Por LUIZ RECENA GRASSI
Dois bilhões de euros. É essa quantia que gostaria de ver a Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) no caixa da Ucrânia. Para armas e munições, enfatizou o secretário-geral Jens Stoltenberg, ao anunciar o apoio. Não disse quando começa a chegar o dinheiro ou se já obteve o respaldo dos demais países da Organização.
Aqui mora o problema, pois nem todos os países querem embarcar nessa canoa e outros não apenas querem distância do tema como precisam desse dinheiro para suas necessidades defensivas. Ou os que fazem como a Noruega, vendem e não entregam tudo. A nação nórdica havia ofertado 22 caças F-16 para a Ucrânia, com pilotos e manutenção inclusos. Na hora da entrega, só 12 estavam operacionais. Os outros 10, dependentes de peças de reposição, serão canibalizados.
Os Bálticos vão emprestar dinheiro e participar de treinamentos para soldados de Kiev. Mas, com a Finlândia, estão mais preocupados em aumentar a defesa de suas fronteiras. A Alemanha vai mandar munições e um sistema Patriot, de defesa antiaérea. O Reino Unido mantém campos de treinamentos e pode estar em ataques e ações ucranianas. A Eslováquia quer ajudar, mas não tem fundos. Os checos não querem entrar e já avisaram. A França faz bravata e recebe categóricos “nãos” como resposta.
A chefe da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, quer mais sanções contra os russos, mais armas. E mais um mandato para ela, o que está difícil. É uma espécie de Joe Biden europeia, a pedir outro mandato. Sem sujar as mãos de sangue. Os exemplos de Golda Meir, Indira Gandhi ou Margareth Thatcher não serão seguidos, pois Ursula nem tropas tem.
O quadro não é fácil. Do lado russo, o presidente Vladimir Putin desautorizou a reunião de paz na Suíça, em breve, porque seu país não foi convidado, mesmo sendo parte importante. E, no campo de batalha, segue destruindo bases de energia ucranianas, conquistando mais espaços, a custa de muitas vidas. Ainda está bem armada, tem reserva de munições. Cresce a economia.
Sobra pouco à Ucrânia, como a provável ação de guerrilha de bombardear as proximidades da central nuclear de Zaporizjnia ou a explosão de um carro de um coronel desertor, nos arredores de Moscou. Com homens e inteligência do Reino Unido. Não há provas, apenas evidências.
Longe do conflito, o Japão faz sua graça. O premier Fumio Kishida, de olho na reconstrução da Ucrânia, para a qual há até um fundo. Os yanques não alteram suas posições. Manterão irrestrito apoio, mas sem dinheiro. O Congresso não autorizou ainda novas verbas.
O CORREIO SABE PORQUE VIU
Estava lá. A jovem loura robusta ri e seus dentes de ouro brilham sob o teto do Mercado. Frestas filtram a luz do sol, frágil, mas capaz de devolver calor e sorrisos aos rostos soviéticos, a saudar o final de mais um inverno. “Orelha?”, a incrédula loura trava ao ouvir a resposta e a notícia de que a parte suína vai para panela, com outras carnes, linguiças e feijão preto. Feijoada, não conseguiu repetir.
Era demais para ela naquela quinta-feira de sol no bairro Dínamo. Caucasiana, os limites da barbárie não chegavam a uma panela. Só melhorou na troca de limões sicilianos por sacolas Louis Vitton, trazidas de Paris pelo correspondente. Vazias. Doação de amigos quando souberam que eram moeda de troca naquela Moscou da Perestroika, distante e misteriosa.
Feita na quinta e na sexta-feira, a feijoada foi servida no sábado. Quer dizer, começou no sábado e entrou domingo adentro. Farra digna de um Comitê Central. Brasileiros, russos que sabiam do Brasil, outras nacionalidades minoritárias. O amálgama eram o feijão preto, as carnes e caipirinha de cachaça. Sim, sobrou cerveja. Vodka, no limite.
Confraternização sem problemas e convivas partindo sob promessa de que haveria outra. Lembranças provocadas pela internacionalização da guerra e ações extra conflito, tipo a entrevista do novo embaixador da Ucrânia no Brasil, a reclamar da nossa neutralidade e falta de manifestações de apoio a Kiev e maldições a Moscou. Andrii Melnyk certamente não sabe o convívio entre nações. Feijoada nem pensar.