Por LUIZ RECENA GRASSI, Portugal
Vladimir Putin perde outra vez! A Ucrânia cantou e festejou a explosão na ponte Kerch, obra dos russos importante na região da Crimeia. Tinha aniversário no Kremlin, e Kiev usou paródia fake de Marlyn Monroe cantando Parabéns para JFKennedy. Tempos modernos fizeram a imagem saturar as telas. Tratava-se de gozar a cara de Putin.
Clima de euforia para aliados da União Europeia (UE), Estados Unidos (EUA) e Organização do Tratado do Norte (Otan), escancarado, sem pejo ou pudor. Só alegria por mostrar ao planeta que Rússia frágil também perde. Trabalho de inteligência de sucesso sem ser assumido por ucranianos e amigos. Quase crime perfeito. Ação perfeita. Só um porém, a guerra além de política pode ter efeito vaivém, e o que foi voltou com a força do bombardeio russo a Kiev e outras cidades. Mais de cem artefatos jogados em alvos civis e militares. Foram mísseis, drones e outros que atestam a Rússia viva e cheia de armas.
Começo de ação que durou a semana e mostrou o cartão de visitas do novo general no comando de tudo: Serguei Surovikin, o Armagedon. Esteve na Chechênia e na Síria deixando rastros de ódio. No início da carreira, capitão, comandou tropas na noite isolada de violência da tentativa de Putsch contra Gorbatchov. Morreram três jovens que enfrentaram o Exército. Pode ter forçado a mão, mas está em conta. Daí para cá burilou a fama de mau.
Amigos perguntam sobre chance de acabar a guerra antes do fim do ano. Cético, respondo com negativa. Niet! Não se vê luz no fim da ponte. Putin disse ao turco Erdogan que pode abastecer a Europa de gás desde central na Turquia. Bons negócios atraem. E ainda recebeu Marco Grossi, da Agência Internacional de Energia Atômica (Aiea). Há jogo aí, diz o Kremlin, como a querer algum acordo sobre Zaporijia, a central nuclear.
Novos soldados chegam à frente russa, 16 mil mais 30 mil no apoio. Do outro lado da mesa só ameaças. EUA, UE, Otan não querem gás, só armas para a Ucrânia e sanções que perturbem. A Ucrânia pede moderno sistema de defesa antiaérea. Diz que só tem dez por cento do que precisa. Elon Musk, da Spacex, diz não ter mais dinheiro para o sistema Starlink, de internet. Mandou fatura ao Pentágono: U$120 milhões até o fim do ano e U$ 400 milhões ano que vem.
Analistas percebem redução no ímpeto do contra-ataque ucraniano. A Rússia mantém seus bombardeios e Volodimyr Zelensky, a metralhadora oral da narrativa-propaganda. Difícil explicar, separar notícia de retórica vazia, como aniquilar o exército russo. É impossível apagar qualquer exército, agora ou depois. Foi irresponsável o comissário Borel, da UE. Mente-se nesse carteado além do bluff. Putin é contumaz, Joe Biden, Zelensky, Ursula Van der Leyen são useiros em inventar fantasmas. Equilíbrio é a aposta, pois há vitórias e derrotas nos dois lados.
O CORREIO SABE PORQUE VIU
Estava lá. Colega cinegrafista pergunta preço de boletins de rádio. Ao saber dos U$ 25 o minuto no ar, avisa que para tevê seria U$ 100. Fiz três boletins e arredondei em baixa. Grana nova não dá para perder. Lembranças se misturam e Kiev fica numa tarde gris depois de ver Tchernobyl.
Volta uma década depois, visita de Fernando Henrique Cardoso à nascente república da Ucrânia. O parque bombardeado existia e por ali passeou um bom grupo de jornalistas de Brasília. Na hora do jantar, o bicho pegou. Quem tem um olho é caolho e basta para dar conta de um menu.
Fui sentado ao centro da mesa e pedi para todos, um por um. Quem sabia palavra caprichou: água, vinho, vodka. O Deus dos pequenos e famintos aparece a tempo. Jantar chegou certinho e gostoso. Tudo certo. Voltamos a pé porque o frio era pouco. Como será o amanhã? Não sei. Responda quem souber.