Por LUIZ RECENA GRASSI
Novos 18 bilhões de euros autorizados pelo G-7 para Bruxelas gerir e repassar a Ucrânia, no ano que vem. Falta detalhe aqui, trâmites lá, tudo para que o dinheiro saia mais rápido e chegue às frentes de guerra de Zelenski, a roer unhas com a demora de aliados europeus e americanos. É verba para comprar armas e pagar e treinar soldados e mercenários. Dinheiro, portanto, que tem cheiro de pólvora. De variadas origens.
Há um segundo pacote de origem só europeia e em menor volume: pouco mais de 1 bilhão de euros. Fontes dizem que é para comprar alimentos e pagar energia elétrica. Críticos não acreditam. A Ucrânia recebe comida doada por países da União Europeia via organizações humanitárias e ONGs.
Sobre eletricidade, nada claro, os ucranianos ainda não conseguiram organizar o caos em que estão nesse item desde antes da chegada do frio bravo. Com o inverno instalado só piorou. Dinheiro, então, que igualmente cheira à pólvora e acabará no mercado de armas.
Os bombardeios seguem de parte a parte e ninguém aborda o tema “paz”. Voz solitária, o turco Ossip Erdogam diz que é possível pelo menos um cessar-fogo. Ruído e canhões abafam a proposta turca. Nada por agora. Está a chegar dinheiro e os que sabem estratégia fazem debates incansáveis, prolixos. Poucos resultados comuns: a supremacia dos soldados russos; idem para o armamento.
Russos seguem os bombardeios e dizem ter imobilizado a logística de armas do adversário. Ucranianos admitiram que há o dobro de homens e armas russos aquecendo para entrar em Kiev. As baterias “Patriot” não chegarão tão cedo, se chegarem, não devem entrar em operação com menos de três meses. Mais um complicador: além de caros, eles não têm quem os opere. Terão de vir soldados americanos, ingleses, alemães, internacionalizando a guerra.
Os yanques anunciaram mais treinamento para os soldados ucranianos. Já treinaram quatro mil desde o começo da conflito. Querem ver se eles aprendem e também ficar de olho no rico dinheirinho que puseram e ainda vão botar lá. Tudo o que a OTAN quer. Nada do que querem os outros, mais sóbrios. E a Ucrânia apanha. Dois generais em comando avisam que os russos estão chegando ainda mais e podem fazer a tão temida Grande Escalada. Agora, no Reveillon, em janeiro. Não apostam.
A União Europeia ainda conseguiu aprovar o nono pacote de restrições contra a Rússia. Com o detalhe de permitir a continuidade do comércio de cereais e fertilizantes. Ponto para a Rússia. Os pacotes ajudam o mercado negro. Cessar fogo? Não! Nem Natal nem ano-novo. Palavras do governo ucraniano. Os russos concordam.
O CORREIO SABE PORQUE VIU
Estava lá. Eram os últimos dias de um quente julho quando cheguei a Moscou. Sempre rápido, agosto voou e passou. Ainda tonto por tanta informação, o grupo de recém chegados correspondentes conversava na esquina da agência TASS com o Bulevard Tverskoi, coração da capital. Chegou um veterano de Cuba feliz porque ia embora depois de dez anos “a sofrer” segundo disse.
As perguntas choveram. Ao final, deu-nos três dicas: 1) Moscou não acredita em lágrimas, sejam duros; 2) A las rusitas les encanta um “sablazo” e 3) Marquem tudo o que puderem ainda no calor, pois quando chegar o frio vocês só verão os olhos delas; e o resto será sempre debaixo de muita roupa. Uma grande loteria.
Das lágrimas às roupas muita história foi contada. Sobrou o sablazo, a vagar em busca de verdadeira tradução até hoje. O dialeto cubano é sempre “muy difícil, chico”. Todas as versões, reunidas, não deram para uma tradução definitiva. E nosso mestre, dados os conselhos, dois dias depois partiu para Havana e nunca mais se soube dele.