Por LUIZ RECENA GRASSI, de Portugal
Foi pelo voto popular a derradeira “guerra” em Angola. Foram eleições com algumas novidades, a mais importante delas a participação quase unida dos vários partidos e blocos políticos com presença no cenário de disputa do sufrágio dos angolanos. Todos em amálgama com solda da Unita, União Nacional para Independência Total de Angola. Maior grupo, mais forte. E aquela a que a América de Biden deu a mão.
Há mais surpresas, tipo a vitória da oposição em Luanda. Três por um, vitória acachapante a obrigar o governo a reconhecer rapidamente a derrota. Um átimo político pós-urnas fez o executivo engolir a derrota. Valia a pena governar outra temporada, dominar o Congresso com maioria ainda que simples, 51%.
Ficou assim: presidente, Movimento Popular para Libertação de Angola, MPLA, João Lourenço novo mandato, bancada de 124 deputados; e UNITA, segunda bancada, com 90 deputados. Aqui nova derrota do sovietismo. Acrescente-se pitadas de outras derrotas: o conjunto do leste europeu, Cuba, Nicarágua e a principal delas e madrinha de todas, a União Soviética.
O país continua com dinheiro, produtos e compradores. Petróleo e diamantes em destaque, EUA ainda a comprar. Biden é novo senhor da guerra, a vender armas e fomentar conflitos bélicos. Agora, bipartidário, incentivando e financiando a Unita, que responde com obediência, aceita o resultados do pleito e logo glosa resultados contrários a seus interesses.
Mais que rixa, um calo histórico: a doença grave da arrogância. Mais que derrotas, a arrogância burocrata está a marcar a ferro e fogo a história dos derrotados. Angola chegou a ser nos tempos da extinta União Soviética um cisne imerso em petróleo e cravejado de diamantes. Seu bem, seu mal.
As morenas carregavam chocalhos, os chocalhos cantavam o que o partido pedisse e os artistas amigos cobravam o melhor. A madrinha vivia feliz, os burocratas mantinham o poder e suas benesses. Os pobres, a sina da pobreza: nela permanecer. País desigual. Mudança foi pouca e reduzidos os compradores com a diminuição da presença portuguesa e soviética. Produtos principais seguem petróleo e diamante. O maior comprador e credor é a China, seguida da Índia, e um misto europeu.
Compras também voltaram, armas primeiro. Cereais necessários pós pandemia e guerra. E as armas sempre a liderar. Daí para a derrota anunciada, nenhuma surpresa, só o tempo. O MPLA ganhou e perdeu, a Unita na mesma trilha. Angola a sofrer por séculos e séculos.
O CORREIO SABE PORQUE VIU
Estava lá. Sofrimento de todos os lados do Mar Oceano, dolorosas feridas produzidas por diferentes opressores. Na mais recente época de bonança, na independência, quem era partido ou ali tinha amigos, deu-se bem. Uns enriqueceram, outros melhoraram, o que não é pouco.
Tudo isso ficou claro para mim depois de quatro anos de convívio em Moscou. Os angolanos compravam mais do que vendiam e exerciam funções estratégicas, a cumprir sem esquecer nenhuma das pautas que lhe conferia a União Soviética. Não lhes faltava dinheiro e praticavam a arrogância com vigor.
Com boa frota entre países do terceiro mundo eram bajulados pelos demais, levando camaradas pelo mundo da esquerda, onde mandavam os chefes soviéticos. Quando esses burocratas sumiram o quadro mudou e Angola come na mão dos EUA e da China. Triste fim.