Artigo: Diabólico passeio em domínios do Kremlin

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Por LUIZ RECENA GRASSI, de Portugal

O Diabo passeou por Moscou e fez muitas travessuras, grandes e variadas estripulias, mais do que nos livros russos, dizem os que viram, souberam, deixaram registros por escrito. A época não permitia outra forma. Comentaram mesmo que o capeta ficou à solta no país dos sovietes.

O tempo era esse, entre uma Grande Guerra e outra. O ditador dos bigodes mandava e deixava de mandar quando bem quisesse. A Guerra Patriótica tinha terminado, o caos reinava no dia-a-dia da capital. Belzebu aproveitou a situação e aprontou o que pode e sabe fazer. De dinheiro estrangeiro proibido a baile mais do que incrementado, passando por incêndios, desaparecimentos e reaparecimentos de gente.

Soldados voltavam do front e o primeiro desfile da vitória entrou na lista de datas inesquecíveis. Garbosos peitos luziram medalhas brilhantes, muitas, reluzentes. Os mais jovens se perguntavam para que? Para quase nada.

Anos depois, o Diabo russo passou longe, no Afeganistão. Poucas vitórias, novos desfiles e novas medalhas reluzentes. A conversa dos mais jovens: para que? Para nada! E reapareceu o Sete Léguas. Na fronteira do que antes era doméstico e mudou a condição. Luta-se no mar Negro e do Báltico chegam inúmeros sinais hostis.

Ainda há poucas medalhas, e russos estão uns dias a apanhar para valer. Perdem parte do conquistado, tocam os clarins da retirada, ainda que menor e sempre passível de recuperação. Os jovens vão para as ruas das grandes cidades e outros não podem, ocupados que estão com convocações e treinos para os combates futuros.

Teóricos europeus dizem que a situação estaria estabilizada no empate. Os novos soldados excedem a 200 mil. Receberam armamento novo para combater uma Ucrânia em fase de contraofensiva e cheia de armas novas ou nem tanto, fornecidas por Estados Unidos, Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan), União Europeia (UE).

Sanções contra a Rússia seguem e entraram na oitava versão. Vai ter teto, compras de gás em conjunto. Uns informam não acompanhar ordem da UE. Há farto dinheiro para pagar comprovada presença mercenária de muitos mundos, notadamente norte-americanos e europeus. A Otan entra na dança até o limite: apoio, treino e armas a seus membros. O inverno não chegou, vem forte, com vento, chuva e neve. Macron foge do gasoduto novo, ibérico. Mercenários de um lado; forte massa de jovens de outro. E as medalhas, da guerra quem leva? Para que? Nada!

O CORREIO SABE PORQUE VIU

Estava lá. Quando cheguei a Moscou, a moda eram anedotas da CIA. E o camarada Popov, o exemplo. Membro do comitê de bairro. Foi perguntado por superior: Popov, por que não foi à última reunião do partido? Resposta: e era a última? Por que não me avisaram? Conheceu boa parte da Sibéria.

Repúblicas Bálticas às turras com a URSS e a Lituânia, sempre mais belicosa, foi ao Kremlin conversar com a comadre, pedir seis dias de independência. Não ganhou quase nada, barganhou até receber seis minutos. Voltou ao Báltico e zero notícia. Até a URSS chamar e perguntar o que a outra fez com seis minutos. Simples, disse a finória de Vilnius. Nos primeiros três, declarei guerra à Finlândia, na segunda parte, me rendi.

Outros tempos, quando todos dividiam pão preto, mortadela e pepino salgado, Vilnius era A Jerusalém do Báltico; com escola e biblioteca, jóias da cultura judaica. Eles comeram o gefilte fish tradicional judeu que o Capeta cozinhou, encararam o tzarismo sanguinário, deram aliança aos soviéticos. Perderam gente, patrimônio literário. Resistiram. Há livros hoje em New York, Israel, Itália, até Alemanha. “Os Homens que Salvavam Livros”, de David Fishman, é pequena história do convívio humano possível.

Vicente Nunes