e não explica nada. Cabeça e alma russas não são simples de entender, não são fáceis de traduzir. A batalha final em Kherson não começou, o combate fatal continua sem data. Muito movimento de tropas e ausência de resultado expressivo. Biden surdo, Zelenski à sombra. Dias de Putin. Sem prazos, sucessos ou previsões além da vitória nos discursos.
O CORREIO SABE PORQUE VIU
Estava lá. A alma russa é mesmo um assunto. O sentimento do povo. Frio, calor, sensibilidade, tristeza, raiva. Risos e lágrimas. E anedotas sempre, feitas em Moscou e replicadas no país, ou pensadas fora, as famosas anedotas da Cia.
O congressista yanque líder de Comissão diplomática ouviu falar no assunto e pediu visita. Tempos soviéticos de guerra fria, garantia de segurança e qualidade. Foram sete políticos, um tradutor e o mujique dono do trenó. No meio da Sibéria gelada surgem lobos ferozes.
O tradutor traduz e o mujique aconselha, lacônico: diz ao presidente para deixar três dos deles. Sob protesto, ficam, alimentam-se os lobos e a viagem segue. Até novos lobos, nova conversa e sacrifício. Segue a viagem, os lobos voltam. O líder do grupo pergunta o que fazer, agora só tem ele, está sozinho.
O mujique faz manobra, para, tirar debaixo do banco uma metralhadora e fuzila os lobos! Em choque, o congressista pergunta porque não fez aquilo antes, no primeiro grupo de lobos. O mujique responde impassível: tem uma garrafa de vodka e só dá para três. Podemos lanchar. Alma russa.