Artigo: Guerra e Páscoa

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Por LUIZ RECENA GRASSI, de Portugal

Jesus Cristo não é para ser criticado. Ele é ele, e acabou a conversa. Pontocom. É uma história de livro. Ucrânia e Rússia juntaram as confissões. Confissões católicas pouco antes do ano mil, sob o comando do princípe Vladimir, sendo Kiev a sede da igreja. Outra historia é do genial M. Bulgákov. Séculos depois, grande poeta soviético, Berlioz, teve suas orelhas ensaboadas por razões próximas. Por encomenda, o chefe dele pediu o fuzilamento teórico do Cristo. Atendeu célere, mas não ganhou elogios, reclamando que teria “liquidado” o distinto.

Na Praça do Patriarca, centro de Moscou, cenário escaldante e belo da conversa, o chefe, paciente e duro, ensinou: JC pode ter feito muito. Apenas não existiu. Pontocom. Não deve ser por isso que de lá para cá, num milênio mais ou menos, ucranianos e russos se tenham matado das mais variadas formas. Mas é também por isso, a começar pelas igrejas. Depois da separação da Igreja romana, nas outras houve uma prolifieração de Papas de fazer gosto. Atualmente (coisa pra 500 anos) o Pontificado romano é hegemônico.

Sem temas domésticos para administrar e com inteligência demais para dedicar às grandes questões, sobrou para Igreja de Roma, ou católicos romanos. Desde a estruturação das igrejas, a hegemonia vem de Roma. O que é bom, porque os católicos estão sempre um passo a frente num elenco de situações, conjunto de obras para ser esgrimido. Como agora, com o atual conflito  e foi antes, desde as Descobertas para dar equilíbrio a contendores. A ponto de provocarem ciúmes políticos, com ucranianos a querer mandar nos russos.

A Rússia quer se proteger da Igreja de Roma, que quer distância da China. O papa Francisco é forte, mas terá ainda o protestantismo yanque, o dólar americano, apoio europeu, armamento moderno tudo que, junto, é sinônimo de dor de cabeça. Não é uma guerra, pois, para acabar amanhã. É para traçar princípios e novos paradigmas para os envolvidos. O mundo será outro e com novas alianças. Além dos atuais veremos, asiáticos de outras influências, árabes ricos e com tecnologia; as Coreias e o super star China.

Vai demorar, mas o mundo já mudou. Tanto que problemas estratégicos outros, antes restritos a pequenos grupos de pensadores, não respeitam mais fronteiras. E a discussão vai seguir. Entre elas, um exemplo: a demografia. Desde o final da extinta União Soviética, os russos estão muito preocupados com a redução da própria população. Um tímido alerta foi lançado antes do final do século passado, com base em pequenos estudos pós-2ª Guerra Mundial. Um resultado inquietante: de lá para cá, o índice de crescimento populacional só fez reduzir. Índices baixos e constantes. Um devagar e sempre.

Há poucos anos, um dossiê assustou governo e população: a confirmação do estrago feito pela guerra do Afeganistão. Pior do que o da segunda guerra, pois pegou um mundo melhor e incentivou soviéticos e qualquer tipo de ex, a migrar para o ocidente. Não se sabe a força que terá o próximo conflito com os ucranianos. Só que vão perder mais massa, mais gente pelas migrações forçadas pela guerra. O quadro não é bom para o atual governo russo, que baseia parte da sua força em contingentes disponíveis para os vários combates, todo tipo de fuga. Inclusive documentos secretos. Da Ucrânia, dos americanos, da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan). A ordem é essa, sem a mesma importância. Armamentos não ajudam. Nem dinheiro.

O CORREIO SABE PORQUE VIU

Estava lá. Há séculos a Igreja russa está junto do governo. Gorbachov podia não professar, mas não perseguiu. Nesta época do ano, a Missa da Páscoa é evento local, político e internacional. Muita pompa. Muita riqueza. E muita solidariedade entre os fiéis, que se ajudam com velas e outos ícones. À meia-noite os Católicos, Papa ortodoxo, grita pra avisar as almas próximas: “Cristós voscress”. O Cristo ressuscitou. Com ele, não se mexe.

Vicente Nunes