ARTIGO: Ninguém tasca, a cadeira é de quem senta

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Por LUIZ RECENA GRASSI, de Portugal

Méritos na semana para o norueguês Jens Stoltenberg, que renova o mandato de secretário-geral da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) por mais um ano, a partir de outubro próximo. E senta na cadeira mais poderosa da Defesa europeia. Vai para o nono ano consecutivo no comando da aliança militar, sempre com o apoio dos norte-americanos, que detonaram os desejos ingleses de ver no lugar o ministro da Defesa deles.

O presidente Joe Biden, dos Estados Unidos, e seus ianques querem mais participação na guerra, mais cadeiras no jogo. Avisam que vão mandar bombas de fragmentação para Ucrânia. Acham o exército de Volodimyr Zelensky frágil, pouco eficiente, desarmado. Acreditam que precisam tomar providências, por isso, as bombas. Daí o baixo resultado da contraofensiva depois de três semanas.

Faltou aos gringos dizer que fazem isso porque os russos já as teriam e porque os pequenos mísseis de 155mm estão a acabar. O que existe é reserva técnica dos ianques. A arma, perigosa, é proibida por um acordo assinado por 126 países. Não estão na lista Estados Unidos, Ucrânia, Rússia, China e Índia, todos que têm o artefato. É assustadora a bomba: um projétil recheado de granadas conhecidas (mais de 70) que explodem com retardo e sem controle. Podem cair e ficar no terreno civil à espera de pisadas ou choques mais pesados. Um momento triste da guerra, mais um.

Zelensky procura uma cadeira só para si. E, embora a Turquia diga que a Ucrânia merece entrar logo na Otan, avisaram ao líder que ainda não será desta vez. O presidente turco, Recep Erdogan, está preocupado com o acordo de cereais, que pode acabar. A Ucrânia não deseja isso, porque quer vender seus grãos. A Cúpula de Vilnius termina sem maiores concessões a Kiev. Só promessas.

Vladimir Putin, presidente da Rússia, tem a cadeira dele sólida no Kremlin. Continua bem armado. E fabrica armas novas toda semana. Os demais coadjuvantes têm suas cadeirinhas e ficam a pensar em novas circunstâncias para entrar mais forte no jogo, o que não será fácil.

Tudo para lembrar o filósofo espanhol moderno Ortega y Gasset, que escreveu e deixou muitas frases brilhantes e profundas, como “O homem é o homem e suas circunstâncias”. Por isso, é mister criá-las, para melhorar desempenhos. Há outra: “O poder não é tanto uma questão de punhos quanto de nádegas”.

Ou seja, o poder é de quem senta e tem a força de um traseiro para mantê-lo. O jogo atual é isso: poucas cadeiras e punhos menos fortes para jogar. Ortega y Gasset era mesmo um sábio.

O CORREIO SABE PORQUE VIU

Estava lá. Na antiga União Soviética, todas as repartições dispunham de ambulatórios para cuidar de funcionários e colaboradores nas emergências. As agências protegiam os colaboradores e os correspondentes estrangeiros. O tema entra na história porque a prestação de serviços médicos voltou à pauta mundial e os ambulatórios estão escassos.

Depois de animado fevereiro entre Brasília e Salvador, a volta para Moscou. O tratamento do correspondente começou no Brasil e foi para a Rússia. A Agência Tass tinha um bom gabinete de massagem e traumatologia. Disso era a carência, e os cuidados começaram. Um tratamento usava choques elétricos de baixa voltagem. Mesmo assim, no começo, choque era sentido e assustava os pacientes.

Numa dessas o brasileiro correspondente exclamou: “Ok, eu confesso tudo!”. Stalin, Bolcheviques, ditadura militar recente, tudo ajuda. Os anos de Segunda Guerra e o período difícil dos soviéticos depois treinaram a veterana enfermeira para quase tudo. Escrevo quase porque esperou pela boa tradução do colega para, depois de um pequeno susto, participar do riso.

Ela repetia em russo: brasileiro doido. “Brasilietz durak”. Ao final do tratamento bastava chegar ao gabinete que ouvia: brasilietz durak, Eu repetia “durak, durak.” Ninguém brincava com fogo em Moscou. Só doido ou brasileiro. Ou os dois. Durak!

Vicente Nunes