POR LUIZ RECENA GRASSI, de Portugal
Chefe da diplomacia russa acusa a União Europeia de fomentar “russofobia grotesca” contra o país e o governo de Vladimir Putin. Serguei Lavrov não lembra, coisa antiga, é que, na política do Kremlin, não há espaço para situações emotivas. “Moscou não acredita em lágrimas” é clássico do cinema, de Vladimir Menshov e tem acima de 40 anos.
Desde séculos, o racional ganha quase todas do emocional, guerra perdida entre corações moles e cabeças frias. Vitória quase permanente do segundo grupo. Exceções para música, dança, literatura, teatro. Ganham espaço quando os racionais descansam. Lavrov sabe o que ocorre, está camuflado. Não crer em lágrimas é pensar diferente, surrupiando o pranto alheio.
Anunciados os referendos e depois anexações com bênçãos de votos, foi a vez de União Europeia, Estados Unidos e Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) tentarem, mas não deu choro. Igual a convocação de novos e jovens soldados, 300 mil para iniciar o carteado. Resposta boa dos adversários, dólares de apoio a manifestações ou fugas.
Prováveis problemas no horizonte; garantidos sofrimentos no tempo e distância. Moscou confirmou com garganta seca e olhos vidrados. Nem uma lágrima ou crédito aos inimigos. O carteado cresceu os personagens e aumentou o cacife de fichas altas. Só parou quando Nord Stream pediu cadeira e vaga para sentar e jogar.
Guerra respirava quando surgiram furos, vazamentos. Primeiro dois, depois um terceiro. Semana terminou com quarto vazamento. Quadro geral mais complicado. E a Rússia a apanhar. Otan, EUA, UE e outros aliados menores e de ocasião estiveram próximos de convencer o mundo sobre a culpa do Kremlin, que não verteu lágrima.
Não deu por um triz: Moscou lembrou e provou que EUA, Suécia, Finlândia velejam armados em águas do Báltico, a perturbar a enxaqueca da Praça Vermelha. Bola devolvida para o lado ianque. Acusação dura de sabotagem. Ranger de dentes no máximo.
Chove dólares na Ucrânia; euros, nem tanto, com a crise na Europa. Ucrânia a defender na contraofensiva até aqui lenta, com sucesso porém, a ideia de vencer Putin. Russos simulam vergonha e cantam na Praça a anexação vinda com muitos votos. Luto perene pelo fim da URSS.
No mais, miudeza se em guerra existe: dois bombardeios pra cá, dois pra lá. Vodka com Cola. Ucrânia avança, Rússia defende posições antigas e ataca novas. Amigos de Moscou antecipam queda de Putin antes de o inverno acabar. Profissionais da guerra negam tudo. Tempo de espera substitui época de plantio.
O CORREIO SABE PORQUE VIU
Estava lá. No meio da música, momento pueril, hilário, que pode ser lido de dois ângulos: cínicas preocupações europeias, dos EUA, sobre a situação, o futuro da Rússia. Despreparo dos soldados, por exemplo, e atraso tecnológico do país pela guerra.
Russos podem mudar, afirmam os que conhecem o avesso do avesso. De chorar. Lembrei a chegada a Moscou: computadores modernos, aviões com segurança próxima dos cem por cento, o Cosmódromo Gagárin, show de eficiência e na Base Aérea de Kubinka avião supersônico decolava na vertical. Detalhe costurava outros.
Não tinham design, eram feios. Dois diplomatas curtiram o avião. Saíram em choque pela falta de beleza e os parafusos aparentes. Não houve problema. Mais detalhe: o narrado refere-se a meios, máquinas, ambientes com mais de 30 anos.
Estavam lá quando cheguei. O cinismo ianque e europeu talvez tenham receios. Se ficar na indigência tecnológica a Rússia poderá buscar outros parceiros. Preferência há três décadas: China. Por ela muitos tremem. De medo.