ARTIGO: Hipopótamos africanos e fragmentos outros

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Por LUIZ RECENA GRASSI, de Portugal

Os russos andam tristes, angustiados. Não dá para dizer que é novidade. A tristeza dos russos nem sempre foi assim. Nem foi herança dos soviéticos. Aliás, é um sentimento comum, que outros países também têm, principalmente em momentos de dor, em situação de violência e morte.

O Correio viu muita alegria e festa. Nas casas e restaurantes, hotéis e outros. Só que era e é, infelizmente, algo doloroso alimentado por balas e sangue. Não se perde a alegria, apenas vê-se a redução da vontade de festejar. Justificável nesse quadro em que não se pode contar os mortos com mínima certeza de nada.

Nos últimos dias, os ucranianos disseram apenas ter avançado em todas suas frentes, com mais de milhares de mortos. Os russos negaram e garantiram que a situação real é o inverso. E assim, em forma de morte, a parte ruim continua a ocorrer entre as frentes de guerra. Dos dois lados. Com baixa entre as variadas classes de guerreiros. E mais: tudo com boatos e informações sem garantia de segurança nessas informações.

A Polônia aumenta suas tropas na fronteira, garantindo a promessa de meter medo na Rússia. Atacar os russos e bombardeios a partir da Bulgária são as novidades. Os russos não gostam de nenhum quadro desses. Tirando a Bielorrúsia, eles não têm qualquer outro apoio. Mas, armas, sim. E muitas. Para usá-las de verdade contra o inimigo. São mísseis, bombas simples ou fragmentárias, drones. Carros leves de combate, munição aos milhares para alimentar todo esse arsenal. Tudo sustentado por um contingente em torno de 200 mil homens em todos as frentes russas.

A Ucrânia garante um momento vitorioso para o lado dela. Sempre com o dinheiro norte-americano e da União Europeia e muitas, muitas armas para os soldados yanques. Garante que chegaram armas novas e aviões F16. Tudo norte-americano, tudo operando. Bakhmut, Zaporijia e outras vilas menores que, quando conquistadas, viram grandes cidades dominadas pela Ucrânia. Nada com confirmação.

As bombas de fragmentação estão a ser usadas pelos ucranianos, “tudo muito bem e eficiente”, segundo garantias de Joe Biden, presidente dos Estados Unidos, e outras lideranças daquela turma. Zelensky garante vitórias, ainda que pequenas. Outros analistas, militares especialistas na briga, dizem que as vitórias ucranianas são verdadeiras, mas estariam a custar muito caro, caro mesmo, fora do limite do conflito. Juntando tudo isso ao exército, às armas e aos mercenários, o quadro seria imparável. Se isso fosse possível.

O CORREIO SABE PORQUE VIU

Estava lá. A extinta União Soviética precisou menos do que um Tchernobyl para dar-se conta da questão ecológica. A burocracia bolchevique desde o começo carimbou a questão como desvio burguês e pequeno burguês, como tal foi tratado e mandou várias pessoas e grande número de grupos para fazer turismo nos xilindrós da Sibéria.

Pouca coisa, sem malvadeza ou tempo extenso. Mas Sibéria é Sibéria. Um vasto espaço branco e gelado. Quem botasse o pé lá estava sem volta e sem bilhete. A máquina burocrática bolchevique demorou até Gorbatchov para começar a abordar o assunto e dar alguma atenção a ele. Então veio o acidente de Tchernobyl, uma bomba a cair no colo da camarilha dirigente. E não teve como fugir da armadilha: foram todos punidos. Aprenderam alguma coisa. Bem diferente de outros tempos em que descobriram, segundo os soldados aprendizes em Moçambique, que, mesmo longe de casa, faziam travessuras e treinavam contra os animais.

Era simples, contou um daqueles imberbes ex-combatentes, empolgados com as suas proezas. Os soldados experientes ensinavam os mais novos. Buscavam uma lagoa onde os hipopótamos se refrescavam. Faziam eles abrirem a bocarra e, logo, pimba! Recebiam um lanche e tanto: uma granada já sem pino que explodia em centenas de fragmentos. Todos sujos de sangue e África. Legítimos precursores soviéticos da defesa do meio ambiente.

Vicente Nunes