Artigo: Balas, papéis e outros vazamentos

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Por LUIZ RECENA GRASSI, de Portugal

Sem essa aranha. Sem essa, aranha! Teve festa no debate do fim de semana, e a cultura popular sempre avança. Um especialista internacional disse que, primeiro, derruba-se a casa, depois, fecha-se a porta. O equivalente ao após é adultério em que se manda prender o funcionário da casa. Tudo porque a divulgação de papéis ultrassecretos do governo norte-americano causou, e continua a causar, estragos na Defesa dos Estados Unidos. Não dá mais para varrer o lixo para debaixo do tapete. Mas deu para que, aos 21 anos, Jack Teixeira liderasse vazamentos que podem chegar a umas 300 páginas.

Entre maior e menor grau de periculosidade, todas têm alguma coisa para revelar. Jack já está no xilindró. Segurança máxima, afinal, servia no setor aéreo especial. E os yanques levaram mais uma rasteira. Joe Biden fosse talvez apenas soldado quando o jovem líder egípcio Gamal Nasser, aliado a milhares de assessores soviéticos, puxou o tapete de ingleses, franceses e israelenses (dois mil, segundo aliados de Nasser; cinco mil para o atuais aliados). Era o canal de Suez e os EUA apoiavam os ocidentais de olho no petróleo árabe.

O Egito inaugurou, sob a batuta do coronel Nasser, uma era de riqueza, segurança e tecnologia no que era um país calmo e dentro dos cânones da região, de atraso, fome e miséria. Até hoje, o país é forte e grato a soviéticos e russos, a quem teriam facilitado armas e munições, denunciaram os vazamentos de Jack Teixeira. E os yanques levaram mais uma rasteira. Todos, principalmente os “aliados”, estão de boca aberta. Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan), Estados Unidos e os primos pobres da Ucrânia não sabem o que fazer.

Atiraram para todos os lado, sobrou até para o secretário Antonio Guterres, das Organização das Nações Unidas (ONU) somente preocupado em renovar o acordo de trânsito dos cereais na região. Criticou ucranianos, elogiou a dedicação turca, lamentou discretamente a postura dos norte-americanos, pela intransigência. Biden não quis saber e bateu na ONU. Mas teve de admitir que o tema não é uma invenção russa. Estes, frios como sempre, já começaram faturar.

A Otan teve de admitir a presença de tropas estrangeiras. O polacos pediram mais armas aos ucranianos via Estados Unidos. Os alemães querem que a Polônia compre, pague e um dia entregue aviões MIG-29 à Ucrânia. Na frente interna, Bakhmut está praticamente 80% em mãos russas. Ou das tropas ou sob o domínio do grupo Wagner. Para quem prometeu uma contraofensiva já, os planos não estão a sair como Volodimir Zelenski imaginou. Novas armas não estarão tão rápido à disposição da Ucrânia.

A mão boba germânica insiste em empurrar a Polônia para o negócio. Mesmo que muitos queiram, vender cinco Migs-29 assim rapidinho não é um dominó infantil. Vai precisar muito dinheiro, tempo e gente. O primeiro ingrediente é o menos difícil, embora provoque a desconfiança sobre os aliados mais importantes. A Primavera-Verão é mais do que uma estação de praias. Há chuvas, pedras, naufrágios, afogamentos. Principalmente afogamentos nos mares da desilusão.

O CORREIO SABE PORQUE VIU

Estava lá. A maioria dos ocidentais dizia que, ao menos, cada correspondente em Moscou tinha dois “anjos da guarda” a protegê-los. E tirar ou trocar informações. Consta que o Correio tinha um casal: ele, um burocrata; ela, uma técnica em economia, morena de olhos claros, com muita moeda de troca. Super bonita. Ele não foi longe, ela estava a fazer carreira quando a URSS acabou. Quando isso ocorreu, ninguém levou muita coisa.

Só a obediência aos russos e um favorzinho aqui, outro ali, para enfrentar as agruras de uma grande derrota do Aparatchik, apelido do vasto, capilar e monolítico aparelho do Estado. Perderam os empregos, mas não a vontade de manter a alegria e fazer festas, de preferêcia pequena e com a presença de amigos estrangeiros. Sempre generosos. Não há registros de vazamentos de papéis ou troca de informações valiosas. O mundo seguiu seus destinos.

Vicente Nunes