Por LUIZ RECENA GRASSI, de Portugal
Não existem mais imagens chocantes numa guerra depois de ano. Há situações, no entanto, capazes de fazer tremer o quadro das ações. Não é o corpo estendido no chão, é o tempo que estão a permanecer nesses pequenos cenários de guerra. São cartas pequenas, mas fazem parte de uma grande mesa, com jogadores muito ricos. Aos fracos, sobram migalhas e o pó dos mortos de cada dia.
Esta semana, a foto era de um valente soldado eslavo, retratado da cintura para baixo, pois a parte de cima não estava mais em condições de guerra, muito menos de fotografia para a guerra. Até quando ficará por alí? Ninguém sabe ou muito menos arrisca palpite. O corpo do soldado eslavo ficará estendido. Até porque as escaramuças da contraofensiva voltaram esta semana.
Começam com Vladimir Putin, presidente da Rússia, a anunciar armas nucleares na Bielorússia. Depois disso, Volodimyr Zelensky confirma a regionalização do grupo armado europeu, de forma a mobilizar parcelas de 300 mil soldados em cada região. A ideia é de Jens Stoltenberg, que está pedindo novo mandato de secretário-geral da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan).
Vamos ao balanço dos votos: o grupo mais próximo dos Estados Unidos, da União Europeia e parcela da Otan estimula as ideias de Stoltenberg. O outro, tem reservas quanto ao secretário e as ideias dele. São países mais próximos da extinta União Soviética e que não querem perder vínculos históricos. Muitos desses países ainda têm algum negócio com a Rússia. Isso provoca dependências e lembra que, agora, não convém confrontos diretos com Putin. Mesmo com a recente promessa da União Europeia de mandar em seguida 1 bilhão de euros em armas para a Ucrânia.
A Otan quer fazer a Ucrânia entrar a qualquer preço na organização. Acontece que há votos contrários e os avanços dessa semana podem ser mais lentos do que quer a direção da organização. Putin e seus conselheiros de Defesa fazem relatórios dizendo que a contraofensiva é um “falhanço”, que, há duas semanas, os ucranianos não conseguem qualquer resultado bélico positivo. Zelensky nega e diz que estão a dar uma coça nos russos.
As promessas que tem recebido nos últimos dias dá injeções de ânimo e de coragem aos soldados da Ucrânia ou a serviço de Kiev. Mas isso não basta para ganhar de verdade uma guerra dessas proporções. Kiev pede mais armas, mais dinheiro para comprar o que puder, pois está querendo botar algum nas algibeiras e voltar ao jogo mais forrada. Na China, o norte-americano Anthony Blinken deu a entender que a guerra vai durar, e só eles podem ajudar.
O CORREIO SABE PORQUE VIU
Estava lá. Consta que o capitalista Henry Ford e o comunista Vladimir Lenin, tiveram mútua admiração. Dizem os historiadores antibolcheviques que as relações só tendiam a crescer, quando Lenin sofreu um atentado e, em seguida, um AVC, o que tirou-lhe boa parte de suas faculdades intelectuais. Lastimável.
Lenin idealizara a Nova Política Econômica, o que era um grande projeto, derrubado depois no caminho pelos burocratas bolcheviques. Os burocratas ficaram e assumiram o processo. Só Gorby tentou chegar lá. E não conseguiu pelo velhos esquemas de boicote dos burocratas. A tentativa de golpe em Mikhail Segueievich não foi em frente: metade da camarilha dirigente não aderiu totalmente. A outra metade estava bêbada, sem condições de falar.
Os americanos apoiaram Gorby, depois Ieltsin. Mas, à frente, tudo deu errado e, mais uma vez, a melhoria da capacidade produtiva ficaria nas armas, nos supersônicos caças, nos armamentos leves. Por mais uma vez as propostas do capitalismo ficaram no caminho. A bola está com outro Vladimir, o Putin, que pede urgências na fabricação de explosivos, tanques e outros brinquedos que saem das fábricas na Sibéria. O ministro russo da Defesa, Sergei Shoigu, pediu urgência e novas armas. Henry Ford é só mais um retrato na parede.