Artigo: Mais armas para o Natal

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Por LUIZ RECENA GRASSI, de Portugal

O Natal chegou e todos os principais guerreiros estão a postos nas batalhas. A guerra entre Rússia e Ucrânia fez 300 dias, não dá sinais de calmaria e mantém banida do vocabulário comum a antiga palavrinha de três letras e tanto significado: paz. Vladimir Putin começava a faturar na propaganda, depois de reunião do conselho de defesa e da exibição de novos músculos para o conflito, com mais e novas armas, soldados a multiplicar-se nas frentes, quando foi atropelado pela dupla Zelenski-Biden.

Cantava-se em Washington um Jingle Bell especial com presentes idem: U$1,85 bilhão em armas, armas, armas e uma estrela natalina em forma de mísseis Patriot, aguardados há bom tempo e finalmente anunciados. Os dois ganharam na propaganda. Nas armas ainda pouco se sabe sobre quantas e quais seriam. Não há notícia de quando chegam nem se é nova a bateria sonhada, ou quando entrará em combate. O único líquido e certo é que ainda demandará certo tempo, talvez na Primavera. E terá capacidade só defensiva.

Joe Biden não quer arriscar que sejam usados em ataques ao território russo. Para que se tenha uma ideia, apenas a operação e o cuidado desse mortífero brinquedo tecnológico requerem 20 soldados muito preparados. Não há mão de obra ucraniana para tal. Norte-americanos nem pensar, seria provocação demais. A aposta dos europeus privilegia os alemães, que já têm a arma e foram treinados há bom tempo para usá-la. Solução nada simples. Os germânicos estão reticentes, dependentes que ainda são do gás russo e outras energias de Moscou. Acabarão aceitando, mesmo sem morrer de amores pela Ucrânia.

Essa falta de detalhes não tirou o brilho da jogada política e de propaganda. Na prática, deixou muitas dúvidas no ar e céticos alguns analistas militares europeus. A idade desse armamento e a capacidade de ucranianos e mercenários em usá-los e recuperá-los são postas em dúvida. A dúvida, cai quando se pensa que somam 30 os países a apoiar a Ucrânia, 27 europeus, Estados Unidos, Canadá e Reino Unido treinando soldados, enviando apoio técnico e algum material escondido. Mais a estrutura da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan). Tudo isso permitiu a Biden, em um de seus discursos da visita, garantir que Putin não conseguirá conquistar “toda” a Ucrânia.

Pode ser figura de linguagem, erro de tradução. Algum tipo de beijo da morte. Ou um simples discurso, é o que mais parece. Fica no ar, porém, a dúvida maior, além do político, foi bom para quem: para Zelenski, que ganhou algumas armas; para Biden, que ganhou votos internos; para os senhores das armas que ganharam dinheiro? As populações em guerra perderam de novo. E mais que todos, a Paz perdeu muito.

O CORREIO SABE PORQUE VIU

Estava lá. Em Moscou o peru de Natal é um ganso. Essa a frase de abertura do relato mandado aos leitores brasileiros na semana do meu primeiro Natal na União Soviética. Nossa falta de tato e seriedade em certos casos ganhou espaço e fomentou gozações. Muitos queriam saber do destino hidráulico do palmípede. Se tinha sido afogado, se os russos tinham tal hábito, enfim, só um sonoro Não!

Mudou o rumo da prosa. No resto, o de sempre: um Natal insosso no clima e farto, variado de sabores na culinária. Pesada foi a saudade e a ausência dos filhos. Não há ofício que dê tanto osso para justificar. A promessa de impedir repetições durou uma década e hoje, quando há reencontros, risos e lágrimas enquadram lembranças.

Do Natal e do Ano Novo, este sempre mais leve, festivo. Como foi aquele de 1988/89. Salão especial do hotel Rossia, tendo o Kremlin e a Praça Vermelha ao fundo, lá embaixo. Fogos de artifício e hurras ao ano que chegava. E a saudade ficou só.

Vicente Nunes